Capitulo 65

2.9K 221 21
                                    

Aperto o nó da gravata enquanto uso a outra mão para apertar o botão do elevador, olhando para o relógio em cima da porta percebo que estou um pouco mais atrasado do que eu gostaria.
Faço questão de deixar o celular no silencioso, sei que Charlotte já encheu minha caixa de mensagens e provavelmente meu pai também. As portas se abrem e um incômodo atinge meu estômago assim que encaro meu pai dentro do elevador, ele segura uma pasta preta nas mãos e parece um pouco irritado, tão irritado que nem percebeu que eu estou aqui.
- devo me preocupar com o conteúdo dessa pasta? - pergunto ao me enfiar dentro do elevador, apertando o número trinta e quatro no painel.
- depende de quem vamos encontrar lá em cima Andrew. - ele abaixa a cabeca por um momento,  encarando o relogio em seu pulso. - será que algum dia você irá conseguir chegar rápido ao ouvir a palavra emergência?
- eu estava na escola pai, ocupado com algumas coisas do time. Vim o mais rápido que pude.
- dessa vez vou relevar, mas só porque Charlotte está fazendo um ótimo trabalho distraindo aqueles homens na sala central.
- eles estão lá a quanto tempo?
- cerca de trinta minutos depois de dar uma volta completa pelo prédio.
- Anthony está aqui? - as portas se abrem e então sigo meu pai pelo corredor.
- deixei ele encarregado de pegar a papelada da transação no escritório do Advogado.
- achei que ele tivesse uma sala no prédio.
- bom ele tinha, até pedir para ser demitido semana passada. Não me pergunte o motivo pois eu não sei, mas garanti que ele saísse daqui com todos os seus direitos e recomendações pelo bom trabalho que vinha fazendo.
- já sabe se teremos a presença de um novo representante legal nessa reunião?
- sim, Michel me garantiu que o rapaz é sagaz e inteligente. Bom, estou rezando para que ele esteja certo ou perdermos cinco por cento da empresa para um desconhecido.
- iam mesmo entrar sem mim? Que feio.
A voz de Anthony consegue nossa atenção por um momento quando ele se aproxima com uma pasta na mão esquerda e um copo de uísque na direita. Estamos parados em frente a porta da sala Central a quase três minutos, esticando a conversa e tapando as lacunas que ficaram abertas.
- agora vamos meninos, antes que a pobre Charlotte fique sem assunto.
Assim que colocamos nossos pés para dentro da sala meus olhos passam de Charlotte para os quatro homens ali sentados. Os olhos gélidos caem sobre mim, me fazendo desejar por um segundo quebrar todos os seus ossos. Percebo no rosto de Benjamim Collins que ele está tão surpreso quanto eu de estamos na mesma sala nesse momento, a sobrancelha esquerda arqueada é a prova disso.
- boa tarde senhores, peço perdão pela demora.
Meu pai tenta soar indiferente ao atraso, sabendo muito bem que só estávamos ganhando tempo para encontrar uma brecha no contrato de venda para colocar as mãos nessas ações.
- não se preocupe com isso, sua secretária fez questão de nos deixar a vontade para conhecer um pouco mais da empresa e tudo o que a engloba. - um homem de terno claro toma a frente para responder. - eu diria que vamos fazer um ótimo negócio aqui. Sou Bradley Jonas, advogado corporativo do senhor Willians. Esses são Benjamim Collins e seu advogado Connor Hade.
- sou Richard Grayson, e esses são meus filhos Anthony e Andrew.  Creio que já conheceram meu advogado corporativo Dylan Cooper.
Benjamim continua a me encarar, as mãos juntas em cima da mesa com os dedos entrelaçados. Anthony e eu apenas acenamos com a cabeça, um cumprimento rápido e sem palavras.
- se não se importam em começarmos, eu ainda tenho outras reuniões hoje.
Meu pai é o primeiro de nós a se sentar na grande mesa, ficando na ponta dela e ali demonstrando que não tem nenhuma chance de perdemos esse contrato. Bom, eu queria que meu querido sogro também pensasse dessa maneira. Dylan coloca algumas pastas em cima da mesa, distribuindo uma para cada um de nós antes de começar a falar.
- esses são os termos e condições fornecidos pelos Grayson's para a então compra dos quinze por cento das ações da empresa em questão. Estamos oferecendo um valor significativo pelas ações do Sr. Willians além de lhe dar poder sobre partes de outras empresas nas quais tiveram êxito nos lucros, uma margem de setenta por cento por ano e com previsão de aumento nos próximos anos.
Eu quero mesmo prestar atenção no que eles estão discutindo, queria estar atento a todos os detalhes para que nada passe despercebido mas aqueles olhos não saem de cima de mim nem por um segundo. Enquanto seus dedos brincam com uma das canetas em cima da mesa eu apenas continuo quieto, tentando não ferrar tudo por dar um soco na cara desse filho da puta.
O celular vibra no bolso interno do meu paletó e sinto em minhas entranhas que minha garota é quem está me ligando. Talvez ela possa sentir minha agonia sob o olhar duro de Benjamim e todas aquelas sensações idiotas como os filmes românticos mostram ou Mia pode ter uma breve noção de que seu pai está aprontando algo.
Especificamente, algo grande.
Meus dedos formigam na ansiedade de pegar o aparelho, mas tenho plena noção de que isso seria desrespeitoso com todos os presentes, já que celulares não são permitidos nesta sala.
- Sr. Collins, teríamos chance de oferecer algo a mais ao senhor Willians?
Seu advogado se torna o alvo de seu gélido olhar, o que faz o homem ficar tenso mas ainda sim seguro na sua pergunta.
- cem milhões de dólares.
Anthony solta uma breve risada fraca e meu pai apenas estreita os lábios, querendo parecer sério em um momento no qual ouvimos umas das maiores  besteiras já ditas. Quinze por cento de nossas ações não valem apenas cem milhões e nem chegam perto disso, o valor da empresa aumenta a cada ano consecutivamente e meu pai tem toda a ciência de que Benjamim Collins não poderia estar mais desinformado sobre nossa situação real. Conhecendo bem o pai que tenho sei que ele vai usar isso a falta de conhecimento deles a seu favor.
- nossa proposta é referente aos valores atuais das suas ações e vamos combinar que seu lucro com as outras empresas passaria de cem milhões em menos de dois anos Ralph. Pense direito.
- Ah Richard, isso é exatamente o que uma pessoa que nunca precisou sujar as mãos por dinheiro falaria. - Benjamim Collins se pronuncia, conseguindo um olhar nada amigável do meu pai em troca de suas palavras grosseiras. - admiro sua honestidade mas é bem claro para todos nós que Ralph vai vender pra que oferer mais dinheiro e eu não tenho medo de gastar o meu.
- se é isso que você acha, tudo bem. Vamos agir como pessoas adultas e perguntar ao Ralph o que ele prefere.
Nesse é exato momento todos se viram para ele, o homem esguio se endireita na cadeira e arruma seus cabelos de forma desajeitada.
Vamos Ralph, não seja estúpido!!
- posso falar a sós com meu advogado?
- cinco minutos Ralph.
Meu pai é o primeiro a se levantar junto com toda a segurança que ele depositou nessa jogada, que eu diria ser genial se não estivesse realmente com medo de que Benjamim consiga ser persuasivo o suficiente para colocar as garras nessas ações.
- vamos rapazes, eles precisam de um momento a sós.

