Callous | h.s

00| Prólogo

P R Ó L O G O

Quando o Matt, naquele dia chuvoso, frio, e cheio de neve, me trocou por um maço de notas, eu não me senti propriamente mal. Bem, eu era apenas um miúdo de oito anos. Aquilo que eu queria era ver a minha irmã viva e com condições para crescer, mesmo sendo demasiado novo para perceber isso tudo. Eu lembro-me de me despedir dos meus pais com um abraço e de ter dado um beijo à minha irmã, mesmo que ela não se tenha apercebido de quem eu era, devido aos poucos dias de vida dela.

Eu só me lembro das palavras do Matt para os meus pais "eu vou torna-lo no miúdo com mais poder que vocês já viram". Acabamos por sair daquele café e eu nem me limitei a olhar para trás para os ver. O Matt levou-me para uma casa grande e eu fiquei trancado num quarto a chorar a noite toda. Foi a última vez que chorei em toda a minha vida. Nunca mais derramei uma lágrima, e a partir desse dia, tudo o que consegui que crescesse em mim foi raiva, ódio, desprezo por tudo e por todos e tornei-me na pessoa mais insensível de sempre.

Eu passei a trabalhar para o Matt. Ele não me criou como um filho nem algo parecido. Ele só se limitou a educar-me sobre as suas regras rígidas. Ele ensinou-me a ser violento e agressivo com as pessoas. A ser mal criado, a perder a bondade que os meus pais me tinham ensinado.

Até que ele me fez acreditar que eu cometi um crime, dando-me a possibilidade de me tornar numa pessoa igual a ele. Então eu passei a odiar-me profundamente.

Mas, se fosse só isso, talvez eu nem o odiasse tanto como passei a odiá-lo depois daquele dia. Até que cheguei ao ponto de o querer matar, com as minhas próprias mãos.