Capítulo LVII

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  (João)

   Á caminho de casa, eu me sentia um prisioneiro, meu pai não dava uma palavra sequer, ele estava concentrado no trânsito. Mas isso não o impedia antigamente de falar comigo. As coisas haviam mudado, drasticamente.

   Eu já não era a mesma pessoa, que as pessoas acham que sou. Me pai me tratava como a Ana, ou pior, difícil imaginar uma pessoa pior do que ela. Mas sempre existem. Só tenho medo de encontrar e se encontrar eu quero mais e me afastar.

   Quando cheguei em casa, eu me sentei no sofá, meu pai sentou logo a frente, ele ficou me olhando por um bom tempo em silêncio. Aquilo era muito incômodo, era quase como uma tortura, talvez fosse.

   — O que foi pai? —.

   — O que está acontecendo? —.

   — Como assim o que está acontecendo? —.

   — Com você! Porque mudou dessa maneira? você sempre foi um filho tão bom, obediente, sincero. Mas de uma hora pra outra começou a esconder coisas. Bulas as regras —.

   — Pai, eu ainda sou eu, ainda sou o seu filho, sei que o que fiz foi muito errado, mas isso já passou, demorou muito tempo pra eu me perdoar, eu sentia medo, muito medo, e pelo visto esse medo era real. Na primeira oportunidade de contar sobre o Luiz eu assim fiz. Fui sincero —.

    — Meu filho, eu lhe alertei tantas vezes, para não se envolver com aquele cafajeste, você mais do que ninguém sabe o que ele fez com a sua irmã. E pior ele fez com você. Ele veio para debaixo do nosso teto, comeu da nossa comida, e ainda assim insultou a nossa família, colocando irmão contra irmão —.

   — Ele errou pai, mas ele mudou, ele mudou por mim, pelo filho dele —.

   — Meu filho. Você é muito novo, ainda é muito inocente, estou nesse mundo a mais tempo do que você, sei reconhecer muito bem uma pessoa que não presta, e aquele cafajeste não vale nada. Não faça isso, não deixe ele magoar você. Você não disse que tinha um garoto do colégio que gostava de você? —.

    — Mas eu não gosto dele, ele é legal, ele é perfeito, mas não vou ficar com uma pessoa gostando de outra —.

   — Filho, você ainda vai conhecer muitas pessoas, talvez essa coisa que você sente por esse cafajeste, nem seja o que você pensa que é, ás vezes nos enganamos —.

   — Pode ser, pode não ser. Mas o quê importa é o que eu sinto no momento e o que eu sinto é isso —.

   — Isso o que? —.

   — Eu gosto dele —.

   — Ele traiu a sua irmã, com você, acha mesmo que ele não fará pior que com você? Não seja tão imaturo assim —.

   — Ele não amava a Ana, nunca amou na verdade, mas o que ele sente por mim é verdade —.

   — E como você sabe? Você leu a mente dele? Ou ele lhe disse? Palavras são palavras, elas são o que queremos que elas sejam —.

   — Eu só queria não ter que passar por tudo isso —.

   — Deixe eu lhe ajudar, seu pai sempre cuidou de você, deixe eu continuar cuidando —.

   — Eu te amo pai, mas apenas o seu amor não é o suficiente —.

   — E é por isso que se submete a essas coisas? Apenas por um sentimento de um qualquer, apenas para preencher o que lhe falta? —.

   — Demorou muito tempo para eu descobrir o que faltava em mim, e só percebi quando ele chegou na minha vida, nas nossas vidas. Nele você pode duvidar a vontade, mas as minhas palavras são totalmente verdadeiras. Eu amo ele, eu sou apaixonado desde a primeira vez que o vi. E eu e ele namoramos, e eu estou muito feliz com isso, e ficaria ainda mais feliz se o senhor aprovasse —.

    — Acha mesmo que eu vou aprovar isso? —.

   — Eu não acho, mas só queria entender o porquê —.

   — Você ainda quer um porque depois de tudo? Você ainda precisa de um porque? —.

    — A Ana faz o que quer, namora quem quer, e nunca você a proibiu de namorar alguém —.

    — Agora me diga, porque eu não posso namorar com quem eu quero? —.

    — Porque eu sou seu pai, e eu estou cuidado de você, e se eu lhe digo não é não —.

    — Eu já entendi aonde quer chegar, tudo bem, não vou discutir, eu lhe amo demais, não quero criar intriga, nem muito menos ser o responsável por ruir nossa relação —.

   — Entregue o seu telefone, o seu computador, seu tablet, seu notebook, e qualquer outra coisa que você possa se comunicar com aquele canalha —.

   — Que assim seja —. Fui até meu quarto peguei todas as coisas coloquei dentro de uma caixa e entreguei. Depois disso me virei e fui para o meu quarto.

   — Vamos jantar —. Meu pai falou.

   — Não tenho fome —.

   — Pedrinho —.

   — Não me chama de Pedrinho, aliás eu ainda sou seu filho? Porque acho que não, se quiser ainda é tempo, e pode me desertar —.

   — Claro que você ainda é meu filho —.

   — Está bem, agora me de licença, vou para o meu quarto, ou melhor pra minha prisão —.

    Entrei no meu quarto, deitei na cama, comecei a chorar, eu sentia tanto ódio, tanto ódio, aquilo nunca havia acontecido comigo, meu pai nunca havia agido daquela maneira comigo. Mas agora eu estava cerceado, mas pelo menos estava em casa. Acabei dormindo bem tarde, foi bem difícil dormir, minha cabeça estava bem cheia.

  Acordei no outro, dia tomei um belo banho, vesti um moletom coloquei um capuz e sentei no sofá para esperar meu pai me levar para a escola.
 
   — Vem tomar café filho —.
 
   — Não quero, estou sem fome —.
 
   — Vai ficar sem comer João Pedro? —.
 
   — E eu ficar sem fazer alguma coisa importa? —.
  
   — Eu sei que está com raiva, eu não estou feliz com isso, mas você tem que  comer —.
 
   — Eu só quero ir para a escola, não quero comer —.

  Meu pai me levou para a escola, ele foi me deixar na porta, acho que na cabeça dele o Luiz estava me esperando na porta para me levar embora.

   — Tenha um bom dia filho —.

  Apenas coloquei meu capuz e entrei na escola, fui direto para a minha sala, me sentei na última cadeira e abaixei minha cabeça.

   — Bom dia amor da minha vida, o que foi que aconteceu? —. Alana chegou e me questionou.

   — Meu pai simplesmente cortou qualquer contato meu com o mundo exterior —.

   — Nossa nenê, ele não pode fazer isso —.
 
   — Deixa pra lá, eu sempre tento agradar todo mundo e sempre me dou mal, só queria que tudo desse certo pra mim —.

   — Mas vai dar tudo certo pra você, você tem um futuro brilhante pela frente —.

   — E um presente deprimente —.
 
   — Se quiser posso ir para a sua casa te fazer companhia —.
 
   — Melhor não, nem sei se posso receber alguém —.

CONTINUA NO PRÓXIMO CAPÍTULO.

   

 

  

  

  

O Dono do Meu Corpo [+18]Where stories live. Discover now