Capítulo 44

11.3K 1.1K 230
                                    

Deixo Charlotte passar primeiro e fecho a porta, ela entrega a pasta para o cara de terno cinza sentado na ponta da mesa ao lado do tal Robert antes de se sentar ao meu lado. Frente a frente com eles não sou capaz de imaginar suas reações ao notarem que modifiquei a pequena cláusula que lhes favorecia, talvez eu consiga uma boa discussão e saia vitorioso com um contrato assinado. Bato as pontas dos dedos de uma das mãos na lateral da minha coxa esquerda, esperando impaciente pelo fim da leitura das páginas. Respiro fundo, notando a sobrancelha do advogado franzir lentamente assim como um sorriso irônico nasce nos meus lábios.
- alguma coisa errada ? - pergunto, colocando os cotovelos sobre a mesa.
- sim, umas das últimas cláusulas foi mexida.
- eu sei. - enfio a mão dentro do bolso interno do paletó e retiro uma caneta, a deixando no espaço dentre os meus cotovelos. - não sei com quem vocês fecharam esse acordo e admito que quando eu descobrir o mesmo começará o caminho da rua no mesmo instante. Esse tipo de atitude foi errada da parte de vocês, tornar algo tão simples e praticamente resolvido em algo que poderia nos arrastar para um longa e exaustiva conversa.
- ainda não entendi aonde quer chegar, senhor Grayson ? - Robert não abre a boca, apenas continua a me encarar com os braços cruzados.
O rosto com uma expressão nada amigável.
- não vou pagar um centavo a mais por essa área, cada metro quadrado foi avaliado por um profissional que me garantiu seu valor no mercado. Os documentos serão emitidos no tempo certo, sem eu ter que desembolsar nada por isso.
- não pode mudar o acordo assim ! - e mais uma vez a cor horrível do terno dele chamando minha atenção.
- ah, posso sim e você como advogado deveria saber disso. Eu não sou obrigado a aceitar nada que não esteja de acordo com a política da minha empresa, então vocês só tem duas opções : ou vendem para mim pelo valor justo que está no contrato e deixam a documentação conosco, ou eliminam qualquer chance dessa área ser vendida pelos próximos anos. Pensem bem senhores, esse terreno não entre os melhores e nós estamos fazendo um favor ao comprá-lo mesmo com as condições horríveis em que se encontra.
É pegar ou largar.
Ambos trocam um olhar cansado, vendo que não há argumentos que possam ser usados contra a minha proposta. Mordo o lábio inferior, já impaciente pela demora da resposta e da assinatura. Inclino a cabeça para o lado, observando de relance Charlotte colocar a ponta da caneta na boca entre os lábios. Ela olha para mim de forma estranha e desconfortável, o que me faz virar para encarar Robert e seu advogado.
- então senhores, preciso de uma resposta.
Me levanto, colocando as mãos sobre a superfície da mesa para passar algum tipo de pressão entre eles.
- assine de uma vez Robert. - o usuário do terno cinza medonho entrega a minha caneta para o seu cliente. - não vamos conseguir nada melhor.
Sem contestar Robert assina nos locais indicados e me dá o melhor sorriso da vitória.
- obrigado pela colaboração senhores, o pagamento deverá estar na sua conta em cerca de quinze minutos senhor Wade.
Deixo a sala sem nem mesmo apertar suas mãos, o estresse já consumindo todo o meu bom humor.
- você tem noção do que acabou de fazer ? - a voz irritada do meu pai vindo atrás de mim não me faz parar de andar.
- te fiz economizar dinheiro, não seja mal agradecido. - digo alto, ignorando os olhares das pessoas no corredor.
- Andrew Grayson pare agora e me escute.
Respiro fundo, parando imediatamente antes de rolar os olhos. Meu pai se aproxima, colocando as mãos nos meus ombros ao ficar de frente para mim.
- enfrentou muito bem a situação filho, agiu melhor do que eu esperava.
Paro de respirar no exato momento em que meu cérebro acorda e entende as palavras que saíram de sua boca.
- Espera ! Como assim ?
- eu precisava saber se você estava atento, analisando cada contrato para assegurar a política da empresa. - um sorriso singelo domina seus lábios e pela primeira vez em muito tempo eu vejo algo diferente de decepção em seus olhos. - estou orgulhoso de você e muito feliz por saber que eu sempre estive certo, você nasceu para isso Andy.
A saliva desce seca pela minha garganta, sinto um dos lados da minha boca tentarem forjar um sorriso melancólico antes que ele saia e pense que eu não levei em conta o que ele disse.
- obrigado pai.

