38| Amizade

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C A P Í T U L O 38

A M I Z A D E

O arrependimento pairava em todos os lugares. As pessoas agiam por impulso e depois disso, depois de tomarem consciência e aperceberem-se do que se estava a passar, ficavam arrependidas. Mas, o que é o arrependimento? Não passa de uma substituição do orgulho da pessoa que durante um tempo indefinido só se vê a si mesma. Orgulho mata e era o que ia acontecer ali, connosco.

Não sabia onde poderia encontrar o Niall. Até poderia ter perguntado à ruiva resingona, mas preferi ser orgulhoso e fazer eu mesmo uma tentativa. Não percebia como é que o Niall tinha ido embora, fazendo-me acreditar que o tinha morto, com aquela autoritária de primeira. Era difícil para mim perceber o que raio ele via nela. Era difícil e talvez nem me entra-se na cabeça se ele me tenta-se explicar tal coisa que mais me parecia absurda.

A minha única tentativa era o esconderijo.

Será que o Matt sabia que ele tinha voltado. Estaria o Niall a viver no esconderijo com a namorada? Quem era ela? Porque é que ela parecia ser tão importante para ele? Estaria ela relacionada com o Matt para nos destruir a todos? Estaria o Niall envolvido com o Matt para me destruirem a mim? Porque razão tinha o Matt tanto ódio de mim?

Eram muitas perguntas, para tão poucas respostas.

Entrei com o carro pela floresta a dentro e conduzi até ao esconderijo. Ainda fiquei alguns minutos no carro a pensar se seria o melhor. Independentemente de tudo o que pudesse vir a seguir, o Niall tinha-me traído. Ele podia voltar a fazê-lo novamente. Porém, algo mais forte que a minha teimosia mandou-me avançar.

Quando deitei a mão à porta, ela estava trancada. Peguei então na minha chave e quando entrei lá estava ele, sentado no sofá. Eu estava a fervilhar por dentro. Raiva a correr-me nas veias. Independentemente daquilo que a Ambar me tinha dito, se o Niall me queria convencer e levar-me a acreditar de novo nele, tinha de fazer muita mas muita coisa, porque não iria ser assim tão fácil como ele queria.

- Vieste. – ele constatou o óbvio.

- Ya. – sentei-me em cima da mesa para o poder observar. Se havia algo que eu sabia muito bem, era observar as expressões corporais das pessoas e saber o que elas queriam transmitir, mesmo que escondessem o óbvio com palavras. Era das poucas coisas que me orgulhava de ter aprendido com o Matt. – Podes falar. Eu tenho mais do que fazer.

Cruzei os braços e olhei firmemente para ele. Naquele momento já esperava que acontecesse qualquer coisa.

- O que é que queres saber?

- Estás a brincar comigo não estás? – perguntei. – Já não te bastou a outra vez? Porque é que não ages como um homem? Ou foi a outra filha da... – não consegui concluir a frase porque ele levantou-se e aproximou-se de mim com uma expressão fria.

- Não falas assim da Ambar. – o seu corpo aproximou-se demasiado do meu e naquele momento era como se eu estivesse a ser confrontado com o verdadeiro Niall que eu tinha conhecido anteriormente. Talvez ele não tivesse mudado nada. Talvez fosse eu que não quisesse acreditar nas circunstâncias. – Por isso tem lá cuidadinho com o que dizes.

- Então começa a explicar tudo por aí. – dei-lhe um pequeno empurrão para que ele se afasta-se. – Quem é ela? Porque é que voltaste? Porque é que a trouxeste contigo? O dinheiro que o Matt vos dava foi-se à vida assim tão rápido. Pensei que conseguias gerir melhor as tuas coisas.

A raiva estava a falar por mim. Em todos os anos que vivi com o Niall e passei cada dia da minha vida com ele, raros tinham sido os momentos onde tínhamos discutido e quando o fazíamos, era por coisas mínimas. Cada dia que passava nós uniamo-nos ainda mais, com a vontade de destruir e tirar tudo o que o Matt tinha. Mas com o que eu estava a ver à minha frente, parecia que tudo isso tinha mudado. Mas, tinha mesmo?

