Capítulo LXIX

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               — É muito difícil entender tudo isso, ser abandonado, em um vaso de lixo, como se eu não valesse alguma coisa —.

— Filho, não fica pensando nisso, o que aconteceu não quer dizer nada sobre quem você, você sempre será o nosso filho independente de qualquer coisa —.

— Como se fosse fácil, mas eu sigo tentando, enfim, acho que eu ouvi o bastante, vou apenas pegar meus documentos e vou embora —. Eu me levantei e segui para o meu quarto, quando lá cheguei e abri a porta, estava tudo muito bem arrumado, como se tivessem arrumado, não estava assim quando eu saí. Sentei-me na minha cama e fiquei olhando para todo o meu quarto, eu amava aquele lugar, até porque aquele era o meu refúgio, o meu paraíso de tantos e tantos dias, era simplesmente o meu lugar favorito em todo esse mundo, onde passei quinze longos anos, embora aquele lugar tenha mudado bastante durante esse tempo.

— Você vai morar com ele? —. Questionou meu pai ao entrar no meu quarto, ele sentou-se ao meu lado na minha cama.

— Sim, mas vamos embora daqui à algumas semanas, Luiz vai conseguir um trabalho em outro lugar e eu vou fazer minha faculdade —.

— Entendi, mas não precisar ir agora, pode esperar um pouco mais aqui conosco, pode passar os seus últimos dias com sua família —.

— Queria ter cabeça e sanidade mental para isso, mas acho que isso seria muito para mim —.

— João, por mais que seja difícil, sempre se lembre que eu e sua mãe o amamos bastante, você é nosso filho, e não vai ser apenas o seu sangue que vai dizer que não, até porque o que vale é o que o coração diz, o que o coração sente —.

— Obrigado pai —.

— Eu queria me desculpar pelas coisas que ocorreram nos últimos dias, sei que deveríamos ter ouvido você, mas ainda é difícil acreditar no que a Ana é capaz de fazer, mas ainda bem que ela não fez nada de ruim a você, com exceção do que ocorreu no hospital —.

— Deixa para lá, isso tudo não vai ser consertado mesmo, ficou no passado o que importa agora é o meu futuro, eu preciso relevar algumas coisas se eu quiser ser feliz, e eu acho que eu posso ser feliz —.

— Mas é claro que você pode ser feliz, você vai ser muito feliz meu filho, e vou estar sempre aqui, pode contar comigo para qualquer coisa. Quando você se formar eu vou estar no primeiro assento, batendo palmas e torcendo por você. Mas eu também estarei com você quando estiver mal, mesmo que eu esteja aqui e você esteja do outro lado do mundo. Eu sei que eu te magoei bastante, mas eu quero consertar isso —.

— Não precisa consertar nada, só basta não mentir mais para mim e também não tentar controlar a minha vida como se eu ainda fosse uma criança ingênua —.

— Por que você teve de crescer? Era tão melhor quando você corria pela casa apenas de cueca com aquela barriguinha enorme, e aquele cabelo de cuia —. Eu sorri, por mais que eles tivessem mentido sobre mim, sobre a minha vida, eu tenho de concordar que minha infância foi quase perfeita. Eram muitas as lembranças felizes que eu tinha com meus pais e com o Gabriel.

— Isso parece ter sido a séculos —.

— E para mim tudo passou muito rápido, lembra que você gostava de dormir conosco quando estava com medo de alguma coisa, você se escondia debaixo do edredom e ficava abraçando aquele dinossauro de pelúcia —.

— Eu lembro, eu gostava bastante —.

— Eu acho que não fui um pai muito bom com os seus irmãos, não que eu tenha sido um pai perfeito para você, mas eu dei o meu melhor, eu te amei mais do que qualquer coisa nesse mundo, ainda lembro quando eu te vi pela primeira vez, sua mãe implorou para que fossemos até o juizado de menores e adotássemos você, eu nunca a vi tão aflita como naquele dia, até que eu entendi o porquê —.

— Acho que eu tive muita sorte, qualquer pessoa poderia ter me achado e me entregado para o juizado de menores e depois disso? Eu passaria toda a minha vida em um orfanato? Ou então eu iria para um casal perturbado, eu tenho até medo de pensar nisso —.

— Acho que já estava escrito que você seria nosso filho, e acredite em mim, você foi a melhor coisa que nos ocorreu, nosso casamento estava indo de mal a pior, sua mãe sentia-se mal por causa da perda e o luto dela preenchia todo lugar que ela ia, sem falar que ela nunca perdoou sua irmã —.

— Deve ter sido bem difícil para ela? —.

— Foi, mas logo quando você chegou, foi como se ela tivesse renascido, ela estava feliz, ela sorria, ela tinha tanto medo de te perder que nos primeiros dias ela colocou seu berço ao lado de nossa cama, para caso ocorresse alguma coisa ela se levantasse bem rápido, mas tudo isso passou com o tempo —.

— Fico pensando em quão ruim para o João Felipe se a doida da mãe dele ficasse tentando tomá-lo do Luiz, ele é tão lindo, tão pequeno —.

— Não se preocupe com isso, ele vai crescer muito feliz e vai ter uma infância tão boa, até melhor que a sua, até porque o pai dele não vai precisar mentir para protegê-lo —.

— Mentir para proteger uma pessoa, pior que faz um pouco de sentido, fico imaginando quando ele começar a perguntar da mãe dele, o que vamos dizer, que ele é mais um enjeitado como ela própria disse —.

— Claro que não —. Meu pai me abraçou bem forte e começou a passar o meu nariz pelo meu pescoço assim como ele fazia quando eu era criança, eu comecei a rir e tentei me soltar, mas eu não consegui.

— Quem é o caçulinha do papai? —.

CONTINUA NO PRÓXIMO CAPÍTULO

O Dono do Meu Corpo [+18]Donde viven las historias. Descúbrelo ahora