Capítulo 53

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- tentem não ser tão óbvios para passar a bola para o outro, jogá-la para o lado só fará com que os Monkeys agarrem a bola mais rápido e façam mais cestas do que se podem contar. - Martin desenha mais uma tática na prancheta, focado em nós deixar preparados para o jogo da semana que vem. - vamos tentar uma dessas jogadas novas e ver como se adaptam a sair da zona de conforto.
Estamos todos ao redor do treinador, sentido todo o efeito que a pressão causada por cada linha desenhada no plástico branco nós causa. Entender claramente o que Martin tenta nos passar é totalmente essencial para que possamos fazer um bom jogo. Ter em mente que esse cara está no comando do time a mais de dez anos é motivador, afinal, ele ja garantiu a escola mais de quarenta troféus em todos esses anos. Ver Martin tão ancioso é novidade para todos nós, saber que até mesmo ele - todo casca grossa - está nervoso e preocupado.
- sabe que vamos ter que mudar totalmente a maneira de jogar se seguirmos o que está ai, não sabe ?
Daniel então me encara após efetuar a pergunta, seu tom de voz um pouco preocupado demais para quem está sempre concordando com as palavras de Martin.
- sim, eu sei.
A resposta curta e grossa do velho treinador nos passa um pouco de confiança em relação a esse jogo. Para Martin ter que refazer todo o nosso esquema tático significa que suas pesquisas deram um resultado questionador sobre as estratégias usadas pelos Monkeys.
Parece que a coisa é um pouco pior do que se imaginava.
Dividir os Lyons sempre foi uma das melhores alternativas para se ter dois times em quadra na hora do treino, ver até mesmo nossos irmãos como inimigos ajuda a identificar prováveis lançamentos e momentos perfeitos para atacar. A prancheta de Martin está recheada de folhas com várias e várias maneiras diferentes de se evitar que as bolas caiam no aro errado e isso sim, me deixa um pouco mais ancioso.
O barulho da porta do ginásio se abrindo é o suficiente para atrair nossos olhares em sua direção, ver Mia passando por ela agarrada em um livro para poder então se sentar em algum lugar da arquibancada esquerda é o que eu precisava para tentar manter o foco no treino. Sentir toda a calmaria que ela me traz por apenas estar me mesmo ambiente que eu é reconfortante e ao mesmo tempo me dá raiva por saber que não sou o único a olhar para ela nesse exato segundo.
Imagino que ela tenha me sentido tenso antes de ir para a aula.
Sam entra logo em seguida, a mochila jogada sobre o ombro esquerdo. Ele caminha rápido para ir ate a ruiva e se senta ao seu lado, comentando algo em seu ouvido que faz as bochechas dela ficarem vermelhas antes de voltar a me encarar. Isso de fato me deixa curioso, quase me forçando a ir até lá e saber o que a deixou sem jeito, mas antes que eu possa fazer qualquer coisa o grito de Martin me chama a atenção.
- vamos logo com isso meninos !
Olho uma última vez na direção dela, passando os dentes de leve pelo lábio inferior antes de me mandar um beijo no ar. Ter Mia por perto sempre me deixa mais calmo, eu diria que ela já evitou várias brigas simplesmente por estar no mesmo corredor que eu. Antes dela era tudo fácil demais, não tinha emoção ... Mas depois dela, depois dela tudo é adrenalina.
Exatamente o que eu precisava.

" "

Charlotte entra em minha sala sem bater, deixando sobre minha mesa mais duas pilhas de arquivos sobre a aquisição de mais um prédio com a construção parada a anos. A falta de educação dela deve se resumir ao fato de eu não ter me lembrado de assinar algumas pautas pendentes, o que pode custar todo o seu final de semana para conseguir digitar toda a documentação em atraso. Serro os olhos, suspirando pesado ao ver que pela vez ela não fez nenhuma gracinha ou algo parecido.
Ela parece realmente estar brava comigo.
- ok, chega de me ignorar e diga de uma vez o que está pensando. - por mais que Charlotte seja bem discreta sobre suas emoções agora ela está deixando bem claro que está enfurecida com o meu esquecimento.
- você acha mesmo que eu não ficaria brava por você ferrar o meu fim de semana ? - ela coloca as mãos sobre o quadril, me encarando de uma forma engraçada até.
- acha mesmo que fiz isso de propósito ? - molho os lábios com a língua, tentando entender se ela está m um daqueles dias que as mulheres ficam estressadas até mesmo com um fio de cabelo fora do lugar.
- e não fez ? De verdade Andrew, eu te trouxe esses papéis a três dias.
Certo, olhando por esse lado eu realmente estou errado e olhando pelo lado dela, estou sendo um filho da puta ao foder com os planos que ela tinha feito para sua folga. Talvez focar tanto em meu relacionamento nesse momento não seja bom para as responsabilidades que ganhei nesse tempo sem a ruiva. Me sinto culpado por ver Charlotte quase arrancar minha cabeça por a prejudicar no trabalho.
- tudo bem, eu dou um jeito nisso Sra. Evans.
Ela me olha desconfiada, se perguntando se eu vou fazer isso mesmo ou se só estou tentando me livrar dela por um breve período de tempo.
- sei que fui irresponsável, tanto com você quanto com a empresa e por ter noção disso vou refazer os arquivos e te mandar segunda de manhã. O que acha ?
- você ao menos sabe o que está fazendo Andrew ? Esses arquivos tem regras gramaticais a serem seguidas e você nem ao menos se formou no ensino médio.
- não se preocupe com isso, eu tenho meios para fazer isso dar certo.
Quando se é filho de um CEO e irmão, por mais que não se goste tanto disso, de um gestor nato fica incrivelmente fácil lidar com questões empresariais.
- posso mesmo confiar em você ? - sua postura relaxa gradativamente.
- e por que não confiar ? - sorrio como uma criança que acaba de ganhar um doce.
Ela suspira, ajeitando o cós da calça antes de me mandar uma piscadela rápida deixar minha sala bem mais tranquila do que entrou. Apanho uma das pastas, fechando os olhos por um segundo antes de começar a analisar cada gráfico e resumo detalhado das ações. Com a ponta da caneta entre meus dentes começo a notar o quanto a empresa tem obtido lucro em investimentos arriscados, a compra de pequenos terrenos próximos ao litoral da cidade vai render quase o triplo do que pagamos pelas terras antes do inicio das obras.
O que significa que a minha divida com meu pai já está paga.
Se não fosse o maldito contrato eu estaria livre desse lugar.

Collins Where stories live. Discover now