Capítulo 13

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Após o bipe ter tocado, desligo a esteira e apanho a pequena toalha que estava em cima do painel. Secando meu rosto noto que nunca uma quinta feira foi tão tediosa, o clima quente e abafado não é um dos melhores e muito menos pensar que o treinador Martin tem planos para o fim do dia.
- vamos Andy, seu café vai esfriar. - retiro o pano da frente dos olhos e me viro para encarar minha mãe.
Os braços cruzados, um sorriso idiota nos lábios cobertos pelo batom claro e os olhos azuis vibrantes. Desço da esteira, deixando a toalha pendurada sobre o ombro esquerdo até me aproximar dela.
- não acha que treinar uma hora por dia e ainda fazer isso na escola pode ser cansativo demais ?
- já estou acostumado com esse tipo de esforço mãe, treino desde os treze anos, se esqueceu ?
- não, eu não esqueci, mas você deveria diminuir a intensidade do treino pelo menos.
- mãe, eu estou bem, relaxa. Mas sei que você não está aqui para falar de mim ? Ou está ?
- só pode ter uma razão para você voltar a se focar tanto assim nos exercícios Andy, e eu queria saber se estou certa em achar que Mia tem algo haver com isso ? Desde o início da semana eu não vejo vocês dois juntos e nem mesmo a aliança em seu dedo.
Ter que explicar essa história ainda é meio complicado, pensar em várias maneiras de fazer minha mãe acreditar em mim e não ir pelo mesmo caminho que a ruiva foi. Susan manteve sua palavra de não contar nada a ela, nem mesmo a mais alguém mas ainda estou indeciso sobre me abrir ou não.
- um desentendimento, nada que não de resolva nessa semana ainda.
- espero que se resolva mesmo, gostei da Mia e acho que ela pode fazer bem a você.
- ela faz mãe, acredite.
Ela me olha preocupada, provavelmente já sabendo o que pode ter acontecido e não acreditando no quanto isso me afetou, o quanto uma garota pode ter mudado tanto a minha maneira de agir e pensar em tão pouco tempo.
- tudo vai se resolver filho.
Deus te ouça mãe.
Saio da academia, a deixando para tomar meu banho antes que perca a hora e chegue atrasado. A água gelada não relaxa meus músculos, os deixando mais tensos e enrijecidos ao ponto de me deixar frustado. Enfio as penas dentro de uma calça jeans preta e coloco uma camisa qualquer que encontro pela frente, sentindo o coração bater mais rápido ao encontrar a camisa do Bob esponja dobrada em cima de alguns dos meus moletons. Cuidadosamente, apanho o tecido, levando ao perto do rosto para saber se ainda tem algum perfume nele.
O cheiro dela..
Largo a camisa logo, com receio de que a merda do meu sofrimento aumente ao relembrar minha memória de seu perfume doce.
Pego minha mochila de cima da cadeira giratória, enfiando o uniforme de educação física dentro de um dos bolsos e olhando pela última vez as alianças em cima da escrivaninha antes de sair do quarto. Anthony passa por mim rapidamente, mas me dando a perfeita visão da costas de sua jaqueta de couro, cerro meus olhos ao notar o nosso sobrenome estampado em couro branco. Enquanto ele anda até a porta de sua quarto continuo encarando a peça, estranhando o fato dele usar algo que tenha o nome estampado depois de ter terminado o ensino médio e aposentado sua jaqueta do time.
- gostou da jaqueta Fratellino ( maninho ) ? - me encosto no batente da porta, cruzando os braços e sentindo o peso da mochila aumentar com a posição desconfortável.
- na verdade, eu até gostei, gostaria mais se ela estivesse fora do seu corpo.
- vou aceitar isso como um elogio, eu até te daria uma, mas só mandei fazer duas e já entreguei a outra de presente.
Ele se vira rapidamente, exibindo o sorriso debochado enquanto arruma a jaqueta em seu corpo.
Duas ?
Desistindo de tentar entender esse maldito coloco meus pés no corredor, andando sem olhar para trás mas sentindo minhas costas arderem por conta de saber que Anthony continua me encarando.
- sei que você vai adorar quando a ver Andrew.
Ignoro o que ele diz e sigo para a escada, descendo mais rápido do que deveria com a intenção de deixar a casa o mais rápido possível.
Anthony com certeza é a porra da pedra no meu sapato.
Saio de casa antes que minha mãe venha me dar broncas por conta da falta de apetite no café da manhã, rolo os olhos ao ver que a moto daquele desgraçado está próxima demais do meu carro. Abro a porta do motorista, jogando a mochila no banco ao lado e ligando o veículo, a música deprimente que toca na rádio me dá vontade de ir até meu apartamento e ficar por lá.
Sem a porra do Anthony.
Sem minha mãe ..
Sem Susan ...

Até porque a única pessoa que eu queria não está por perto.

