73| Sangue

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C A P Í T U L O 73

S A N G U E

Quando a minha mão colidiu com a parede num murro brutesco, pedaços da mesma foram soltos, caindo no chão. Olhei para o meu punho. Estava coberto de sangue, mas a dor era praticamente nula. A minha respiração começou a ficar cada vez mais acelerada e eu sabia que aquilo era o efeito do pó de anjo. Porém a minha mente focou-se apenas numa coisa, destruição. Com aquela droga dentro do meu corpo eu tinha todo e qualquer poder.

Olhei em volta do quarto. Havia um pequeno candeeiro em cima de uma mesa. Peguei no mesmo e logo de seguida era com ele que eu estava a destruir a parede. Aos poucos começava a criar um buraco, ainda que tivesse de investir mais e mais, até conseguir passar para o outro lado e dali poder finalmente fazer algo que me levasse a mim e à Ava para fora daquele local.

– Por favor Harry. Tens de ser rápido. – a voz da Ava era suplicante. Ela estava realmente assustada com toda a situação. E se eu não fosse rápido tudo se iria desperdiçar e então eu iria mesmo morrer.

Apalpei a parede, dando pequenos murros por toda a volta. Já tinha conseguido criar um buraco que me permitia ver a Ava, porém era impossível conseguir passar para o lado de lá. Com o meu tamanho tinha de continuar a destruir, mas a minha mão já tinha tanto sangue, que começava a ser difícil fazer o trabalho sem que pedaços se espetassem na carne vermelha que começava a ser visível.

Depois de ter continuado a apalpar a parede, descobri uma pequena parte oca muito perto do teto. Bati com o candeeiro naquela zona e rapidamente um buraco formou-se. Eu não conseguia passar nele, mas a Ava, ela podia.

– Ava... – num impulso levei as mãos à cabeça. Vozes soaram dentro dos meus ouvidos. Eu queria gritar, mas parecia que me estavam a impedir. – Sai daqui. – foi tudo o que consegui dizer com todas aquelas vozes a falarem comigo.

Cambaleei para a frente, indo contra a cama. Parecia estar a perder o controlo em mim. Uma parte de mim gritava por socorro e outra por destruição. Alucinações. O Matt tivera feito de propósito. Quanto mais louco eu ficasse, mais fácil seria capturar-me e fazer de mim aquilo que aparentemente ele sempre quisera ter feito comigo. Mesmo quando eu ainda não era eu.

Puxei o meu cabelo com força. Queria a todo o custo que tudo aquilo que estava a ouvir desaparecesse. As vozes pareciam estar a tornar-se mais nítidas, fazendo-me perceber que na realidade elas pertenciam todas às pessoas que se encontravam à minha volta. Ao Niall, à Ava, ao Matt, até à estúpida da Savannah que depois de me ter levado para aquele armazém tivera desaparecido sem deixar qualquer rasto.

– Para! – num instante todas as vozes na minha cabeça desapareceram. Foi como se o meu grito as tivesse assustado, mais do que aquilo que elas me estavam a assustar.

– Harry... Harry o que se passa? – a voz da Ava era desesperada, controlada pelo medo.

– Tens de subir pelo buraco ali em cima. – decidi não lhe responder. Se a Ava percebesse na realidade a situação em que me encontrava ela poderia não querer colaborar comigo. Além disso eu não a poderia deixar sozinha. O Carl tivera-me pedido para tomar conta dela e eu tinha de lhe dar esse último pedido. Mas seria só pelo Carl que eu estava a proteger tanto a Ava?

– É muito alto... Eu... eu não vou conseguir.

– Tens de conseguir. Eu não passo aí. Faz um esforço Ava.

Não ouvi mais nada vindo da parte dela. Fiquei também calado, andando de um lado para o outro, sendo por vezes atingido por uma forte dor de cabeça. A adrenalina no meu corpo estava a aumentar cada vez mais, e consequentemente a minha força. Apesar de uma parte de mim saber que se tinha de controlar, outra estava demasiado eufórica para tal.

Callous | h.sWhere stories live. Discover now