Capítulo 43

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Mal empurro as portas da saída e já tenho vontade de dar meia volta, Raven está escorada em meu carro com suas amigas em volta, rindo alto e totalmente despreocupada com a minha reação. Rolo os olhos violentamente, sentindo uma pequena pontada de dor atrás dos olhos.
- não sabia que meu carro virou algum tipo de ponto de encontro agora ! - digo ao cruzar os braços.
Raven apenas faz um sinal com a mão esquerda para que as outras saiam, dando um passo a frente.
- antigamente você costumava ser mais receptivo Andrew, o que aconteceu ?
- uma sujeira que grudou no meu sapato e não quer sair.
Ver seu sorriso morrer é impagável, mas com certeza isso vai não ser o suficiente para fazê-la se afastar. Parar de vez com essa perseguição maldita.
- sabe que quanto mais você insistir em me ignorar, mais aquela ruiva sem graça vai sofrer. Não sabe ?
Sorrio sínico, me aproximando dela com os braços cruzados. Vendo seus olhos piscarem rápido demais para quem estava tão segura sobre o que estava falando e fazendo.
- eu já estou ficando farto dessa merda. - fico sério, sentindo sua respiração ficar desenfreada. - pare de ser louca e nos deixe em paz.
- nunca. - o sussurro é quase inaudível.
- sai da minha frente.
Ela da um passo para o lado e eu entro no meu carro, fechando os vidros antes que essa louca devida fazer algum escândalo. Coço a sobrancelha esquerda, pensando em como tirar essa garota do meu pé e deixá-la longe da ruiva enquanto saio das dependências da escola. Balanço a cabeça para os lados, finalmente imaginando o que Mia pode ter feito naquela tela.

" "

- olha, não sei se é uma boa ideia pagar tanto por um lugar desvalorizado. - estranho o fato de uma área como aquela estar com um valor tão estimado.
- eu também acho, mas é isso que está constando nas planilhas e no contrato de venda.
Ela me estende a pasta transparente aberta, apontando com o dedo indicador o valor em que a venda foi fechada. Os números grifados pela cor amarela são totalmente absurdos, eu diria que muito mais do que metade do que a área realmente vale.
- quantas vezes você revisou isso ? - foco nas últimas linhas do contrato, encontrando algo curioso.
Uma das últimas cláusulas inseridas pelo advogado do vendedor pede um aumento de dois terços do total bruto da compra para efetuar a transferência da documentação o mais rápido possível.
- três vezes Andrew.
- e como você deixou passar que o vendedor está pedindo dinheiro a mais para fazer a transferência dos documentos ?
Charlotte para, apanhando a cópia do contato em sua agenda e estreitando os olhos ao procurar a cláusula. Pelo seu suspiro pesado já sei que ela não se atentou a ler o parágrafo todo, o que pode ser ruim para alguém que está tão acostumada com esse tipo de trabalho.
- eu ... Eu não prestei atenção nessa parte. Sinto muito. - ela meche na armação do óculos, constrangida por ter deixado algo passar.
- só mande isso de volta para a contabilidade e peça uma análise, quero o valor certo impresso nesse contrato até a reunião das quatro.
Ela apenas confirma com a cabeça, prensando a agenda contra o peito antes de pegar a pasta em minha mesa e se colocar a caminho da saída.
- hey Charlotte. - ela para com a mão na maçaneta, os olhos tímidos. - fica tranquila, eu não vou contar para ninguém, erros acontecem.
Ela sorri sem mostrar os dentes antes de sair silenciosamente e fechar a porta, giro a cadeira em direção a grande janela de vidro afim de observar o pôr do sol. Tons alaranjados brincam no céu e me lembram das tonalidades da minha tela, o sol já quase sumindo em meio as nuvens.
Mais um dia esta se passando e nada se resolveu.
Mordo meu lábio inferior, fechando os punhos ao me lembrar das informações daquele dossiê e ainda não conseguindo associar tudo isso a um interesse repentino pela ruiva. Além de estranho é perturbador.
- senhor Grayson.
Me viro rápido, analisando a expressão confusa na face de Lilian e seus cabelos loiros.
- sim ?
- preciso da sua assinatura nesses documentos.
- claro.
Pego os papéis de suas mãos, assinando sempre após ler uma boa parte dos contratos. Novas aquisições, vendas e comprovantes de pagamento.
- Anthony ou meu pai não poderiam ter feito isso ?
- seu irmão não veio hoje e seu pai está em reunião, na falta deles o senhor quem deve assinar.
Entrego os documentos para ela, guardando a caneta no bolso do paletó.
- tudo bem, mais alguma coisa ?
- não, era só isso. Obrigada.
E então, ela sai tão depressa quanto entrou. Apanho meu celular em cima da mesa, o enfiando dentro do bolso e deixando a cadeira de couro. O andar está um pouco deserto, as reuniões causam esse efeito em dias como esse e sinceramente, eu prefiro ambientes assim. Vazios.
O único barulho que escuto é o decorrente do contato dos meus sapatos com o piso de mármore, enfio as mãos nos bolsos da calça social ao mesmo tempo que caminho até a segunda sala de vídeo conferência, rezando para que a mesma esteja vazia. Assim que meus dedos tocam a maçaneta gélida um arrepio fervoroso corre meu corpo, uma sensação ruim me cobre o peito e eu simplesmente entro de uma vez. A sala está absolutamente clara, as luzes acesas não deixam com que a escuridão sequer demonstre aparecer.
Sozinho enfim.
Dou alguns passos até um sofá vermelho próximo a janela de vidro, me jogando na maciez do tecido e fechando os olhos. Sentido as batidas do meu coração, uma a uma eu as conto.
Uma ...
Duas ...
Três ...
Quatro ...
Cinco ...
O ar escapa pelo o pequeno espaço entre meus lábios, não levando consigo minhas frustrações. Raven está me deixando preocupado, não por saber que seu estado emocional está desequilibrado mas por ainda sim, querer tanto me atingir através da ruiva. É loucura da minha parte pensar que uma simples conversa iria fazê-la mudar de idéia, definitivamente ela está fora de controle, na verdade, ela nunca esteve em total controle de si mesma. Desde a festa eu e Mia ainda não nos falamos e aquele beijo não sai da minha cabeça, molhar os lábios a cada cinco segundos não é o suficiente para matar a minha vontade de tê-la em meus braços. Eu poderia jurar que depois que ela comia morangos sua boca ficava mais corada, os olhos brilhantes e o coração batia mais rápido.
Ela conseguia me fazer reparar nós detalhes.
O toque do celular me tira dos meus pensamentos, o aparelho vibra firmemente no bolso interno do meu paletó. Estico a mão para pegá-lo, atendendo sem o mínimo de pressa e sem saber de quem se trata.

