Capítulo 15

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Brandon ainda está parado me encarando, os braços cruzados e as costas encostadas nos armários do vestiário. Todos os caras do time já foram, o que nos deixa a sós e o pior, o que deixa Brandon pronto para começar o sermão.
- cara, o que achou que estava pensando quando disse aquilo a ela ? Sam estava quase conseguindo uma trégua para que vocês dois conversassem de uma vez, agora tudo ficou mais complicado.
Fecho a porta do armário com raiva, o barulho do metal se fechando é um pouco alto demais, o que incendeia minha dor de cabeça.
- acha que eu não sei que fiz merda quando disse aquilo droga ? Eu realmente achei que Sam iria me informar de qualquer avanço e a única coisa que estou sabendo é que ontem Anthony estava lá, ele está a dentro da casa dela e nem consigo pensar no que ele estava fazendo. - as sobrancelhas dele quase se juntam, uma das mãos alisa o rosto antes de voltar a me encarar. - ela está achando que eu venho a traindo desde o começo, achando que eu a usei de alguma forma para aumentar a porra do meu ego.
- Andrew, pare de tentar ter acesso a Mia por conta dos outros, Sam está fazendo de tudo para te ajudar e sabe porque ele não vem te informando de quase nada ? Ele está dividido, sem saber o que falar para que ela ao menos te ouça sem acabar te acusando a cada cinco segundos ! Seu irmão está cercando a garota de forma sufocante, e se ele estava dentro da casa dela ontem foi porque Sam estava lá para impedir qualquer tipo de gracinha. Ele está protegendo a amiga e você não pode ser tão egoísta ao ponto de não perceber isso sem que alguém tenha que te contar.
Sem conseguir pensar em qualquer tipo de resposta para ele, apenas me deixo sentar no banco de madeira e fechar os olhos com força. Meus dedos entram dentro dos fios molhados do meu cabelo, puxando com uma certa força até sentir o couro cabeludo coçar.
Ela tem razão !!
Eu sou um desgraçado orgulhoso que não pensa nos outros !
Com o peito carregado de mágoa e ódio me levanto, respirando fundo antes de voltar a olhar para o meu amigo.
- eu sou um idiota.
- sim, você é, mas é um idiota que nunca seria capaz de foder alguém para se dar bem.
- obrigado por isso, agradeça ao Sam por tudo.
- sei que você mesmo vai fazer isso daqui a pouco, relaxa cara, vocês dois não vão ficar muito tempo separados.
- como pode ter tanta certeza ?
Sua expressão divertida é o que mais me intriga, como se soubesse de algo que eu não sei.
Provavelmente ele sabe.
Rolo os olhos, uma pontada de dor me atingindo nós globos oculares.
- só relaxa cara.

Jogando a mochila no chão ao lado da porta, entro no quarto ja estressado com o dia que tive.
Ela acha que eu a traí !
No momento minha única vontade é de deitar na cama e tentar, só tentar, esquecer aquela acusação inacreditável por um segundo. Lembrar de tudo o que se passou depois do primeiro dia de aula é um pouco doloroso, sentir falta de tocar aqueles lábios é ainda pior. Não querer aceitar que Raven acabou com algo que completaria um mês amanhã é o que me deixa mais louco.
Amanhã, dia seis de setembro eu e Mia iríamos completar um mês de namoro.
E por conta de toda essa gracinha e obsessão daquela louca nós estamos assim, cada um sofrendo em ambos os lados da rua. Estralo os dedos das mãos, a necessidades de fazer algo por mim mesmo martelando forte em meu crânio. As chaves do carro largadas em cima da escrivaninha, o brilho da jóia vermelha do anel chamando minha atenção, gritando de dor por não estar aonde pertence.
Gritando de dor por não estar no dedo dela.
Estico as pernas e dou passadas longas até o móvel branco, apanhando a chave do BMW e saindo do quarto rapidamente, não dando chance para encontrar ninguém no caminho para fora da casa.
O couro do banco do passageiro ainda está impregnado com o cheiro dela, aumentando duramente minha saudade reprimida. Respiro fundo, afundando as costas no banco enquanto me coloco a caminho do meu apartamento.
Só lá eu tenho paz ...
O porteiro não demora para me liberar a entrada, estaciono o carro nas vagas disponíveis em meu nome e saio depressa do carro. Os olhos queimando por conta da dor de cabeça, o elevador subindo até o vigésimo terceiro andar, subindo até o meu refúgio. A ideia de comprar uma cobertura nunca foi minha, as vezes penso que minha mãe sabia que o dia em que eu consideraria a idéia de que ficar em casa seria sufocante chegaria logo. Dígito a senha de acesso no painel e espero a liberação da porta, suspirando pesado ao colocar os pés no único lugar dessa cidade que não tenha o ar opressivo. A sala de estar tão escura quanto o meu interior, o piano de medeira negra próximo aos janelões de vidro que me dão uma visão do lençol de neblina que cobre boa parte da cidade. A obscuridade dos móveis e objetos reflete bem o meu estado de espírito...
A minha escuridão.
Sem acender as luzes caminho até o corredor monótono e ignoro as outras portas, tentando chegar o mais depressa possível até meu quarto no fim do corredor. O cômodo está tão gelado quanto de costume, a cama perfeitamente arrumada me faz ter lembranças quentes da noite em que trouxe Mia aqui.

