Capítulo 33

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- o tiro para o alto foi o motivo dela querer terminar tudo de uma vez, Mia está começando a entender de verdade quem eles são. - fecho a capa do livro, um gosto amargo presente em minha língua. 
- ainda não entendi como não chamaram a polícia naquele dia.
- caras como Benjamin tem os mesmos meios que meu pai para esconder certo tipo de coisa Brandon, claro que meu pai nunca teve que se envolver com armas ou algo do tipo, mas a única coisa que eu sei é que há pessoas desonestas em todos os cantos.
- e o que você vai fazer agora ? - ele leva o copo de suco até a boca, me encarando enquanto engole o líquido amarelo.
- não sei cara...

Finn me encara com os olhos cerrados, um sorriso idiota típico de quem está com a boca coçando para me fazer alguma pergunta enquanto limpa um dos copos.
- que merda você quer Finn ? Diga de uma vez. - suspiro pesado, pensando em como não ceder a minha vontade de quebrar alguém.
- só queria saber o motivo de você estar tomando suco ao invés de whisky. Ficou fraco para a bebida dos homens Grayson ?
- minha vida já está entediante o suficiente para que eu me sinta ofendido com isso Finn, pense o que quiser. - deixo o copo de lado, me lembrando de repente da garota ruiva da outra noite. - hey Finn, você me viu saindo acompanhado de alguma garota ruiva na última vez em que vim aqui ?
Ele ergue os olhos para cima, provavelmente tentando relembrar as cenas daquela noite de domingo.
- eu estava servindo um cliente na mesa do canto quando a vi perto de você, mas não cheguei a ver o rosto dela.
- aquela maldita me drogou...
- a mulher parecia mesmo ser uma diaba, só aqueles cabelos dela me deixaram louco.
Respiro profundamente, o pescoço um pouco dolorido por permanecer de cabeça baixa ao analisar o suco em meu copo.
- esses seus punhos são tão certeiros quanto aparentam Andrew ? - ergo o queixo, mordendo o lábio fortemente.
- se quiser posso te dar uma surra para comprovar isso, é só pedir.
- calminha Grayson - ele ergue os braços para cima em sinal de rendição. - só estou perguntando.
- não vejo um motivo para esse seu interesse repentino em saber se sou bom de briga. Abra o bico de uma vez e diga o que quer Finn.
- as vezes aparece umas brigas clandestinas por aí e eles costumam pagar bem para os vencedores. Você luta bem garoto, ganharíamos uma boa grana com isso.
- foi mal Finn, mas eu não estou morrendo de fome par sair na porrada com qualquer um por dinheiro. Já tenho minhas convicções formadas para ignorar esse tipo de convite.
- só estou te oferecendo uma saída para toda essa merda dentro da sua cabeça, se quiser tentar é só me procurar.
- creio que isso não vai acontecer.
Sinto muito Finn, mas vai ter que procurar outro galo de briga para o seu negócio secreto.

" "

Os lençóis estão gelados, tão gelados que eu me sinto desprotegido do frio da noite. A luz da Lua é a única coisa que me permite enxergar os móveis, as cores tão ... Escuras.
E eu me sinto incrivelmente bem com elas.
Sempre foi assim, não só com as roupas e móveis, mas também pelo fato de internamente, eu precisar da escuridão para ser forte. A dor presente em meu estômago ainda não é o suficiente para me acordar do transe, a falta de alimento pelas últimas sete horas pode ser a responsável por isso ... Mas eu simplesmente não consigo comer.
A minha falta de apetite não é por conta do fora que levei - mais uma vez  se for parar para contar -, acho que está relaciona ao fato de eu não conseguir pensar direito em uma forma de manter minha promessa longe dela.

Promessas vazias não valem.