O estacionamento já está tão cheio quanto de costume, as primeiras vagas do lado esquerdo sempre são usadas pelos professores e os responsáveis pela escola mas sempre há alunos que adoram ocupar o espaço proibido.
Alunos como eu.
De longe já vejo o Audi de Brandon, já procurando algum sinal do Mini Cooper vermelho antes mesmo de ver se Sam está junto. Não há mais vagas disponíveis no lado proibido, o que me faz dar uma volta pelo lado direito até ver um lugar no qual possa deixa o carro.
Porra !
O Porsche branco está logo ao lado esquerdo da vaga, e Daniel ainda está em seu interior. Mordendo o lábio com raiva enfio o carro na vaga, praguejando baixo por ter que permanecer ao lado desse cara. Enfurecido por ter dado esse azar, retiro a chave da ignição e pego minha mochila, deixando o interior do veículo o mais rápido possível para evitar qualquer tipo de contato.
- hey cara.
Fecho os olhos com força, jogando a mochila por cima do ombro e me virando devagar para encarar esse babaca. Olhar Daniel agora sempre me traz as lembranças da tarde em que o peguei tentando machucar a ruiva, assim como sempre me traz a vontade alucinante de quebrar sua cara novamente.
- sei que eu não deveria nem estar perguntando isso, ainda mais para você ... Mas, sabe o que aconteceu com a Mia ?
Rio baixo, mostrando a ele que fazer essa pergunta foi um péssimo erro.
- você tem razão, não deveria nem estar falando comigo.
- eu sei que não. - o punho dele está apertando uma das alças da mochila.
- então estamos entendidos.
Tento me virar para seguir meu caminho, entrar na escola e me enfiar dentro de uma sala chata e sufocante, mas sou interrompido logo por um chamamento.
- Andrew, você não respondeu minha pergunta. - rolo os olhos, já irritado com a merda da insistência desse idiota.
- quer saber a verdade Daniel, eu não tenho a mínima idéia do que está se passando com a ruiva e sinceramente, que se foda a sua preocupação ! Ela estava sorrindo, aparentemente bem e eu garanto que não é por minha causa. Vá até a casa dela e veja com seus próprios olhos, já que vocês se tornaram íntimos e me deixe em paz, porra !
Com a respiração desenfreada me viro de uma vez, pisando duro e quase derrubando metade das pessoas a minha frente para escapar desse pesadelo. O alívio é imediato ao pisar os pés dentro do prédio a não ser pelo fato de ver Mia e Sam conversando em frente aos armários, instantemente sigo até eles, focado em chegar até a ruiva antes que a mesma perceba minha aproximação e tente fugir. O loiro é o primeiro a me notar, tentando fingir demência ao continuar sua conversa com a amiga. Diminuo a velocidade dos passos ao chegar perto dos dois, passando o braço esquerdo pela testa e finalmente encostando uma das mãos no ombro da garota.
- ruiva...
Seu peito se enche tão rápido quando esvazia antes dela se virar para me olhar, o semblante sério me deixa um pouco preocupado.
- tira as mãos de mim Andrew, por favor. - Mia tenta não soar grossa, falhando miseravelmente ao quase elevar o tom de voz.
Meu afastamento é tão imediato quanto o franzir das minhas sobrancelhas, com certeza a minha cara mostra tanta confusão que até mesmo Sam olha para a amiga do mesmo modo.
- olha, eu não preciso encostar em você para conversarmos.
- conversar ? Você já não acha que conversamos demais ontem ? Quando praticamente me chamou de vadia ?
- ruiva, eu não quis insinuar isso, você ..
- eu o que Andrew ? - ela me corta, os olhos cinza azulados me encarando com uma certa raiva. - eu sei muito bem interpretar uma frase com eufemismo e sei que você quis sim dizer aquilo para simplesmente mostrar que tem algum poder sobre mim, mas você não tem.
Porra Sam, faça algo !!
- me desculpa então, eu me equivoquei.
Ela sacode a cabeça negativamente e sai andando com pressa, não só deixando a mochila no chão como eu e Sam parados ali. O loiro deixa de encarar a mochila e se abaixa para pegá-la.
- eu tentei te avisar para não fazer nenhuma merda Andrew, agora vai ficar mais complicado de fazer vocês dois ficarem sozinhos sem ela querer arrancar o seu pescoço. - diz ele antes de se levantar. - fica esperto com o celular, te mando mensagem quando der para tentarmos de novo. Encontros não planejados não dão certo, definitivamente não mesmo.
Quando Sam sai para ir atrás do furacão ruivo no meio do corredor eu finalmente noto algo que me tinha passado despercebido.
Que porra é essa ?
A jaqueta de couro em seu corpo tem o mesmo modelo de escrita do nome da jaqueta de Anthony, as letras em couro rosado e costuradas ao redor de rosas e caules. Meu maxilar chega a doer de tanta força feita para me manter controlado.
Ele está chegando cada vez mais perto.

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