- tudo é tão escuro, você quem escolheu a decoração ? - os olhos dela vagam pelo quarto, reparando nos mínimos detalhes.
- vamos dizer que eu estava de mal humor quando escolhi os móveis e a tinta, mas me sinto bem aqui. - passo meus braços ao redor de sua cintura, sentindo o calor de sua pele.
- o ligar todo tem a sua cara amor, acho que você combina com cores escuras, mas adoraria adicionar alguma cor animada, claro, se você não se importar. - rio baixo, molhando os lábios antes de aproximar a boca da nuca dela.
- acha que esses cabelos vermelhos não são o que eu precisava para deixar esse lugar mais vivo ?
A viro rapidamente, atacando sua boca maravilhosa sem dar o tempo que ela precisava para responder. As poucas peças que ainda cobrem nossos corpos não demoram muito iara caírem ao chão, muito menos quando ela insiste em usar esses conjuntos de renda que eu tanto tenho o prazer de tirar. Expor sua pele deveria ser um pecado, beijar sua boca deveria ser proibido e tocar esse corpo deveria ser um prêmio para os mais dignos.
Mia Collins consegue me deixar louco com apenas um toque.
Por Deus, eu não trocaria esse toque por nada.

Retiro os tênis dos pés, o piso de granito preto tão liso e límpido. Caminho a passos lentos até a cama, querendo me jogar nela e esquecer por um tempo tudo o que me assola. Quando meu corpo cai em cima do colchão macio é como se todos os meus músculos automaticamente ficassem relaxados, como se os problemas sumissem, como se ela estivesse aqui.
O celular toca, me arrancando prematuramente do meu devaneio de paz. O aparelho vibra em meu bolso frontal de forma frenética até eu o alcançar com a mão esquerda e ver o nome de Sam brilhando na tela.

- alô ?
- Andrew, oh meu Deus, eu preciso urgente que você venha para o hospital ! - o jeito com que sua voz saiu arrastada me preocupa, ergo o corpo, permanecendo sentado na cama.
- calma cara, o que aconteceu ? Hospital, como assim ?
- olha, eu não sei explicar direito o que aconteceu e muito menos tenho tempo para tentar fazer isso, então só venha logo, por favor ! - me levanto correndo, deixando que meu ombro esquerdo force meu celular a permanecer em contato com o ouvido.
- diga de uma vez que merda aconteceu droga ! - um longo suspiro é dado por ele, o barulho rotineiro da recepção do hospital me deixando nervoso.
Por favor, que não tenha acontecido nada com ela.
- Mia rolou escada a baixo e parece estar nada bem.
Ergo a cabeça, deixando o celular cair no chão para calçar os tênis novamente.
Por Deus !
Enfio o aparelho no bolso do jeans e saio às pressas do lugar, rezando baixinho para que ela esteja bem.
Ela tem que estar bem !
Tem que estar !!

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