Capítulo LVIII

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   (Luiz)

    O João havia sumido completamente, o desgraçado do seu pai havia feito do filho um prisioneiro, só nos falávamos uma vez por dia e era quando ele estava na escola, Alana emprestava seu telefone e assim podíamos nos falar, mas por pouco tempo, somente durante os quinze minutos do seu intervalo.

— Eu estou com muita saudade —. Ele me disse. Pela chamada de vídeo estava bem nítido que ele não estava bem, estava pálido, com uma expressão melancólica, como se fosse cair a qualquer momento.

— Amor, você está se sentido bem? Ao que parece você não está nem um pouco bem de saúde —.

— Eu estou bem, na medida do possível, é que está sendo horrível, esses dias longe do mundo, parece que estou isolado do universo —.

— Você não precisa passar por isso, se lembra daquela nossa conversa? Vamos fugir! Você pode fazer isso, vai ser bem melhor para você, não vai precisar viver trancafiado, nem muito menos totalmente isolado do mundo —.

— Não dá Luiz, eu não posso fazer isso, não desse jeito, não agora —.

— Por que não? —. O sinal do intervalo, ele se despede e desliga a ligação. Aquilo era de cortar o coração de qualquer um, como que alguém tem coragem de tratar um garoto como o João daquela forma, minha vontade era esmurrar esse pai dele, mas se eu fizesse isso aí sim eu perderia o João de vez. Eu estava cada vez mais sem saída, parece que quanto mais eu tentava escapar dessa teia mais eu ficava preso.

— Falou com o João? —.

— Falei, ele está muito mal, seu pai é muito sem noção de fazer isso com ele —.

— Eu já desisti de tentar entender minha família, é difícil, eles não conseguem amar alguma coisa normalmente sempre tem que ser dessa forma possessiva —.

— Queria poder fazer alguma coisa, mas parece que estou de mãos atadas —.

— O problema é que João não vai abandonar os nossos pais, até porque eles o amam, pode parecer difícil de entender, mas é verdade, nunca duvidei disso —.

— E que tipo de amor é esse que faz tão mal —.

— Não sei, não consigo entender —.

— E a maluca da sua irmã? —.

— Vai voltar no Domingo, se já está difícil para o João agora, não consigo imaginar quando aquela vaca chegar —.

— Não acha que seria melhor você ir ficar com ele? Com certeza ele se sentiria melhor com o amado irmão ao lado dele —.

— Faria melhor para ele, mas e para mim? Não consigo ficar no mesmo lugar que aquela bruxa por mais de dois minutos —.

— Então não tem jeito para ele —.

— Minha mãe vai chegar, ela é protetora com o João, mas ainda assim ela é bem mais flexível com ele, até porque é o caçula dela —.

— Ele não é apenas filho deles, ele é seu irmão, amigo de tantas pessoas, meu namorado, eles tem que entender isso, tem que entender que esse amor demais faz mal —.

— Eles amam desse jeito, mas tem uma razão, eles tem muito medo de perdê-lo —.

— Às vezes acho que você esconde alguma coisa —.

— Eu não estou escondendo nada, apenas estou falando a verdade, como eu mesmo já lhe contei, minha mãe chegou a ficar uma semana direto sentada ao lado do João no hospital, não saía por nada, por nada. Ele era tão frágil, e ele escapou de tantas vezes —.

— Ele cresceu, hoje é um homem saudável, forte, bonito. Qualquer um percebe isso, então não tem mais desculpas para agir assim —.

— Um dia quando você for pai você vai entender —.

— Espero que eu não sufoque o meu filho dessa maneira, e não seja a causa por ele ficar mal —.

— Você tem de aprender tanta coisa ainda Luiz, se quiser ser um bom pai —.

— E com certeza você vai me ensinar —.

— Talvez —.

— Você nunca sentiu ciúmes do João por conta do seus pais? Das poucas vezes que a Ana Paula conversou comigo ela demonstrou ter muito ciúmes do irmão, por um tempo ainda acreditei que ela era apenas horrível por conta disso —.

— Muito tolo é quem acredita nisso. Se quer saber eu senti sim um pouco de ciúmes, logo quando a mamãe chegou em casa com ele, passamos uma semana com a nossa avó. Aí todo mundo da minha família falava no João, de como ele era pequeno e bonito. Por um tempo eu senti ciúmes, eu era criança ainda, um pouco grandinho, mas meus pais gostavam de brincar comigo. Até que eles brincavam apenas com o João, uma noite ele estava chorando tão alto que me acordou, pelo que eu percebi nossos pais estavam dormindo bem pesado, me levantei e fui até lá e quando ele me viu imediatamente parou de chorar, eu não entendi muito bem aquilo, pois eles diziam que o João só parava de chorar quando via minha mãe —.

— Pelo visto ele gostou de você desde muito cedo —.

— Sim, percebi isso no sorriso dele. O mais engraçado era que daquela idade ele não enxergava mais do que borrões, mesmo assim sabia quem eu era. Eu disse oi a ele, e me retribuiu com um sorriso totalmente banguela, o peguei no colo, eu nunca tinha pegado ele, o levei até o sofá e fiquei com ele até o dia amanhecer o que não demorou muito. Meus pais me deram uma pequena bronca, mas não foi nada demais, pois eles deixaram o João no meu colo —.

(João)

Lá estava eu no aeroporto com meu pai, ele havia me obrigado a ir receber pessoalmente a grávida de Taubaté como se ela merecesse.

— Sua irmã vai ficar feliz quando nos ver —.

— Vai sim, vai matar de felicidade —.

— Para com isso, sua irmã passou um bom tempo fora e você age dessa maneira —.

— Já estou cansado pai de fingir que está tudo bem quando não está, ainda me lembro muito bem das coisas que sua filhinha me disse ao telefone, cada palavra cada vírgula —.

— João! — Minha mãe gritou, eu olhei para o desembarque e lá estava ela vindo depressa em minha direção, eu muito feliz faço o mesmo, nos abraçamos bem forte, ela me aperta. A Ana Paula passa direto, e não dá uma palavra, eu fico tão triste com isso, que chego a sorrir.

— Sua avó mandou um monte de coisas pra você, ela disse que se quiser pode ir passar suas férias lá, andar a cavalo, tomar banho na cachoeira —.

— Eu não sei andar a cavalo mãe —.

— E daí? você aprende —.

— Dá de para com esse grude, eu quero ir para casa —. A nojenta finalmente abre a boca.

— Vamos para o carro —.

— Onde está o Gabriel? —. Questiona minha mãe. Meu pai responde que ele está trabalhando, ela olha para mim e me puxa para perto dela, eu me sinto bem melhor com minha mãe do meu lado.

Quando chegamos no carro, a Ana deu um belo de um show. Minha mãe havia se sentado na frente como sempre se sentava.

— Mãe, eu quero sentar-se aí —.

— Senta lá atrás com o seu irmão —.

— Eu não vou sentar atrás com aquele fedelho, já estou com náuseas só de sentir o cheiro dele —.

— Que tal ir de carroça? Mas pode ir na frente levando ela —.

— João Pedro! —. Meu pai falou.

— Ah seu mons... —.

— Ana Paula cala essa boca, senão eu esqueço que você está grávida e deixo a marca da minha mão na sua cara —.

CONTINUA NO PROXÍMO CAPÍTULO

O Dono do Meu Corpo [+18]Where stories live. Discover now