Capítulo 52

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A aula de história da arte nunca me foi tão interessante, poder olhar de perto o desenho que Mia fez na última aula é desmasiado conclusivo para mim e totalmente o contrário da minha ampulheta em formato de prisão. O pássaro desenhado em pequenos galhos de árvore demonstra o renascimento, como se naquele mesmo dia ela já estivesse decidida a dar um rumo a sua vida.
Talvez, um rumo na nossa relação.
O pequeno animal não passa dos dez centímetros, desenhado apenas em preto na folha clara e lisa.
- agora, analisando todos os desenhos de vocês eu faço as seguintes perguntas. O que realmente vocês ainda sentem após terem colocado isso no papel ? O que levou vocês a desenharem exatamente essas figuras ?
Scott, como de costume, anda pelos espaços entre as carteiras. Os passos silenciosos enquanto nos questiona sobre as telas. Os olhos claros encarando cada um de nós com uma certa desconfiança do motivo que levou todos a desenharem aquelas formas.
- sei que todos aqui tem problemas pessoais, assim como eu também tenho. Mas a minha formação como professor me deixa na posição certa para confrontar vocês sobre a arte expressiva da aula passada. Claro, sem expor suas motivações mas sim, colocando o artista que existe em vocês em evidência. - ele se senta nas beirada da mesa, apoiando os pés firmemente no chão para então se apoiar na madeira. - ambos tiveram alguma decepção, algum tipo de desapotamento ou até mesmo tomaram alguma decisão. Isso se resume ao que podemos dizer da arte sendo o que é, libertadora. Fiquei muito feliz por todos os trabalhos, notei que tenho uma sala que constantemente vive a adolescência de uma forma que não irá acarretar arrependimentos no futuro. Vocês estão de parabéns por enfrentarem toda a bagagem que a vida lhes trouxe e ainda sim sorrirem para o amanhã. Bom, as notas estão logo atrás de cada trabalho, podem ficar a vontade para ver.
Respiro fundo, o coração batendo mais rápido do que antes ao ver Mia andando em minha direção com Sam ao seu lado. Certo, pelo sorriso do loiro a ruiva já lhe contou tudo o que aconteceu - até o que não teria necessidade de ser contado.
- espero que esteja preparado para aguentar a histeria do Sam.
Me viro para o lado, encarando Brandon e toda a sua sinceridade quando se trata do namorado.
- como um bom amigo, você deveria pelo menos tentar me ajudar.
- vou fazer o que posso, mas você sabe que ele gosta de ouvir os dois lados da história quando se trata de reconciliações ou brigas.
Se bem que dessa característica dele eu não posso reclamar, foi graças a isso que Sam topou me ajudar desde o início a ter Mia de volta. Sou muito grato por todo seu esforço.
- então significa que você e o Andrew voltaram de vez ? Sem esse negócio de transar e depois fingir que nada aconteceu né ?
O rosto da ruiva automaticamente fica vermelho, as bochechas cheias de sardas iguais a belos tomates. Rio baixo, ainda descrente de como o loiro consegue constranger a amiga sem no mínimo de pudor.
- sim, nós voltamos Sam.
Respondo curto, fazendo um sinal com o dedo indicador para que Mia se sente na beirada da minha carteira.
- sempre direito. Eu quero detalhes Andrew.
Sam se senta em uma cadeira perto de Brandon, ajeitando os fios loiros caídos em sua testa para o lado esquerdo da cabeça.
- Mia já deve ter te contado o suficiente Sam.
- contou, mas você sabe que ela me sente que tem que me poupar de contar todos os detalhes sórdidos dessa reconciliação.
A mão de Mia pousa em minha nuca, deixando ali um carinho singelo com a ponta dos dedos. Um gesto tão simples que é capaz de me fazer olhar para ela e me sentir sortudo por tê-la de volta.
- Sam, pare de ser abelhudo e se contente com o que Mia te contou. Nós dois podemos imaginar o que os dois fizeram depois de conversarem.
Brandon é o único que consegue o manter na linha.
O loiro respira fundo enquanto torce os lábios, frustrado por Brandon ter o cortado de uma forma até gentil e por não ter todas as informações que deseja. Volto minha atenção para a garota escorada em minha carteira, a calça jeans escura justa ao corpo destacando cada parte de suas pernas. A camisa de mangas compridas cinza escondendo toda a beleza de suas sardas espalhadas pelo colo.
- não acha que está muito quente para usar algo tão fechado ?
Então ela me olha por cima dos óculos, os olhos um pouco curiosos e confusos com a minha pergunta. Okay, de fato eu não curto muito quando Mia abusa das roupas curtas que Sam a " ajuda " a comprar mas nunca a impediria de usá-las. Nunca tiraria o seu livre arbítrio.
- ultimamente o sol está incomodando a minha pele, deixando a irritada.
