Capítulo XLVIII

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                             (João)

  Por mais que aquela viagem tenha sido totalmente inesperada, eu não achava a ideia absurda, pelo contrário, saber que a Ana estava bem longe me tranquilizava, por mim ela ficava por lá mesmo. Gabriel estava com uma cara amarrada, eu também não estava muito afim de conversar, pois sabia muito bem onde essa conversa chegaria. Acho que eu deveria mesmo ter aceitado a proposta do Luiz, fugir era uma boa ideia, para bem longe de toda essa confusão. Mas o problema era que eu amava essas pessoas ao meu redor, e simplesmente eu não conseguia simplesmente ir embora sem nem olhar para trás.

   Quando chegamos no apartamento do Gabriel, me joguei no sofá, enquanto ele se sentou no outro e ficou me observando incessantemente.

   — Que foi? —. Questionei.

   — Estou preocupado, nossos pais disseram que a Ana anda muito perturbada ultimamente, ela tem ficado mais agressiva, mais violenta, ela fica perambulando de madrugada —.

   — Desde quando se preocupa com ela? —.

   — Não é com ela que estou preocupado, é com você. Eu gostaria de perguntar, se é isso mesmo que você quer pra sua vida? Quer mesmo se envolver com o Luiz mesmo sabendo de todos os riscos? —.

   — Eu quero! —.

   — Tudo bem, então não me resta fazer mais nada a não ser ficar de olho em você e na Ana. Ah como eu queria que aquela garota fosse para um manicômio —.

   — Você acha que ela ama tanto o Luiz assim? —.

   — Ela não ama nem a si mesma, não ama nossos pais, não ama a nós dois, nem nenhum de nossos familiares, nem mesmo o Luiz, porque alguma razão que eu desconheço ela ficou obssecada por ele, em um nível doentio, em um nível perigoso, isso não é amor, não se engane, ela pode até acreditar que é, mas é a mais pura e doentia obsessão —.

   — Então ela acha que o Luiz é dela? —.

   — Sim ela acha, creio que algo que o Luiz tenha feito despertou nela prazer, em um nível que ela nunca sentiu antes, e tal qual um dependente sente abstinência, ela também está sentido, isso explica esse comportamento dela —.

   — Ela é muito maluca, não entendo porque nossos pais ainda não internaram ela —.

   — Entenda uma coisa João Pedro, eles não vão a internar enquanto ela não causar muito mal a alguém, esse alguém pode ser eu, você ou o Luiz, e eu não estou nem um pouco afim de ser perseguido por aquela vagabunda —.

   — Nem eu tenho, mas infelizmente estou nessa situação, só temo pela sua reação quando souber toda a verdade, que hora ou outra vai vir a tona —.

   — Eu estava pensando, quando você passar no vestibular podemos viajar para bem longe dela, para um lugar que ela nem faça ideia de onde é, e estaremos em segurança, pois ela nunca vai sair da casa de nossos pais —.

   — Mas e o seu trabalho Gabriel? Você não pode simplesmente ir embora —.

   — Não se preocupa com isso maninho, o importante é você estar bem, podemos inclusive ir para o exterior, você vai gostar de estudar em outro país, já imaginou? Alemanha, Canadá, Estados Unidos, Reino Unido, França, Austrália —.

   — Eu não queria ter que ter que ceder tanta coisa assim, ter que sair da minha casa, de perto da minha família, como um fugitivo da polícia, apenas porque aquela maluca da Ana Paula está obcecada pelo Luiz —.

   — Ninguém quer, mas você poderia ter evitado isso, você sabia muito bem que eles ainda estavam juntos quando se envolveu com ele, e pior sabia que ela gostava dele, gostava não ainda gosta, se envolver foi um erro. Mas não vou lhe julgar, nem muito menos apontar o dedo na sua cara —.

   — Você ainda gosta dele, não é? —.

   — Eu gosto de você, eu quero te ver feliz, é você que eu quero do meu lado a vida toda, o que eu sinto ou sentia por alguém jamais pode afetar nossa relação. Se você acha que só porque se envolveu com o Luiz vou deixar de te amar você está muito enganado —.

   — Desculpa, é que tudo está tão embaraçado ultimamente, eu acho que as coisas jamais poderão ser o que foi —.

   — João Pedro, nada é para sempre, tudo ao seu redor muda, para pior ou para melhor, a questão é de qual lado da mudança você está. Não ache que você vai conseguir manter tudo em harmonia, nem muito menos toda nossa família unida —.

   — Eu só queria que a Ana não existisse, sei que é errado falar isso, pois somos irmãos acima de tudo, o papai me diz isso toda vez que ela me irrita, mas eu não tenho amor por ela, não tenho sentimentos, os melhores dias da minha vida foram os dias que ela estava no intercâmbio. E eu acho que agora com esse bebê, ela nunca mais vai embora —.

   — Não mesmo, ela é preguiçosa, não tem vontade de estudar, nem muito menos de trabalhar, com certeza vai exigir uma pensão vultosa do Luiz, ainda bem que não é meu esse bebê. Nossos pais daqui pra frente vão lhe proteger ainda mais, pois ela está grávida, e o sonho do papai sempre foi ser avô —.

   — Será que eles vão deixar de me amar quando o bebê nascer? Eles nem me dão tanta atenção quanto antes, não sei se foi pelo que eu fiz —.

   — Eles te amam João, eles sempre te amaram, e sempre te amarão, é normal que fiquem felizes com um bebê, ainda mais o primeiro neto deles —.

   — O Luiz disse que queria que ele parecesse comigo —.

   — Então ele seria o bebê mais fofo desse mundo, ainda lembro de você, engatinhando pela casa, todo gordinho, bochechas enormes e rosadas, olhos tão azuis que todo mundo pensava que era de mentira. E os cabelos pretos todo despenteado —.

   — Nunca entendi porque não nasci loiro como vocês —.

   — Você parece nosso avô, queria ter um cabelo bonito assim, aliás você é todo perfeitinho, chega a dar raiva, acho qur você roubou todos os genes da família, os bons, os ruins estão com a Ana —.  Era difícil acreditar no meu irmão, ele era lindo mesmo com as olheiras de tanto estudar e trabalhar.

  

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O Dono do Meu Corpo [+18]Where stories live. Discover now