Capítulo LIX

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(João)

   Dia após dia, semana após semana, tudo piorava, todos os dias pareciam os mesmo, porém sempre piores. Já fazia mais de dois meses que eu não via o Luiz. O pior de tudo era que eu falava com ele por mensagem, e tudo isso graças ao Gabriel que me deu um, mas disse que não era pra eu deixar o papai vê-lo.

   Ele vem aqui às vezes, conversamos por várias horas no meu quarto, na última vez o Dario veio, eu achei fofo o Gabriel apresentando ele para os nossos pais, graças a Deus a Ana Paula tinha saído. Meu pai gostou dele, depois conversamos e ele disse que o Dario parecia ser um bom rapaz. Ah se ele soubesse que o Luiz é ainda melhor para mim.

   — Sabe, às vezes eu fico me perguntado, o que raios você fez pra estar de castigo, mas seja lá o quê foi só serviu pra abrir os olhos dos nossos pais  agora eles sabem que você não é aquele anjinho que pensavam que você era —. Ana fala, eu estava na varanda lendo, ao que parece esse era o seu maior prazer me incomodar. Ela chega com um copo de suco na mão.

   Permaneci em silêncio, eu tinha raiva dentro de mim, mas eu não queria nem dirigir qualquer palavra a ela, nem muito menos gastar saliva.

   — Não está ouvindo moleque? —. Não dou atenção. Eu pensei que lhe ignorar seria a melhor atenção até ela jogar todo o suco em cima de mim.

   — Você ficou maluca? Sua idiota? Por que você é assim? Por que você é essa bosta de pessoa? Faz um favor pra nossa família e se joga dessa sacada, porque você não vai fazer falta —.

   — Mas o quê é isso João Pedro? —. Questionou meu pai, ele tinha acabado de chegar do trabalho ainda estava com a  sua pasta na mão.

   — Pai, ele disse que queria que eu perdesse o meu bebê —. Ana Paula disse e começou a chorar e abraçou nosso pai, eu estava intacto de tanto choque, e o pior de tudo foi que ele ficou consolando ela.

   — João Pedro, sobe agora! —.

   — O que? Eu estava aqui lendo, aí essa maluca vem aqui, joga suco em cima de mim, e depois fica inventando um monte de coisa —.

   — Eu ouvi o que você falou, não se diz isso para ninguém, muito menos uma pessoa da família, ela é sua irmã —.

   — Não, ela não é minha irmã, eu só tenho um irmão —.

   — Por que você faz isso com a sua família? Por que você se tornou essa pessoa? —. Eu não falei nada, apenas me levantei, eu estava encharcado, caminhei até o meu quarto tranquei a porta e fui para a minha banheira.

   Fiquei lá por um bom tempo, ela estava conseguindo o que queria, ela estava cada vez mais me tornando um monstro para os nossos pais.

   Pior de tudo que já estava perto de o bebê nascer, e a audiência pela guarda dele estava ainda mais perto, Luiz disse que decidiu esperar até ele nascer. Para não prejudicar a saúde dele e da Ana. Mas eu acho que ele fez isso pelo seu filho. Por ela ele nutre apenas desprezo.

   Tomei meu banho e continuei a ler, era isso que eu fazia na maior parte do tempo, lia. Minha coleção pessoal aumentava a cada dia. Pelo menos isso meu pai não tirou de mim. Ele disse que nem a visita dos meus amigos eu poderia receber, para não estressar a Ana.

   — João! —. Minha mãe chamou. Logo depois abriu minha porta e entrou com uma bandeja na mão. Colocou bem em cima da minha cama e depois sentou.

   — O que foi que aconteceu? —.

   — Nada diferente do que aconteceu antes, apenas a sua filha infernizando a minha vida, eu não posso sair de casa, agora não posso sequer sair do meu quarto, porque caso contrário ela me dá um banho de suco —.

   — Seu pai disse que você falou coisas horríveis pra sua irmã, isso não se fala a ninguém —.

   — Eu estava com a cabeça quente, ela tinha acabado de jogar um copo de suco em mim, eu estava apenas lendo na varanda, como eu sempre fiz —.

   — Isso não justifica nada —.

   — Olha mãe, eu vou ser bem sincero, eu só estou aqui porque amo vocês, mas eu não aguento mais, eu vivo como um prisioneiro, eu não tenho mais contato com ninguém, a Ana Paula fica infernizando minha vida. No dia que eu desistir de ficar aqui eu não volto nunca mais —.

   — Acha que eu queria isso? Acha mesmo? Você já é adulto, pode fazer o que quiser, mas seu pai e eu sabemos o que é melhor para você —.

   — O papai sabe o que é melhor para ele —.

   — Ele te ama demais meu filho, o que eu vou dizer aqui tem que ser mantido em segredo —.

   — O que? —.

   — Ele me disse que você é o favorito dele —. Ela passou a mão na minha cabeça, arrumando os meus cabelos.

   — Do que adianta ser o favorito de alguém? Quando essa pessoa nem confia em mim —.

   — Tem sido difícil para ele —.

   — Tenmm sido difícil para todo mundo, mas tudo caiu em cima de mim, não vejo a Ana trancada, não a vejo sofrendo tortura psicológica de alguém, não os vejo sendo afastados das pessoas que vocês amam —.

   — Tem certeza?! A cada dia vocês se afastam de nós, antes era seus irmãos, mas agora até você, acho que ao menos podemos ter uma relação amigável entre nós —.

   — É muito fácil, quando a senhora não tem uma pessoa que a odeia

  — E quem te odeia meu filho? —.

  — A Ana mãe, a senhora sabe muito bem disso, ela nunca gostou de mim, ela faz da minha vida um inferno —.

   — Eu vou conversar com ela, tudo vai ficar bem —.

  — Sim, tudo vai ficar bem, mas não enquanto eu estiver aqui —.

   — Aqui é a sua casa, aqui você está protegido —.

   — Não sabia que dentro da boca do leão era o melhor lugar para se proteger dele —.

   — Eu não quero que você vá embora, você é meu filho, você tem que ficar aqui —.

  — Um dia eu vou embora, de um jeito ou de outro, estou aqui apenas aproveitando os últimos momentos, mas os últimos momentos não são momentos que são aproveitáveis —.

  — Eu vou conversar com o seu pai, vou conversar com a Ana —. Minha mãe se levantou e foi até a porta já saindo do meu quarto.

  — Mãe, eu te amo —. Eu disse, ela sorriu e disse o mesmo. Pelo menos ela não havia gritado comigo, como o meu pai fez. Nunca na vida imaginei que uma das pessoas que eu mais amo me trataria daquela forma.

CONTINUA NO PRÓXIMO CAPÍTULO




  

O Dono do Meu Corpo [+18]Where stories live. Discover now