34| Rivais

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C A P Í T U L O 34

R I V A I S

No dia seguinte, depois de uma noite completamente às cegas onde eu me limitei a dar voltas de carro pela cidade parada de Carson, fui buscar a Ava e levei-a ao trabalho. Certifiquei-me de que ela não se lembrava de nada relacionado com a Savannah. A sua memória apenas revelava aquilo que tinha acontecido entre nós. Deixou-me descansado, mas ao mesmo tempo com um leve formigueiro, porque até eu mesmo já estava a duvidar das minhas capacidades. Para mim as coisas já não estavam mais seguras, especialmente porque o Matt ou a Savannah poderiam aparecer a qualquer momento para jogar com a mente da Ava e fazer com que ela acreditasse em coisas que me iriam deixar numa posição muito intrigante.

Acabei por conduzir até à propriedade A do Matt, a que ele habitava juntamente com a sobrinha. Sabia que o que iria vir seria algo pesado. Eram dois contra um, porém era precisa muita inteligência para saber como trabalhar bem com as peças do jogo, e primeiro era preciso ver quem a tinha.

Passei o meu cartão e os grandes portões que escondiam um mundo aterrorizante abriram. Conduzi até à parte abrigada e saí do carro. Quando alcancei a porta toquei à campainha, mas como ninguém atendeu experimentei abrir a porta, confirmando-a aberta. Entrei e dirigi-me ao local onde muito provavelmente aquele monstro se encontrava.

Abri a porta descaradamente sem me preocupar em perguntar se podia abrir e entrar no espaço privado. Isso já não me preocupava mais.

- Ora ora. – o Matt estava sentado na sua cadeira revestida por pele preta e ao seu lado, sentada sobre a mesa de madeira, encontrava-se a Savannah. Olhei para ambos com o maior desprezo e ódio. – Se não é o nosso protetor favorito.

- Qual é a tua Matt? – perguntei sem rodeios. – E tua, sua cabra? – apontei para a loira aproximando-me dela. – Que cena foi aquela ontem? – empurrei-a com um dedo, o suficiente para ela se desequilibrar.

O homem ao meu lado levantou-se criando uma barreira entre mim e a rapariga. A sua cara já não mostrava brincadeira, mas sim uma expressão séria de quem me queria deitar ao chão.

- Vamos lá ver como tratas a minha sobrinha. – avisou.

- Pensasses nisso antes de a teres mandado fazer-te favorzinhos de meia tigela. – disse no mesmo tom de voz. – O que é que tu queres da Ava?

Ele riu-se de forma cínica. Afastei-me dois passos para trás e encarei-o com desdém e hostilidade. A única coisa que eu queria era poder desfazer-me dele de uma vez por todas.

- O que é que eu quero da Ava. – as palavras saíram dos lábios dele com provocação bem definida. – Digamos que ela é uma boa forma de eu atingir os meus fins.

- E o Carl?

- O Carl. – o facto daquele monstro estar a repetir o que eu estava a dizer fazia com que eu aumenta-se a minha irritação. – Ele já não me serve de nada. Está a morrer, por isso a filhinha dele é bem capaz de ter a mesma resistência do que ele. Só estou a prolongar o tempo para que ele a possa ver uma última vez. Diz lá que até sou uma boa pessoa. – um riso escapou-lhe.

Cerrei os punhos para me controlar minimamente. Não iria conseguir responder pelos meus atos se não utilizasse algumas técnicas para me acalmar, mesmo que elas saíssem sem sucesso quase nenhum.

- Só se passares pelo meu cadáver. – disse-lhe.

- Que não seja por isso. Estou em maioria. – só que o que ele não sabia, e eu também, era que aliados era algo que estavam à minha volta, mesmo sem eu dar por isso. – Está aberta guerra. O primeiro ganha.

***

Entrei no café com os pensamentos a ferver por completo. Se o Matt falava daquela maneira é porque tinha tudo planeado, ao contrário de mim que nada sabia o que fazer. Estava a enterrar-me na minha própria desgraça. O que eu não sabia é que havia alguém mesmo ao meu lado, sem eu conseguir ver, que estava a ajudar-me e me iria ajudar ainda mais. Mas no fim não valeu de nada.

Não havia muita gente no espaço. Os meus olhos captaram logo a Ava. Estava sorridente e não estava sozinha. Ao lado dela estava uma rapariga ruiva e ambas estavam a falar como se fossem amigas há muito tempo. Não sei se aquilo era bom, ou se era mau. As minhas desconfianças começavam a surgir em coisas mínimas. Apesar disso tentei fazer com que o meu eu mais desconfiado fosse levado mais para longe.

Caminhei até ao balcão. Apesar de algo me dizer para eu me manter afastado, uma parte de mim queria e precisava que eu tomasse conhecimento de quem era aquela rapariga.

O olhar da Ava pousou em mim. Continuou a sorrir, apenas assenti com a cabeça.

- Olá! – ela disse. – pousei as mãos em cima do balcão e senti a outra rapariga olhar para mim. – Esta é a Ingrid a nova funcionária do café. – baixei a cabeça num cumprimento à rapariga. – Este é o Harry, o... hmmm, um amigo. – vi a sua atrapalhação notória. Não disse nada em relação aquilo.

- Então, és nova na cidade? – perguntei com uma certa curiosidade a saltitar dentro de mim. Nunca a tinha visto, o que era de estranhar, porque eu andava sempre às voltas na cidade e todas as caras eram conhecidas, umas mais nítidas do que outras.

- Mais ou menos. – não havia exitação na voz dela.

- Mais ou menos? Isso significa o quê?

A porta fez barulho. Olhei para trás para ver uma pessoa a entrar.

- Vou atender. – a Ava disse.

- Deixa estar, eu vou. – a ruiva sugeriu e vi aquilo como uma maneira de fugir às minhas perguntas.

Virei-me para a Ava que parecia não saber o que dizer.

- Como é que ela apareceu aqui? – talvez estivesse a dar importância a algo sem sentido, mas havia alguma coisa que não batia certo.

- Não sei, quando cheguei já cá estava.

Naquele momento o meu telemóvel tocou.

De: Número Desconhecido [6:34 p.m]

Muitas perguntas não. Ao menos por agora.


Callous | h.sWhere stories live. Discover now