Capítulo LXVIII

1.8K 174 13
                                    

   Eu estava nervoso, era difícil voltar naquele lugar, ainda mais depois de tudo que houve, não era fácil, mas para dar alguns passos a frente na minha vida, eu precisava resolver isso tudo de uma vez só.

   — João? —. Falou minha mãe surpresa ao abrir a porta, ela não estava nada bem, seu cabelo estava bagunçado seus olhos vermelhos e com grandes olheiras.

   — Posso entrar? —. Questionei, Luiz estava bem ali atrás de mim, senti sua mão no meu ombro.

   — Claro que pode essa é sua casa —. Ela falou e logo em seguida abriu a porta para entrarmos.

   — Quem está na porta? —. Meu pai falou ao chegar na sala. Ele olhou para mim, vi um tênue fio de felicidade no seu olhar que talvez poderia ser alívio, ou sabe-se lá o quê pudesse estar passando na mente dele. O silêncio era perturbador, eu os olhava tentando entender porque eles fizeram isso comigo, e por mais que eu me esforçasse eu não conseguia entender.

   — Você voltou para casa? —. Questionou meu pai.

   — Não, eu só quero conversar, vocês me devem respostas, e só vocês podem falar tudo, as respostas que o Gabriel me nega —.

    — Do que você quer saber meu filho? —.

    — Do que mais eu iria querer saber? Quero saber como vocês me acharam, porque me adotaram e porque mentiram para mim —.

    — Tudo bem, sente-se pois a história é bem longa —.

    — Como está meu neto? —. Minha mãe questionou Luiz. Que lhe respondeu:

    — João Felipe está muito bem, ele chora bastante e come mais ainda —.

   — Dezenove anos atrás, sua mãe estava grávida, seria o nosso terceiro filho, queríamos um menino, um menino assim como você, ao contrário do Gabriel e da Ana Paula, ele foi planejado, nos preparamos por três anos, mudamos de casa, eu arrumei um emprego melhor, sua mãe cuidou da saúde dela, estava tudo certo. E a gestação ocorreu tranquilamente, mas... —. Ele parou de repente, como se algo no passado lhe causasse muita dor, ou como se não houvesse forças para pronunciar as palavras.

    — Sua irmã me fez cair da escada, foi acidente, mas ainda assim eu caí da escada, falei tantas vezes para ela não deixar aquele carrinho nos degraus —.

   — Ela não é minha irmã, pelo menos uma coisa boa disso tudo, não sabem o quanto eu fiquei feliz com isso —.

   — Eu levei sua mãe para o hospital, mas não adiantou, ela perdeu o bebê, ele era tão lindo, era perfeito, assim como você, mas infelizmente ele não pode vir ao mundo —.

    — Então aquelas fotos de você grávida são reais? —.

    — São, mas não era de você, era do seu irmão —. Minha mãe falou.

    — Qual era o nome dele? —. Perguntei.

    — Christian, demorou tanto tempo para isso parar de doer, eu sangrei durante aquela noite, e continuei sangrando por um bom tempo. Parecia que o meu mundo havia acabado, nem mesmo os meus dois filhos eram capazes de preencher aquele vazio —.

    — Como vocês me encontraram? —.

    — Eu havia saído com o Gabriel, tínhamos ido ao hospital ele estava com bastante febre e eu prometi para mim mesma que não perderia nenhum filho meu. No banheiro eu escutei um barulho baixinho, como de um choro de bebê, quando eu olhei, lá estava você, embrulhado em um casaco, um bebê lindo, forte de cabelos tão pretos que pareciam de mentira. Eu te peguei no colo, você olhou para mim, eu olhei para os dois lados e não havia ninguém naquele banheiro, o que significava que você estava sozinho —.

   — Por que me abandonaram? —.

   — Não sei, talvez porque você tinha uma doença quando era bebê que durou bastante tempo, acho que isso a assustou —.

   — Mas ela veio atrás de você, há sete anos, sabe-se lá como mas ela descobriu onde você estava —.

   — Se quiser podemos entrar em contato com ela —. Minha mãe falou.

   — Não, eu que não quero ter o mínimo de contato com quem fez isso comigo, se vocês não queriam me contar isso por esse motivo, vocês foram bem tolos de achar que eu iria gastar dias, meses ou anos da minha vida atrás de alguém que me abandonou —.

   — Ficamos com medo, não sabíamos quando era a hora certa para te contar, queríamos te proteger de qualquer coisa, qualquer coisa que pudesse te deixar triste —.

   — Não adiantou muita coisa todo esse esforço para me esconder a verdade, afinal me magoaram da mesma maneira, saber que fui largado em uma caixa de lixo me magoou, mas vocês terem mentido tanto assim, me magoou ainda mais —.

   — Fizemos isso, para que você tivesse uma infância feliz, e você teve, você não pode negar isso. Se tivéssemos contado antes certamente você teria passado a maior parte da sua vida se sentindo aparte da nossa família, assim pensamos, e fizemos isso para qur você se sentisse o mais amado possível —. Explicou minha mãe.

   — Mas por quê? —.

   — Que diferença faz João? Você ter saído de mim ou não? Sabe o que eu sinto? Sinto que eu te gerei, mesmo João tendo gerado, sinto que eu senti as dores mesmo não tendo sentido. Quando eu te vi pela primeira vez eu senti muitas coisas, senti tristeza por ver um bebê lindo daqueles sozinho e abandonado, mas eu tive uma certeza de que daquele momento em diante você seria o meu filho, porque eu sentia isso, era mais forte que qualquer coisa que já senti na minha vida, é inexplicável —.

   — Eu sei como é — Luiz interrompeu, eu não senti nada do que sua filha sentiu — Mas quando peguei meu filho nos braços nada mais importou, nada mais tinha o mínimo valor era apenas eu e aquele pequeno lindo ser —.

   — Era isso que vocês tinham tanto medo que a Ana fizesse? De que me contasse a verdade, e eu imaginando que ela ia me esfaquear, mas que tolo fui eu achando que o pior golpe que ela poderia ter me dado seria com apenas palavras —.

   — Sua irmã sempre foi problemática, nós a avisamos sobre as consequências caso ele fizesse o que falamos para não fazer. Foi difícil a decisão, mas ela já não é problema nosso —.

    — Ela sempre me odiou, vocês sabiam disso, sempre souberam, porque então me forçaram a fingir que tudo estava bem? —.

   — Ela estava grávida, acreditávamos que ela iria finalmente se tornar adulta, mas por mais que tentemos ela não vai superar isso —.

    — Fizemos isso para ficar com nossos dois filhos e acabamos com nenhum dos dois —.

CONTINUA NO PRÓXIMO CAPÍTULO.

O Dono do Meu Corpo [+18]Where stories live. Discover now