Capítulo 32

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Apanho um cabide, pendurando a jaqueta na frente das camisas e voltando a minha tarefa de arrumar minhas roupas. As palavras do senhor Collins ainda vagam em uma pequena parte da minha mente, o que causa uma impressão de que o general aposentado sabe muito bem o que fazer para se livrar do filho e de sua nora, talvez por isso ele esteja permitindo a aproximação do casal.
Ele pode ser velho, mas não é burro.
Meus pulmões se expandem com a entrada de ar, me fazendo ouvir um barulho de estralo vindo por parte da minha coluna cervical. Remexo os ombros, os músculos tensionados por conta do esforço excessivo na piscina.
- sábado de merda. - resmungo baixo.
Deixo o closet com uma camisa e calça nas mãos, visto a roupa e pego o celular, digitando uma mensagem rápida para a ruiva. Rezando mentalmente para que ela veja.

Preciso ver você, estou preocupado.
Posso ir até aí ?
Andrew.

Deixo o sobre a cama, calçando os tênis antes de ouvir o barulho de sua resposta.

Não estou em casa, me encontre na Bookstore V.
Ruiva.

O fato dela não estar em casa em plena tarde de sábado é estranho, não estar cercada pela segurança de seu quarto, de seus livros e do seu avô, não excluindo o pobre Charlie.
Como deve estar o bichinho ?

Você está sozinha ?
Andrew.

Em parte, sim. Só venha logo Andrew.
Ruiva.

Estaria aí em cinco minutos amor, e dessa vez nem seu pai poderá te tirar de perto de mim.

