43| Perigo

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C A P Í T U L O 43

P E R I G O

Calcei as botas o mais rápido que consegui. Tinha a cabeça a andar a mil. A dificuldade em assimilar tudo à minha volta estava a deixar-me sem saída possível para me livrar de todos aqueles pensamentos. Era como se quisesse respirar, mas alguma coisa me impedisse de o fazer. Passei as mãos pelo cabelo em sinal de frustração. Queria respostas. Queria esquecer aquilo. Queria acabar com aquilo, de uma vez por todas.

Não podíamos ter sido irmãos. O Matt e eu éramos diferentes, em todos os aspetos. Quer dizer, nós éramos iguais, eu só descobri quando caí no erro. Mas eu já estava nele, de uma maneira praticamente impossível de me desensarilhar. Como é que aquilo podia ser possível? O que havia de tão importante ou especial que fazia com que a Ava fosse como o objeto de transição dos dois? O que tinha ela? Quem tinha sido ela? Quem tinha sido eu? Quem tinha sido o Matt? O que tínhamos sido nós?

- Onde é que vais? – o Niall agarrou-me pelo braço com força, virando-me para ele.

- Sair. – soltei-me com brutidão.

- Tu não podes sair. Não estás em condições.

- Estou sim.

- Não, não estás. Ainda tens um acidente. Olha para ti. Estás completamente desorientado. Tens de me contar o que viste .

Suspirei pesadamente. – Eu não quero saber disso Niall. Eu não me quero lembrar daquilo. Ouviste-me a falar, foi o suficiente.

- Não percebi a história de seres irmão do Matt e de teres morto a Ava. Tens de me deixar entrar-te na mente de novo. Isso é um aviso. A Ava corre perigo de vida.

Cerrei os punhos. Frustração e raiva a subir-me pelo corpo acima.

- A. Ava. Não. Corre. Perigo. De. Vida. Não. Enquanto. Estiver. Comigo. – era tão mentira, e eu sabia-o tão bem.

Saquei das chaves do carro e depois de ter batido com a porta de casa, fui para o carro, iniciando uma condução acelerada.

Era impossível ter sido alguma coisa ao Matt numa vida passada. Era impossível eu a ter morto. Ele é que era o monstro. Ele é que destruí-a as pessoas. Se eu tinha morto a Ava anteriormente, na vida presente eu...

Não não não.

Travei bruscamente e levei as mãos à cabeça. Não podia.

Estacionei não me preocupando com a possível multa que iria levar. Corri até à porta e quando através do vidro vi a Ava servir à mesa, suspirei. Suspirei de alivio por ver que o Matt não a tinha ainda tirado de mim.

Entrei e caminhei para o balcão. Tinha o coração num ritmo descompassado, como se de um momento para o outro ele fosse deixar de bater. Apoiei-me no balcão para me controlar, ouvindo logo de seguida um voz suave a surgir.

- Olá. – era a Ava e ela parecia descontraída. Descontraída de mais. Em menos de 24 horas tínhamos passado por coisas estranhas. Ela tinha conhecido o Niall, tinha-se apercebido que a sua colega de trabalho Ingrid era na realidade a namorada do meu melhor amigo e chamava-se Ambar. Só não tinha percebido ainda o monstro que eu era.

Impulsivamente aproximei-me dela e beijei-a, como se aquilo fosse uma urgência. Era uma urgência. Já nem conseguia perceber se o fazia por vontade própria ou por medo do que pudesse vir a seguir. Nem conseguia admitir a realidade.

- Hey. – a sua cara afastou-se quando o ar era pouco e vi alguma surpresa e confusão no seu rosto. – O que foi isto?

- Foi um beijo.

Callous | h.sOnde histórias criam vida. Descubra agora