- alô ? - se passam alguns segundos e ninguém responde. - alô ?

A respiração de quem está do outro lado da linha é a única coisa que escuto, o modo de inspirar é pesado e a expiração um pouco mais lenta do que o normal. Seja quem for, está tentando se acalmar.

- alô ? - me levanto, intrigado com a aquarela que brinca no céu.

Será que é ela ? ...

- Mia

A chamada é encerrada e então, eu confirmo o que imaginava. Mia Collins acabou de me ligar e por mais que não tenha dito uma palavra, eu sei que era ela. Afasto o celular da orelha, sorrindo brevemente antes de devolvê-lo para o bolso do paletó e dar meia volta para sair da sala e voltar ao meu trabalho. Um pequeno traço de alegria surge em meu peito, um rastro de felicidade por ainda saber que ocupo seus pensamentos e o melhor de tudo : seu coração. Eu posso estar me iludindo, acreditando que nós temos volta enquanto os pais dela estiverem aqui mas eu sei, e como sei, que não importa o que aquela ruiva maravilhosa diga.
Nós sempre estaremos ligados um ao outro.
- senhor Grayson, eu estava te procurando. Aonde estava ? - Charlotte parece preocupada, até demais para o meu gosto.
- fui dar uma volta, ficar o dia todo no mesmo lugar é entediante. - respondo rápido, caminhando até a minha sala para retomar minhas atividades. - pelo menos para mim.
- já modifiquei o contrato como me pediu, mas não sei como o vendedor vai reagir a isso. - ela estende uma pasta preta para mim.
- ele nem ao menos vai notar, Robert está achando que vai assinar o que combinou com seu advogado e com o representante inexperiente da empresa, e eu garanto que vai tomar um susto quando finalmente se der ao trabalho de ler a cópia do contrato e ver quanto dinheiro deixou de ganhar.
- e se ele recorrer ? Houve um combinado Grayson, e no mundo dos negócios quando dois homens apertam suas mãos está feita uma promessa. - me sento em minha cadeira, deixando a pasta sobre a mesa.
- ele que recorra, não vai dar em nada.
- como tem tanta certeza disso ? - ela inclina a cabeça para o lado direito, procurando um sinal de dúvida em meu rosto.
- simples querida Charlotte, essa compra só será efetuada após a minha autorização e assinatura, duvido que esse tal de Robert consiga proposta maior do que e a nossa por aquele terreno. É pegar ou largar.

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