" "

Os segundos se tornam irritantes a medida que o único barulho na sala é o do ponteiro do relógio antigo e o som da sola dos meus pés tocando o chão consecutivamente.  Meu pai e Anthony parecem estranhamente calmos enquanto mexem em seus celulares freneticamente como se nesse momento tivessem algo mais importante a fazer do que manter aquelas ações em nosso poder. A porta da sala de reunião se abre e Bradley passa por ela apenas para nos alertar que a conversa com seu cliente chegou a algum ponto.
- Podem entrar senhores, agradeço pela paciência.
- espero que Ralph tenha tomado a decisão correta Bradley.
- acredite senhor Collins, meu cliente escolheu o que de fato se mostrou mais agradável ao seu caráter.
Ajeito meu blazet enquanto sigo os homens a minha frente, desejando sair daqui o mais rápido possível.
De preferência com uma notícia boa.
O celular volta a vibrar no meu bolso, uma desculpa perfeita para sair daqui e deixar com que Benjamim arrume outro para fuzilar com os olhos, mas ao invés disso apenas apanho o aparelho e não consigo conter o sorriso ao ver o nome dela piscando na tela.

- eu sei que você está ocupado mas ei precisava saber se estava tudo bem. - Me dirijo para o canto da sala, aproveitando a breve distração do meu pai.
- pode ficar tranquila amor, esta tudo como esperado.
O silêncio inesperado dela é um pouco estranho para quem esta tão preocupada. Você não me engana ruiva.
- seu pai voltará para casa como chegou aqui, de mãos vazias.
- eu sinto muito por isso Andrew...
- sabe que não é sua culpa, nunca foi. Seu pai acha que ele é o macho alfa em todos os lugares que pisa os pés e sem ofensas ruiva, esse imbecil precisa entender que nem todo o dinheiro do mundo vai fazer com que ele coloque as mãos em alguma coisa da minha família.

Collins Onde as histórias ganham vida. Descobre agora