O ar escapa dos meus pulmões antes mesmo que eles se encham rapidamente, o movimento dos meus dedos em cima do abdômen é quase que robótico.
Eu deveria tentar dormir.
Com raiva dos meus pensamentos arranco o lençol de cima das pernas, me levantando rápido e seguindo até o banheiro. A imagem no espelho é deplorável, os olhos verdes machados de marrom me deixam um pouco em dúvida de quem eu realmente vejo nesse reflexo. Meus cabelos estão em total desordem, os fios um pouco mais compridos que o normal me lembram de que já faz um tempo em que não vou ao barbeiro. Um pouco mais pálido que o normal, os lábios um pouco ressecados.
É Grayson ...
Você está um lixo !
Abro a torneira, enfiando as mãos debaixo da água gélida e molhando o rosto. A água em contato com a minha pele não serve para me despertar, a sensação de vazio ainda está aí, dominado cada pedaço da minha alma e acabando com todo o meu humor. Eu preciso de paz ! Preciso tirar tudo isso de mim.
Agradecendo por estar de calças saio às pressas do quarto, a confusão se instalando e se deliciando em minha mente, jogando suas incertezas para todos os lados. Quanto mais rápido eu ando, mas rápido meu coração bate, acompanhando meus movimentos em meio ao escuro até a academia. Acendo uma das luzes, indo até os pesos no chão e colocando vinte e cinco quilos de cada lado da barra. Fecho os olhos ao levantar os pesos, meus nervos sofrendo instantemente com a pressão repentina. A adrenalina sendo liberada em meu sangue.
- então é isso que você faz quando não consegue dormir ?
Não ! Não ! Não !
Me deixe em paz porra !
Abro os olhos, largando o peso no chão para encarar Anthony de frente.
- é isso que eu faço quando não aguento mais fingir que nada me atinge. - sorrio ironicamente, tomando um pouco da cara de pau dele para mim.
- acho que posso te ajudar maninho.
- como ?
- lute comigo, vamos ver se você ainda se lembra da última surra que levou.
Estralo os dedos das mãos, o sangue borbulhando em cada veia presente em meu corpo. A idéia de lutar com Anthony sem compromisso com o amanhã é tentadora demais para ser recusada.
- sem receios ? - estico a mão esquerda, analisando que seu traje se assemelha ao meu.
- sem receios pirralho. - assim que tocamos as mãos a luta começa.
Socos ainda não foram dados, muito menos chutes mas a luta braçal já está acontecendo e por Deus, como eu precisava disso. Anthony tenta me derrubar, usando um dos joelhos para impulsionar minhas pernas para o chão. Não, não Anthony ! Esse truque não funciona duas vezes. Com agilidade, consigo o jogar no chão, o tatame macio amortecendo nossa queda ate o cotovelo dele acertar meu abdômen. Se fosse em outro momento isso doeria como o inferno, mas não doeu, pelo contrário, me deixa mais afoito para lhe prender em meio aos meus braços.
- sabe que estaremos encrencados se alguém nos ver. - digo com dificuldade, usando boa parte da minha força para segurar seus braços.
- eu sei, mas que se foda.
Apenas um momento de distração é o suficiente para Anthony virar o jogo e novamente me acertar, dessa vez meu estômago foi o alvo. Com raiva, lhe acerto um soco no rosto, feliz por ver o vermelho aparecendo em sua pele.
- belo soco fratellino ( irmãozinho ) .
O suor começa a aparecer em nossos rostos, as gotas escorrendo das laterais até chegar a nossos maxilares. O combate tem um reinicio, os olhos focados um no outro como dois felinos se enfrentando por conquista de território. Acertamos mais alguns socos e chutes, minha pele queimando a cada vez que ele me acerta e meus punhos já doloridos.  Cansados, nos jogamos no chão longe um do outro.
- soube que Benjamin comprou uma casa na Austrália. - Anthony fala do nada, a voz um pouco falhada.
- eles deviam comprar uma casa no inferno, seria mais útil. - encaro o teto, não querendo pensar na ruiva agora.
- quanta raiva maninho, não deveria guardar isso no peito.
- vou fingir que você não disse isso.
- já pensou se eles quiserem a levar para longe ? - Anthony insiste em conversar, mesmo depois de alguns segundos de silêncio.
Não ...

Eles podem nos manter separados, mas não podem a levar daqui.

Não vão a levar !

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