A fachada da livraria é bem chamativa, o preto da a visibilidade necessária que o nome Bookstore V e os desenhos de livros e cafés em branco precisam. Os detalhes em vermelho também chamam a atenção, os contornos dos xícaras de café em dourado também são curiosos.
As janelas de vidro me dão a visão de quase todo o interior da livraria, estantes de madeira estão em quase todas as paredes e o resto do espaço é ocupado por mesas de dois até quatro lugares, alguma puffs coloridos.
Um espaço perfeito para quem quer distância dos problemas do mundo.
Entro logo, empurrando a porta de vidro e engolindo seco ao notar que quase todas as pessoas se viraram para me olhar, não dura muito tempo mas foi o suficiente para me deixar envergonhado.
Será que eu fiz algum tipo de barulho ?
Em uma das mesas de dois lugares no canto de uma das janelas de vidro encontro Mia, inerte em uma leitura e em seus fones de ouvido. Caminho até ela, o coração quase pulando para fora do peito.
É assim todas as vezes que a vejo.
Puxo a cadeira, os olhos da ruiva passando a me encarar enquanto me sento e largo a chave do carro e o celular sobre a mesa. O silêncio continua, ela retira seja fones e fecha o livro, não marcando a página em que parou.
Será que ela estava mesmo lendo ?
- como você está ? - tento iniciar a conversa, um pouco receoso pelo olhar sem vida dela.
Seus lábios viram uma linha fina antes que ela possa finalmente demonstrar algo.
- um pouco perdida.
Assim como eu...
- eu posso te ajudar ? - estico a mão direita, tocando a ponta dos seus dedos para tentar manter o contato. - pode me pedir qualquer coisa.
- eu só queria que eles não estivessem aqui... - o sussurro dela quebra meu coração como um martelo quebra facilmente um espelho.
Dessa vez, agarro sua mão. O toque a fez erguer o queixo.
Sim, olhe nos meus olhos.
- meu pai está me cercando, invadindo meu espaço ...
- se quiser pode ir para o apartamento ruiva, você já tem a senha.
- sem meu avô na cidade eu não posso sair de casa Andrew.
Sem ter o que dizer volto a olhar para nossas mãos, notando que em algum momento nossos dedos se juntaram e agora estão entrelaçados. A conexão entre nós ainda é vivida, ainda pulsa forte dentro de nós e isso pode ser o que Mia precise para aguentar esse inferno.
- você pode ir até a minha casa, não é como se precisasse andar muito para chegar até lá. - brinco, recebendo um sorriso fraco.
Mas ainda sim, um sorriso.
- não sei se seria uma boa idéia ...
- e por que não ?
- eu sinto que não devo te envolver nessa história, não sei como ela pode terminar e tudo só fica pior ao notar que meu pai não tem limites. Ele vai fazer o que puder para ter o que quer Andrew, e eu não tenho como saber por cima de quem ele pode passar para conseguir isso.
O medo dela é evidente, medo que nenhum filho deve nutrir pelos pais. A raiva, tristeza, decepção, todos esses sentimentos momentâneos são compreensíveis. Mas o medo, o medo é diferente.
O medo estraga as coisas tão rápido quanto uma fruta podre em meio as saudáveis.
- eu não tenho medo do seu pai.
- você pode não ter medo dele, mas sei que teme por mim.
E assim ela consegue me deixar sem fala, acertando em cheio a preocupação que sinto por ela.
- não pode evitar de ficar preocupado Andrew, eu queria que pudesse ... Talvez fosse menos doloroso.
- eu não entendo, não entendo porque você não quer que eu me preocupe. - no fundo dos olhos dela a melancolia é clara, tão clara quanto a cor de suas íris.
O cinza azulado me deixando hipnotizado, os lábios naturalmente rosados.
- porque se você não se preocupasse comigo Andrew, não doeria tanto saber que não vamos voltar.
Imediatamente me inclino para trás, não acreditando no que ouvi e junto com essa ação nossos dedos se soltaram. Meu corpo todo fica tensionado, a pressão aumentando a dor que até agora estava esquecida em meu subconsciente.
- você não vai fazer isso ruiva com a gente ... - digo baixo, me controlando para não socar aquele maldito que ela chama de pai.
Esse filho da puta está estragando tudo !
- eu preciso Andrew, meu pai é louco o suficiente para andar com homens armados. - sua voz está chorosa, arrastada. - ele teve coragem de mandá-los atirar para cima para assustar você e os garotos, quem me garante que esse tiro possa ser para cima na próxima vez ?
- Mia, não importa o merda do pai faça ou diga. Nós não podemos ceder a isso. - uma lágrima escorre por sua bochecha direita enquanto ela estica uma das mãos até meu rosto.
Um carinho chega até meu maxilar, desenhando pequenas linhas em meu queixo antes de seguir para meus lábios.
- desculpe amor, mas eu não vou voltar atrás. Acabou Andrew.
Mia se levanta, retirando a mão fria de minha pele e agarrando a bolsa que estava pendurada na cadeira. Ela se vai tão rápido que nem menos percebi que perdi a respiração depois de suas últimas palavras.
Eu cheguei aqui na intenção de me manter próximo a ela, de me manter ligado ao seu coração e de ter a certeza de que o mesmo não estava tão quebradiço igual a noite a baile. E de fato, ele não está.
Não é mais o seu coração que precisa de atenção.
Acho que os papéis se inverteram.
Balanço a cabeça em negativa, deixando com que meus olhos se fechem e absorvam toda essa maldita situação.
- Andrew ? - abro os olhos, me deparando com Verônica e duas xícaras na mesa. - achei que Mia ainda estava aqui.
Acho que meu riso fraco denunciou minha posição, o olhar de pena e confusão dela entrega minha desilusão com o encontro.
- creio que Conrad já tenha conversado com você.
- já sim, mas eu não posso fazer o que ele pediu se ela me afastar. - me levanto, pegando o livro que ela deixou sobre a mesa.
- vocês ainda vão ter tempo para se acertar, só tenha esperança de que ela ainda te ama.
- nenhum amor se mantém vivo apenas por promessas Verônica.
Ela apenas me encara e eu aproveito a deixa para sair, levando o livro comigo ao passar pela porta e finalmente demostrar minha frustração ao entrar no Mercedes e socar o volante.
Respira Grayson.
Uma, duas, três vezes e nada. Eu não consigo pensar em alguma forma de não deixar isso me afetar mas é um pouco mais difícil do que eu imaginei.
Superar Mia Collins é quase um desafio impossível.

" "

- acabou Brandon, ela terminou tudo vez. - aliso o livro em minhas mãos, a capa escura não entrega o conteúdo e eu ainda não tive coragem de abrir.
- achei que vocês tão se acertando Andrew. - ele se senta ao meu lado.
- estávamos, até os pais dela aparecerem.
- e agora ? Você vai desistir ?
- está aí uma boa pergunta cara, mas eu não sei te responder.
Na verdade, eu adoraria saber como reagir as isso.
Tomo coragem e abro o livro, encontrando em sua caligrafia um tipo de mensagem.

Tudo o que eu queria era poder ficar com você em paz, ter tempo o suficiente para te abraçar e sentir seu cheiro.
Eu não posso te colocar no meio disso, não posso colocar mais alguém em risco por causa deles.
Eu te amo.

Porra ruiva !
Não faça isso comigo.

Collins Where stories live. Discover now