49| Provocação

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C A P Í T U L O 49

P R O V O C A Ç Ã O

– O Matt o quê? – o Niall perguntou com a voz elevada.

Eu não conseguia compreender como aquilo tudo me tinha escapado. Como tinha sido tão burro ao ponto de a deixar ir, quando eu próprio a proibi de andar sozinha, devido aos passos do Matt. A culpa era toda minha, completamente. E não era preciso ter uma confirmação credível de que tinha sido o Matt. A maneira como ele falava e fazia as coisas deixava-o demasiado claro. Ele só esperou pelo momento perfeito. E eu acabei por lho dar.

Apertei os punhos em frustração. Uma vontade de destruir todo o espaço à minha volta veio ao de cima. Dei um pontapé numa pilha de papeis que estava no chão, fazendo com que os mesmos voassem. Derrubei o material que estava em cima da secretária. Porém não tive tempo de causar mais confusão, porque logo o Niall segurou em mim e encostou-me a uma parede, criando uma barreira com os seus braços para que eu não saísse dali.

- Vamos manter a calma. – ele disse com os olhos dele presos nos meus. E o facto dos dele serem azuis, lembrou-me da Ava, mesmo que os tons não se pudessem aproximar, por momentos eu pensei que era a Ava que estava ali e que tudo estava bem, e que eu tinha controlado a situação. Mas não era ela, e se eu não fizesse nada, ela nunca mais iria ser.

Então, interiormente eu estava uma confusão. Eu já não sabia quem eu era, ou quem eu estava a ser. Porque razão estava eu tão preocupado sobre uma rapariga que aparentemente não era alvo da minha maior atenção emocional?

- Não me peças para ter calma. – falei de dentes cerrados. – Não me peças nada.

- Eu peço. Eu peço sim Harry. – a minha respiração estava a ficar descontrolada e depois daquilo provavelmente nâo iria sair coisa boa. – Aliás, eu não peço, eu obrigo. – o seu punho colidiu com o meu peito de forma leve. – Agora, fica calmo e conta-me essa história toda.

Fitei-o com o olhar. Já não me lembrava de como o Niall era. Já não me lembrava da maneira bruta como ele me atacava quando eu estava a ser um idiota. Ele era a consciência viva na maioria das situações.

Forcei o braço dele para me soltar e logo depois ajustei a minha roupa no meu corpo, suspirando em sinal de frustração.

- O Matt. Ele... eu sei que foi ele que levou a Ava, eu tenho a certeza absoluta. – aquela ideia deixava-me louco, louco ao ponto de cometer algo que mais tarde me viesse a arrepender. – Desde que eu conheci a Ava, que o Matt pareceu ficar diferente comigo. Lembraste daquela fotografia que o Carl tinha sempre com ele? – o loiro à minha frente apenas assentiu. – Um dia ela desapareceu, o Matt tirou-lhe a fotografia. Depois, um dia em que eu estava a treinar aqui em casa, o Matt disse-me que havia uma coisa que ainda me ia tirar. Num outro dia, apanhei-o de propósito com a fotografia da Ava e do irmão e há cerca de uns dias atrás ele apareceu no café, quando a Ava lá estava. Agora bate tudo certo. – levei as mãos à cabeça sem saber o que pensar.

- Então tu achas que isto é uma forma de ele se vingar de ti? – o Niall perguntou.

- Sim. Mas, de quê? Eu não entendo. – comecei a andar para trás e para a frente. – Quer dizer, a regressão diz tudo. Mas ele fê-la? Ou é só aquela merda daquela sensação estúpida de ter uma conexão com o passado mesmo que não o saibamos? Porque é que ele quer a Ava? O que é que ele fez à Ava? Porque é que o Carl não está aqui?

Ter feito aquelas perguntas em voz alta fez-me sentir um pouco idiota. Elas eram sempre pessoais, porque aparentemente eu sabia sempre o que fazer, mesmo que não fosse pela via mais correta eu sabia.

O Niall tinha sido o meu melhor amigo durante muito tempo. Naquela altura eu não o podia voltar a considerar como tal. Tinham sido muitas mentiras... mas, isso era o que eu fazia o tempo todo, por isso não me podia dar ao luxo de me queixar de uma coisa que eu fazia de olhos fechados.

- O Matt não gosta de ti, esse é o ponto principal Harry. – o sentimento era recíproco. Mas não entendia porque razão ele me tinha comprado se mais tarde me iria fazer aquilo. – A Ava é o meio mais fácil de ele te assustar. Mas lembra-te que o Matt não gosta de ninguém. A única coisa que ele quer é controlar toda a gente. – parei os meus movimentos e olhei para o Niall. – Se ela não aparecer dentro de um dia temos de reportar o caso para a polícia, ou-

- Não. – cortei-o. – Estás maluco? A polícia não pode entrar aqui, senão eu vou logo preso por estar ligado a tráfico humano e de droga. A. Polícia. Não. Nunca.

Era tudo culpa do Matt. Ele tinha-nos arrastado completamente para o fundo, deixando-nos no meio da pior situação possível. Ele era o cérebro da operação, mas certificava-se sempre que qualquer ato relacionado com a polícia, quem aparecia éramos nós e não ele. Todo aquele tempo ele poupou-me a tal situação, mas com aquilo eu compreendi que tudo tinha sido uma jogada pensada.

- Vou ser eu que vou descobrir onde está a Ava e vou ser eu que vou dar cabo do Matt. Acredita naquilo que eu te estou a dizer.

Fiz o meu caminho de volta para a sala, onde a Savannah ainda se encontrava.

- O que é que se está a passar afinal? – ela perguntou, já sem a cara repleta de lágrimas.

- É bom que me contes tudo o que sabes, ou algo de muito mau irá acontecer. – levantei a camisola para cima, mostrando-lhe a arma.

- Eu não sei nada, eu juro Harry.

- Não brinques com a minha cara. – disse-lhe alto. – Tu sabes muito bem o que se está a passar. Tu sabes muito bem onde está o teu tio, ou não te lembras que o ajudaste a persuadir a Ava? Queres que te faça a merda de um desenho? – agarrei-lhe no braço com força e o olhar medroso dela fez-se sobressair. – Fala porque eu não tenho o teu tempo.

- Harry larga-a. – não olhei para o Niall, continuando com o olhar preso no da Savannah, à espera que ela disse-se algo que a pudesse comprometer.

Porém, o facto do meu telemóvel ter começado a tocar fez-me esquecer da loira à minha frente. Peguei apressadamente no aparelho. No visor mostrava número privado, deslizei o dedo atendendo rapidamente.

Do outro lado ouvi silêncio, porém foi cortado por uma voz que eu conhecia demasiado bem.

- Escusas de perguntar alguma coisa à Savannah. Ela não sabe de nada. Burra como é, é impossível que desconfie do que se passa. – um riso cínico surgiu depois das palavras. Apertei os punhos e fechei momentaneamente os olhos.

- O que é que fizeste à Ava? – se fosse possível disparar atrás do telemóvel e acertar no Matt, era o que eu fazia, imediatamente.

- Por agora ainda não lhe fiz nada, mas em breve vou ver do que é que ela tem capacidade.

- Experimenta alguma coisa e és um homem morto. 

Em vez de ouvir alguma resposta proferida pela voz dele, tudo o que ouvi foi o som de um tiro ser disparado e depois a chamada a ser desligada.

Callous | h.sHikayelerin yaşadığı yer. Şimdi keşfedin