Capítulo 4

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Rolo os olhos e continuo a caminhar, passando reto pelo meu armário e ignorando a garota em sua frente. Respiro fundo quando dedos seguram a alça solta da minha mochila, me fazendo virar o rosto e baixar poucos milímetros o óculos para olhar nos olhos dessa maluca.
- que merda você acha que está fazendo ? Me solta. - digo firme, a encarando duramente.
- Andrew, por favor, me escuta. - ela parece desesperada, os olhos escuros banhados de lágrimas.
Hipócrita.
- não, eu não tenho nada para escutar de você. - puxo meu braço e volto a andar em direção as escadas.
- Andrew ! - o grito histérico dela não me faz voltar a trás, pelo contrário, só me dá mais vontade de deixar esse lugar o mais rápido possível.
Os olhares aumentam sobre mim, o óculos escuros disfarçando meu olhar de tédio sobre todos eles. Um sorriso casto toma meus lábios quando me aproximo das escadas e vejo Brandon a cinco degraus na minha frente.
- hey Brandon. - tiro os óculos e subo os degraus correndo.
Ele se vira, o olhar de decepção não é o que eu esperava. Paro ao seu lado, dando espaço para que os outros consigam passar sem esbarrar em nós, mesmo sabendo que nenhum deles iria fazer isso de propósito.
- eu preciso falar com você. - aperto o óculos entre os dedos, a armação dura machucando minha mão. - por favor, preciso da sua ajuda.
- Andrew...
- por favor Brandon, eu não fiz aquilo.- fico surpreso quando ele coloca a mão esquerda sobre meu ombro direito, olhando no fundo dos meus olhos.
- eu sei que não fez, te conheço a tempo demais para acreditar nisso. - a sensação de alívio me invade.
Ele acredita em mim.
- obrigado cara.
- vem, vamos lá pra fora. Você precisa me explicar como essa merda toda aconteceu e eu tenho que te falar umas coisas.
- coisas sobre a ruiva ? - a tristeza em citar seu nome abre mais a ferida em meu peito, quase dão doloroso quanto uma ferida física.
- sim cara, ela não tá bem.
Engulo seco, um bolo de formando em minha garganta. Descemos as escadas de forma rápida, nos colocando a caminho do corredor aonde minha desgraça ocorreu. As cenas daquela noite voltando como flash's em minha mente.
Maldita noite.
Todas as lágrimas dela se misturando com as gotas da chuva, alguns fios de cabelos colados no pescoço e nos braços, a saia grudada a pele das pernas... Ela subindo na moto de Anthony como se ele fosse sua salvação.
Nos sentamos na arquibancada do campo de futebol, alto o suficiente para focarmos os olhos nos garotos treinando com o senhor Adams enquanto conto a ele tudo o que aconteceu naquela noite. Junto meus dedos das mãos quando termino, abaixando a cabeça e mordendo a lateral esquerda do meu lábio inferior a espera de sua resposta.
- eu sempre te disse que Raven era um problema cara, mas chegar a esse nível é loucura.
- acha que eu não sei ? A garota estava tão fora de si que eu cheguei a cogitar a ideia de arrastar ela e seus saltos até um hospital psiquiátrico.
- ela está obcecada por você cara. - viro o rosto em sua direção, o vendo endireitar as costas e se encostar na estrutura de sustentação da arquibancada.
- Raven esta louca Brandon, louca. E isso não é obsessão, é posse. - estico as pernas. - aquela maluca colocou na cabeça que eu, de alguma forma, pertenço a ela.
- acha que isso pode ser perigoso para a Mia ?
- não sei, mas não duvido do que ela possa querer fazer depois de sábado e depois de hoje.
- isso ainda vai dar muita merda Andrew.
- não, não vai. Eu vou dar um jeito nisso. - digo determinado.
Raven não vai destruir o que eu e Mia temos, não mesmo.
- deveriam ter ficado perto de nós, acho que pelo menos assim eu teria ido junto com você resolver o problema com o carro e ela não teria tido essa chance.
- não queríamos atrapalhar vocês, entende. Mia queria que Sam aproveitasse e eu queria que você se divertisse com seu namorado. Porra, vocês ganharam a coroação, não queríamos atrapalhar de nenhuma maneira a comemoração.
Brandon suspira pesado, provavelmente colocando em ordem os pensamentos sobre as informações que Sam passou a ele antes de vir a escola.
- agora me conte. Como ela está ?
- nada bem pelo que Sam me contou, parece que ela não quer comer nada desde ontem.
- Sam está com ela ? - volto a olhar para os garotos treinando, tentando evitar que a raiva comece a trabalhar em meu interior.
- sim, ele está fazendo de tudo para tentar fazer com que ela saia do quarto e coma um pouco, mas Mia não está facilitando.
Levo as mãos até a cabeça, afundando meu rosto nas palmas geladas e fechando os olhos com força. Os dedos apertando a pele da testa ao ponto de me causar uma pequena agonia.
Não maior do que a dela.
- Sammy está lá desde ontem a tarde, eu o deixei lá depois que Mia mandou uma mensagem desesperada para ele. O áudio era tão baixo, mas já se percebia os soluços dela e o barulho da água do chuveiro.
- você tem o áudio aí ?
Eu sei que isso é tortura, ouvir um áudio do sofrimento da ruiva não vai me fazer sentir melhor. Na verdade, vai aumentar a porra da raiva e decepção acumulada em meio interior.
- tenho, mas não sei se devo te mostrar. - levanto a cabeça para o encarar, os dedos agora em meu pescoço. - se auto torturar não vai diminuir a dor dela.
- me mostra, eu preciso ouvir.
- eu não sei cara, isso não vai te fazer bem.
- Brandon, por favor, mostra.
Ele, ainda meio incerto, enfia uma das mãos no bolso lateral da mochila e pega seu celular, mexendo em algumas coisas antes de entregar o aparelho para mim.
- nao foi sua culpa, só se lembre disso.
Com a mão trêmula estico o braço para apanhar o celular, os batimentos cardíacos aumentando o ritmo. Aproximo o aparelho do ouvido, clicando um um dos dedos na tela para dar play no áudio.