As ruas estão um pouco movimentadas de mais para um horário que costuma ser tão calmo, acho que ficar preso no trânsito seria a última coisa que eu preciso agora. A música nao é capaz de me fazer não pensar naquela ligação, eu escutei a respiração descompassada dela por um momento, senti que ela precisava dizer algo e não conseguia. Talvez eu deva ligar para o Sam e ver se consigo saber de alguma coisa, ter alguma informação sobre o que está acontecendo naquela casa. Com sorte, ele iria me responder, mas com certeza iria me deixar com mais dúvidas ainda. Faço um desvio com o carro, entrando em uma das rotas alternativas para fugir da lentidão e chegar em casa o mais rápido possível. Um ponto vermelho aparece encostado na estrada, talvez seja um carro com problemas que também tentou fugir do trânsito da avenida principal. Acelero, cerrando os olhos para tentar ver direito se ainda há alguém perto do veículo e fico ainda mais perplexo quando identifico o MiniCooper.
Porra !
Será que foi por isso que ela ligou ?
Paro o carro logo atrás do seu, arrancando o paletó antes de sair com o celular na mão. O topo da cabeça ruiva é o primeiro a aparecer, os cabelos amarrados em um rabo de cabelo alto.
- precisa de ajuda ? - guardo o celular no bolso traseiro da calça, meu coração quase parando de bater no instante em que seus olhos pairam sobre os meus.
Observar de perto seu rosto delicado é como estar em um sonho, ver o quanto seu corpo ainda reage ao meu é incrivelmente bom. O vestido branco e simples lhe caiu muito bem, as alças finas expondo os ombros e o colo do busto.
- meu pneu está furado. - a voz doce me responde ainda incerta se quer a minha ajuda.
- você tem um estepe ? - começo a arregaçar as mangas da camisa, não deixando de notar o incomodo dela. - se não tiver eu posso te dar uma carona e mandar alguém buscar seu carro depois.
Ela coça o braço esquerdo antes de morder a lateral do lábio inferior, me fazendo sorrir rapidamente. Mia Collins continua do mesmo jeitinho de antes.
- eu tenho um no porta malas.
- importa de abrir ele para mim ?
Ela balança a cabeça em negativo, finalmente se afastando do capô do carro para ir em direção ao porta malas. Começo a seguir seus passos, mesmo estando do lado contrário ao dela. Mia enfia a chave do carro em um dos bolsos laterias do vestido que eu nem mesmo sabia que existiam, se afastando para que eu possa pegar o pneu. Olho para os cantos, procurando algo e agradecendo aos céus por ali ter uma chave de roda, pelo jeito o senhor Collins pensou em tudo. Enfio o estepe debaixo do braço esquerdo, segurando a ferramenta com o direito enquanto caminho até a frente do carro.
- está aqui a muito tempo ? - pergunto antes de deixar o pneu no chão e me agachar para começar a remover os parafusos.
- uns dez, quinze minutos no máximo.
- e não ligou para um guincho ou até mesmo para alguém vir te ajudar ? - ergo o olhar brevemente, meu coração quase parando ao vê-la tão perto.
- eu liguei para Sam, mas acho que ele se perdeu no caminho.
- ele deve estar preso no trânsito. - tento justificar a demora de Sam. - e provavelmente arrependido de não ter lembrado desse desvio antes.
- pode ser.
Assim que o último parafuso toca o chão, largo a chave de roda para puxar o pneu furado e colocar o outro no lugar. O trabalho de colocar os parafusos de volta se torna bem menos frustante quando o vento sopra e traz junto consigo o perfume dela. O cheiro doce me traz um pouco de paz e vontade de beijar sua boca.
Calma !
Uma gota de suor escorre pela lateral direita do meu rosto, alguns fios de cabelo caem sobre a minha testa e dessa vez eu os queria ter cortado por impedirem que eu tente ver a ruiva ao meu lado.
- pronto ruiva. - aperto uma última vez todos os parafusos e agarro o pneu furado para me levantar.
O coloco no lugar do estepe e depois de guardar a chave de roda fecho o porta malas, abrindo dois botões da camisa por conta do calor.
- obrigada Andrew. - ela ajeita o óculos, me encarando sem jeito.
- não precisa agradecer ruiva.
- eu... Acho que já vou indo.
- me ligue se precisar de alguma coisa, não importa o horário.
Sua cabeça apenas sinaliza um sinal positivo, os cabelos vermelhos alaranjados caindo lindamente sobre os ombros. Ela da alguns passos para abrir a porta do carro e então para, se virando para mim e sorrindo uma última vez antes de entrar e dar a partida. O MiniCooper se afasta rapidamente e eu me ajeito para voltar ao carro, algo prateado brilha no chão escuro e eu me apresso para ver o que é. A chave perdida no chão me é conhecida, o chaveiro de metal em forma de nuvem pertence aquela ruiva desastrada.
Um belo pretexto para vê-la novamente.

Collins Where stories live. Discover now