- desde quando isso acontece ? - digo preocupado, imaginando que a pouco tempo atrás ela estava indo até a praia despreocupada.
Espera !
No dia do leilão Mia usou a jaqueta que ganhou de Anthony em plena praia, ela estava de biquíni mas a jaqueta estava lá, cobrindo boa parte de seu tronco.
- a pouco tempo, mas é passageiro. Já fui no médico e ele disse que alguns cremes podem resolver essa sensibilidade momentânea.
- certo.
O sinal toca, o que nos faz levantar rapidamente para apanhar o material e sair da sala antes da chegada da próxima turma. Pensar em treinar agora que me entendi com Mia é extremamente infeliz, deixar de ficar ao seu lado após tanto tempo sem poder trocá-la é tão irritante quanto a voz do Martin em dias de estresse.
- qual é a sua próxima aula ? - pergunto ao pegar uma de suas mãos ao passar pela porta.
- economia.
- será que a ideia de matar essa aula seria ruim para você ? Queria que fosse para o treino comigo.
Os corredores começam a se encher, o burburinho de conversas sobre a festa de amanhã acabando com o silêncio que reinava no local. Chegamos ao armário dela, a mesma o abre rapidamente e começa a procurar o livro de economia.
- eu até aceitaria, mas tenho que apresentar um seminário com Sam.
- e nós já estamos um pouco atrasados para montar a apresentação morango.
Sam se solta de Brandon e então a puxa para o lado, fechando seu armário para sinalizar que ela deve andar mais rápido.
- tenho que ir Andrew, nos vemos depois ?
- te espero na saída ruiva.
Me aproximo, deixando um beijo rápido em sua testa antes do loiro a arrastar para a direção oposta sem ao menos deixá-la se despedir.
- como você aguenta ? Ele nunca parece cansado ! - desabafo com Brandon.
Ele parece se questionar, provavelmente pensando em várias coisas em Sam que ele ama ou até mesmo que o irrita. Minhas sobrancelhas ficam franzidas, os lábios levemente puxados em uma linha fina para enfim esperar a resposta dele.
As vezes nem ele sabe o que o fez se apaixonar por esse loiro sem freios.
- sabe que eu também não sei.
A reposta dele é compatível com meus pensamentos.
- vamos logo antes que Martin arranque os cabelos.
- hey, acha mesmo que os North Monkeys honram a fama de violentos ?
A pergunta de Brandon me pega de surpresa quando já estamos próximos a porta do vestiário masculino, fazendo com que eu pare de andar e pare imediatamente para encará-lo.
- cara, relaxa. Se eles virem para a nossa casa achando que vamos abaixar a cabeça por causa da merda de uma fama que nós nem sabemos se é verdade, eles estão enganados. Não vamos nos submeter a ninguém. Entendeu ?
- sabe, eu queria ter um pouco dessa sua confiança.
Respiro fundo, pensando em como deve ser complicado para meu amigo lidar com os problemas dentro de casa e ainda ter uma positividade grande sobre o quão ele consegue ser bom quando se trata de basquete, ainda mais quando ninguém da família o incentiva a jogar.
- olha, se a minha opinião vale alguma coisa para você cara, você é um dos melhores jogadores do time e não deveria se colocar tanto para baixo desse jeito. Confiar em você é o primeiro passo pra chegar aonde você quer Brandon, ninguém está te colocando pressão aqui então não fique assustado com algo que nem ao menos sabemos se é verdade. Relaxa cara, nós devemos garantir a todos que vão estar naquele jogo que somos tão bons quanto os caras do time rival. - coloco uma das mãos em seu ombro esquerdo, um sinal de apoio que talvez o faça se sentir melhor. - nós vamos treinar e dar o melhor em quadra. Certo ?
- você falou igual uma garota agora Andrew.
O idiota começa a rir, me causando uma certa onda de ódio antes de rir junto com ele.
- vá se foder Brandon.
Entramos no vestiário, deixando as mochilas sobre um dia bancos em meio ao corredor de armários. Acho que nunca vi Brandon tão ansioso com um jogo antes, a notícia que se espalhou sobre o jogo sujo dos Monkeys mexeu não só com ele, mas com boa parte da minha equipe. Vou precisar trabalhar o psicológico deles mais do que nunca agora, não posso deixá-los se abalarem por fofocas mal contadas. Se bem que os fatos tem um pouco de verdade, boa parte dos times que jogam com os Monkeys sempre sofrem baixas de um ou dois jogadores por conta de lesões mal explicadas durante um ataque rival. Mas eu não vou deixar o meu time se mijar de medo, não vou deixar os caras se abalarem por isso e muito menos que visitantes sejam vencedores na nossa quadra. O legado dos Gold Lions deve permanecer até o final da temporada.

Antes de deixar a escola eu devo deixar mais um troféu em sua estante.

Collins Where stories live. Discover now