- Sam, por favor, me ajuda, me ajuda. - a voz embargada me faz olhar para o céu e imaginar que por minha causa, ela esteja desse jeito. - eu ... eu não sei o que fazer ... está doendo tanto, por favor Sammy, eu preciso de você.

O resto dos dez segundos do áudio se sucedem com um choro baixo e o barulho da água do chuveiro no fundo. Retiro o celular de perto da orelha e o devolvo para Brandon, que me olha preocupado enquanto enfia o aparelho de volta na mochila.
- ela não vai deixar eu me aproximar Brandon, não vai deixar. - digo baixo, sabendo que meu amigo consegue ouvir.
Olho confuso entre o rosto dele e meus pés, torcendo para que Sam esteja conseguindo cuidar dela.
Fazer o que eu não posso no momento.
- quanto mais tempo eu demorar para contar a verdade a ela, mais tempo ela vai sofrer, mais tempo ela vai achar que eu a traí com Raven e assim, mais tempo Anthony vai ter para tentar tirá-la de mim.
- seu irmão até pode ser aproximar da Mia, ele pode até tentar algo com ela, mas nunca será correspondido porque ela só tem olhos para você Andrew. A garota sempre deixou claro que te ama e não será o seu irmão quem irá mudar isso.
O apoio dado por Brandon me deixa um pouco mais calmo, mas mesmo assim, não consigo ficar totalmente seguro do que possa acontecer daqui em diante. O céu está incrivelmente limpo, o vento um pouco mais gelado para um dia de sol.
- acha que Sam pode me ajudar a ficar frente a frente com a Mia ?
- não sei Andrew, vou fazer o que puder para convencer ele a ajudar, ainda mais depois de ouvir o que você me contou. - ele se levanta e joga a mochila nas costas antes de me oferece uma mão. - conte tudo a ele e veremos o que acontece.
- obrigado cara. - aceito sua mão e ele me ajuda a levantar.
- não precisa agradecer, sei que faria o mesmo por mim.

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