- Eu conheci a Ambar no outro lado da floresta. Ela vivia com o irmão que tinha esquizofrenia numa cabana mal acabada. – seria aquilo uma ligação a tudo o que se estava a passar? Tanto de um lado como do outro existiam coisas difíceis de acreditar. – Comecei a visita-la todos os dias e a levar-lhe dinheiro e comida. Acho que não é preciso prolongar o resto, porque como vejo pelas circunstâncias, tu também estás numa situação parecida. – a Ava. Claro que eu e o Niall iamos ter sempre algo em comum, por muito estranho que parecesse. – Quando o Matt nos descobriu queria que eu me afasta-de dela, mas eu não queria, nem podia e não o ia deixar ataca-la e dar-me à dor de ficar sem ela. Porque sabes uma coisa? – o olhar gélido dele encontrou o meu cheio de despreso. – Eu não me deixo ficar como tu que nem sequer contas à Ava o que se está a passar.

- Não vás por aí Niall. Tu sabes muito bem o que está em jogo. – se eu conta-se à Ava, ela não só deixaria de me querer ver, como ainda quereria matar-me.

- Certo, como queiras. – levantou as mãos, mostrando que todas as decisões eram minhas e que as consequências ainda mais. – Mas continuando o que eu estava a dizer. Eu não concordei com o Matt e então ele fez-me um ultimato. Eu punha-me a andar daqui para fora com a Ambar e o irmão, e ele dava-me dinheiro todos os meses, mas em troca, eu tinha de desenvolver o dispositivo de controlo enquanto ele estudava uma droga que pudesse controlar as pessoas.

Levantei-me frustrado com a informação que ele me tivera dado. Como tinha sido ele capaz? Como tinha sido ele capaz de me trair em todas as maneiras possíveis?

- Tu és um grandessíssimo filho da puta Niall. – gritei-lhe. – O que é que tu pretendes com isto? Queres matar-me? Força, pega, faz por ti mesmo aquilo que eu pensei que fiz contigo. – tirei a arma do casaco e entendi-lha.

- Para Harry, para! – foi-me retirada pelas mãos dele. – Estás a ser um grande estúpido, deixa-me explicar até ao fim. – não sabia se queria ouvir mais alguma coisa vinda dele, porém deixei-me estar ali. – Quando nós fugimos, fomos para o Ohio, e todo o dinheiro que o Matt nos dava era por transferência bancária. Mas um dia ele deixou de o dar. Quando eu lhe liguei a perguntar, ele disse que eu estava a demorar muito tempo a construir o dispositivo e disse que ou eu o fazia o mais rápido possível, ou ele deixava de me enviar dinheiro e ia destruir-me. Acontece, que nesse mesmo dia o irmão da Ambar desapareceu. – juntei as sobrancelhas, confuso com toda a informação. – Eu nunca na vida iria dar o dispositivo ao Matt. Eu desenvolvi-o, e criei-o, mas tudo aquilo que eu sempre quis foi voltar e poder destruir o Matt, como tínhamos planeado.

A confusão reinava na minha cabeça. O Matt raptava homens para serem cobaias, de modo a que ele pudesse desenvolver a droga mais pesada e possível no mundo. Usava-me a mim e ao Niall como ajudantes da operação. Ele queria a Ava e tinha, com todas as certezas, raptado o irmão da Ambar. Mas havia uma coisa que eu não conseguia perceber. Porque é que ele me odiava tanto, ao ponto de me tirar tudo o que eu tinha?

- Eu sei que tudo o que aconteceu foi demasiado para ti. Mas tudo o que eu fiz tem uma razão. Destruir o Matt. E sem ti eu não consigo. Eu sei que tu também o queres, especialmente pela Ava. – ela estava a tornar-se mais importante na minha vida do que aquilo que eu pude alguma vez imaginar. E era estranho como o Niall tinha-se apercebido disso, melhor do que eu. – Então eu só tenho uma pergunta para ti. Aceitas juntar-te a mim e destruir o Matt, em nome da nossa amizade?

Callous | h.sWhere stories live. Discover now