Capítulo 64

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O sinal finalmente toca e começo a recolher minhas coisas com pressa, odeio ser o último a sair da sala!
- sabe Andrew, você poderia ser um dos melhores alunos dessa escola mas acho que o dinheiro dos seus pais mexeu demais com a sua cabeça. Seu cérebro diminui de acordo com o aumento da sua conta bancária.
Uma risada irônica escapa da minha antes mesmo que eu consiga chegar até a porta. Me viro para o Sr.Smith e o encaro do jeito mais prepotente que consigo.
Vamos pegar aonde mais dói!
- acha mesmo que sua opinião vai mudar alguma coisa na minha vida? O senhor já se olhou no espelho hoje? Já percebeu que tem cinquenta e tantos anos e ainda está aí, sozinho. - ajeito a mochila nas costas, percebendo que sua feição mudou drasticamente. - falar que o dinheiro dos meus pais  influenciou no meu intelecto é tão baixo quanto se eu dissese que o senhor é um professor fracassado, um solteirão de meia idade que acha que tem o direito de olhar descaradamente para meninas que tem idade para ser suas filhas, se nao suas netas. De alguma forma o senhor colocou nessa sua cabecinha não evoluída que elas teriam algum interesse por uma barriga enorme e falta de cabelos.
Observo seu pomo de Adão se mover devagar, como se a saliva estivesse custando a descer pela garganta.
- só entenda uma coisa Sr. Smith, o dinheiro dos meus pais não vai influenciar em quem eu sou e não é você e nem ninguém que vai me rotular por conta disso. Passe a cuidar mais da sua vida e deixe as garotas em paz, ou aí sim vou usar a influência que meu nome carrega para garantir que nunca mais você chegue perto de uma escola. Tenha um bom dia.
Antes mesmo que ele possa responder dou meia volta e saio da sala, deixando o Sr. Smith pensar em manter sua língua quieta dentro da boca e os olhos focados na lousa ao invés de tentar cuidar da vida dos outros.

"

O treino acabou mais rápido do que eu pude notar, logo estamos todos nós trocando no vestiário rindo de coisas idiotas até o momento que o velho Martin entra pela porta.
- ouçam garotos, soube que nosso próximo adversário acabou de quebrar pelo menos mais três ossos de dois jogadores no último jogo. - ele parece preocupado, talvez até um pouco inseguro com suas palavras. - quero que tomem cuidado com esses idiotas, não deem abertura para nenhum tipo de lance perigoso e muito menos cedam as provocações. Sabemos que eles vão  fazer o necessário para garantir a vitória e eu odiaria ver vocês machucados.
- ninguem está punindo esses desgraçados por isso? - pergunto alto, fechando a porta do armário após pegar minha camiseta e a jogar em cima do ombro esquerdo. - podem simplesmente chegar na quadra e ferrar os ossos de todo mundo que a porra da diretoria da liga não se importa?
- desconfiamos que o técnico do time tem contatos importantes dentro da liga Grayson, isso está garantindo que eles continuem essa palhaçada sem levar as devidas punições.
Solto uma risada fraca, recebendo olhares diretos dos garotos e percebendo que meu time já entendeu o que devemos fazer nessa quinta feira.
- se a liga quer fechar os olhos e passar o pano pra essa gente, tudo bem! Eles que fiquem a vontade para se esconder de baixo da saia do concelho, mas não espere que vamos aceitar que aqueles idiotas mandem um de nós para o hospital. 
- se machucarem a gente, vamos machucar eles tambem. - Daniel completa minha frase, cruzando os braços e encarando o velho Martin com os olhos tão frios quanto o gelo.
- os olheiros vão estar na plateia Carter, não quero ver vocês perdendo boas oportunidades por conta de um jogo.
Ele realmente parece preocupado com isso, ainda mais sabendo o gênio ruim que compartilhamos, ele sabe melhor do que ninguém dentro desse prédio que vamos passar por cima de qualquer um que ameace um Lion. Alguns de nós realmente precisam da bolsa universitária que o basquete pode proporcionar e Martin sabe disso, todos nós sabemos das necessidades um do outro e por isso, jogamos com toda a garra possível. Para não só garantir o nosso futuro, mas garantir que aqueles que realmente precisam vão ter a chance que merecem.
- bom, daremos um jeito nisso Martin.
Meu time apenas continua encarando o treinador, tomando para si as dores do velho homem a nossa frente.
Observo seus ombros darem uma relaxada, a tensão em suas costas diminuindo em meio ao silêncio predominante dentro do vestiário.
- não vamos passar dos limites Martin, mas não posso deixar meu time apanhar e ficar calado. Seremos discretos caso precise revisar alguma agressão.
Ele aperta os lábios, os forçando um contra o outro antes de concordar com a cabeça e sair do local. Respiro fundo, sabendo que todos os olhos ali presentes agora estão em mim.
É nessas horas que eu preciso dizer as palavras certas.
E isso me assusta pra caralho.
- sabem que eu odeio tanto quanto vocês estar no meio dessa situação de merda e ainda sim não fazer o que é necessário para garantir que Martin não se decepcione conosco. Aquele homem dedica mais tempo do dia dele a nós do que a sua própria vida e ele acredita que podemos ser melhores, ele acredita que não precisamos nos rebaixar aos Monkeys para vencer esse jogo, mas ainda sim Martin está preocupado com as possíveis consequências de que a sujeira que eles jogam para baixo do tapete respingue em nós. Somos os melhores da temporada,  já ganhamos tantos prêmios que nem cabem mais na parede e nunca precisamos fazer nada além do básico: jogar em equipe. Não vamos deixar aqueles malditos em pune ao não revidar a violência dentro da quadra, vamos deixá-los perdidos ao ponto de não conseguirem entender as nossas jogadas, nossos movimentos.
- como vamos fazer isso? - quase que um ponto de interrogação aparece na testa de Jason, a duvida estampada em sua cara.
- vamos fazer com que eles enxerguem o alvo nas costas uns dos outros, quero ver eles mordendo o próprio rabo. Se tudo der certo, teremos desavenças o suficiente para marcar quantos pontos conseguir e ganhar isso de uma vez por todas. Empurrões e pisadas no pé acontecem, não vou julgar vocês por fazer esse tipo de coisa lá na quadra. Só não deixem parece que foi intencional. Combinado?
Todos concordam com gritos altos enquanto tocam as mãos, fechando nosso acordo e garantindo que ele fique em sigilo. Durante muito tempo eu julguei Martin por ser duro demais conosco nos treinos, por nos deixar esgotados a cada tarde que passávamos com ele e saímos não querendo voltar no dia seguinte. Mas agora eu o entendo, pude enxergar que tudo fazia parte de um plano para nos fazer ser quem somos hoje : o líder do campeonato estadual.  Por meses trabalhamos nossas habilidades em conjunto, conhecemos mais um do outro para então ter em mente os pontos fortes e fracos da nossa equipe.
E no final das contas o velho tinha razão: em algum momento o destino testaria a minha capacidade de liderar da forma mais inesperada possível e eu teria que me colocar no lugar de todos nós.
Bom, esse dia chegou e sinceramente... acho que sou melhor nisso do que jamais pensei ser.

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