Capítulo 14

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Do fundo da sala tenho a visão privilegiada de cada centímetro do corpo dela, de cada vez que a mesma para de escrever e olha para o quadro negro antes de colocar a ponta da tampa da caneta entre os dentes. Os cabelos presos por um lápis no topo da cabeça deixam a nuca clara e os poucos fios soltos a mostra, o belo pescoço que um dia eu já tive o prazer de beijar.
- Mr. Grayson, hören Sie auf, Ihren Kollegen anzustarren, und kopieren Sie die Lektion von der Tafel. (Sr. Grayson, pare de encarar sua colega e copie a lição do quadro-negro). - a voz da senhorita Fischer me faz tirar os olhos da ruiva e lentamente, me direcionar a ela.
Os lábios cobertos por um batom escuro não mostram a seriedade na qual ela se dirigiu a mim, um fato estranho vindo de sua parte já que a mesma é uma professora.
- confesso que não entendi uma palavra, mas peço desculpas.
- isso já é o suficiente Senhor Grayson, agora copie a lição ou ficará depois da aula.
Duvido que você não esteja louca para isso acontecer desde que colocou os olhos em mim.
Minha sobrancelha direita se arqueia, sorrindo ligeiramente antes de coçar a ponta do meu nariz e abrir o caderno. Sinceramente, alemão nunca foi uma das minhas matérias preferidas, mas como francês e pintura e história da arte são aulas extracurriculares bem vistas pelos meus pais, aqui estou eu. A cada vez que o giz encosta e desliza pelo quadro negro meu cérebro parece se recusar a forçar minha mão a escrever, os olhos focados nos cabelos vermelhos alaranjados a quatro carteiras de mim.
Como um lobo a espreita de sua presa continuo fuzilando as costas da garota, não só por eu a querer mais do que tudo, mas por ela estar a porra de um presente dado pelo maldito do meu irmão.
Quando ele deu isso a ela ?
As perguntas surgem, as respostas evaporam e todo o meu estômago se revira ao imaginar que ela pode ter ganhado isso antes do nosso " termino ". Será que ela quebrou a promessa que me fez ?
Se quebrou eu não sei, mas creio que com a minha irritante insistência ela vai me ouvir, vai se abrir e vai me xingar até nossos lábios implorarem um pelo outro, até nossos corpos queimarem de desejo e toda essa maldita confusão ser resolvida da melhor maneira possível.

Com nós dois deitados um em cima do outro dando um foda se para todo o resto.

Os ponteiros do relógio são tão lentos quanto a maneira dos nerds em babar pela senhorita Fischer e suas saias justas, a cara de otário de Otis a cada movimento da professora me dá vontade de vomitar. Ele está babando nela a tanto tempo que me admira ainda não ter levado bomba de propósito para ter aulas particulares após o horário. Acho que nem mesmo pensou nessa possibilidade, se não já teria colocado seu plano em prática.
O sinal toca estridente, a turma se levanta e antes mesmo da senhorita Fischer dizer algo metade deles já está fora da sala. Corro para recolher meu material, ancioso para alcançar Mia e tentar consertar a merda que fiz.
- hey Mia.
Desvio das carteiras enquanto tento andar rápido, pagueijando baixo ao notar que ela está tendo ir rápido para sair logo.
- ruiva, por favor.
Mia larga a mochila sobre a mesa, se virando com os olhos fechados e só os abrindo para me olhar fixamente. A falta dos óculos me deixa na dúvida se ela está usando lentes de contato, mas o que me deixa mais intrigado é não ver o brilho em seus olhos.
- Andrew, o que você quer ? - dessa vez sua voz sai baixa, quase suplicando para eu a deixar ir embora.
Mas você não vai embora Mia, não antes de conversarmos de uma vez.
- eu quero conversar Mia. - ela balança a cabeça para o lado, fechando os olhos por longos segundos antes de voltar a me encarar.
- eu não sei se devo te escutar ... - o brilhos das lágrimas começam a aparecer e meu coração se aperta. - não sei se quero me machucar mais com as suas palavras vazias.
- eu nunca te disse palavras vazias ruiva, nunca.
- então por que me traiu ? - e ali está ela, a lágrima solitária escorrendo por sua bochecha direita.
- eu não te trai ruiva. - com cuidado e com medo que ela recue novamente ao meu toque, estico o braço e levo uma das mãos até seu rosto.
A gota é interceptada pelas costas do meu polegar e um raio de alegria me atingi ao exato momento em que toco sua pele.
Tão macia quanto eu me lembrava.
- eu vi Andrew, vi os lábios de vocês dois se encontrando como se estivessem com saudade um do outro.- o choro contido está deixando seu timbre mais fraco, o lábio inferior preso no meio dos dentes.
- você viu aquela maluca me beijando, não eu retribuindo.
- Andrew ... Eu acreditei em você quando recebi aquela foto, acha que eu iria ser tão cega ao ponto de não ligar os pontos e saber que você nunca a deixou de verdade ? Que tudo não passou de uma mentira !
Ah não ruiva !!
Meu peito se enche de ar e meus pulmões se recusam a soltar o mesmo, meu cérebro está travado e sinceramente, eu me sinto insultado. As lágrimas começam a sair consecutivamente, molhando o rosto daquela que me tem na palma da mão.
Como ela pode pensar isso ?
Depois de tudo ?
- não Mia, você não está insinuando que eu vinha te enganando esse tempo todo ? Não pode ! Eu nunca faria isso droga, eu amo você !
- não torne isso mais difícil Andrew, pode sentir orgulho de si mesmo agora, você conseguiu provar que a sua fama tem fundamento. Andrew Grayson consegue tudo o que quer, mesmo que passe por cima dos outros para fazer isso.
Tento segurar em suas mãos, fazê-la se lembrar do quanto precisamos do toque um do outro, mas para a minha infelicidade, ela recua, apanhando a mochila com pressa e saindo da sala como um furacão.
Inferno !
Tomado pela tristeza e pela raiva deixo o ar preso escapar, sentindo uma pressão horrível na cabeça.
Sam precisa me ajudar a tirar isso da cabeça dela !
E logo !!!

- hey Grayson, se mantenha focado no jogo ! - a voz do senhor Martin se torna mais irritante a cada segundo.
- eu já entendi, merda ! - grito de volta, jogando a bola por cima da cabeça de Jason e acertando a cesta.
- não, você não entendeu ou não estaria fodendo com a merda do treino ! - solto um grunido de raiva, a adrenalina e a minha danação aumenta.
Cansado de toda essa porra corro para pegar a bola e faço de tudo para acertar boas cestas, derrubando alguns dos caras de colete azul e me sentindo ainda mais nervoso quando Kevin decide tentar roubar a bola de mim. A saliva desce seca quando o babaca acerta meu maxilar com o cotovelo, arrancando um sorriso maldoso da minha parte antes de ir para cima dele e tomar sua bola de uma forma não tão gentil, o deixando cair como um saco de esterco no chão.
- mas que porra Andrew ! Foi sem querer cara ! - os olhos dele me fitam com raiva.
- sem querer vai ser quando eu quebrar essa merda que você chama de rosto, nunca mais toque em mim desse jeito. - ofereço minha mão para ele se levantar, não querendo foder a relação com os caras do time.
Esse tipo de coisa não é bom durante os jogos.
Manter a harmonia entre os caras é a minha função, não expulsar Daniel foram um dos sapos que eu tive de engolir para manter meu time completo e não levantar suspeitas do que aconteceu.
- vamos, o treino ainda não acabou.

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