63| Pistas

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C A P Í T U L O 63

P I S T A S

Tirei-lhe o papel das mãos. O meu estado não era o melhor e depois de ela me ter dito aquilo pior fiquei. Respirei fundo e desdobrei o papel que ela trazia nas mãos. Não estava escrito a caneta ou qualquer outro material de escrita. Aquela não era de longe avisos do Matt, mas eram sim as pistas dele. Pistas que ele tencionava deixar bem claras, talvez por saber que estava de novo em vantagem para comigo.

"QueM Ri PoR úLTiMo Ri MeLHor

- MaTT "

Aquelas eram as palavras que ocupavam a folha branca. Eram letras recortadas de um jornal, onde as maiúsculas estavam salientadas. Amassei o papel na minha mão e atirei-o para um canto. Eu sabia que ele iria voltar. Mas uma coisa era saber e outra era ter a realidade à frente dos olhos. Nem sequer tinha um plano estruturado. Tudo o que eu tinha era uma arma para poder mata-lo, mas aparentemente nem aquilo me chegava, ou talvez chegasse?

Levantei a cabeça para olhar para a Ava, a cara dela estava assustada, mas ao mesmo tempo ela tentava manter uma posição firme. Os olhos azuis dela encontraram o verde dos meus. Por momentos não disse nada. Honestamente nem sabia o que lhe dizer. Havia coisas que ela não acreditava, mesmo que eu tentasse explicar tudo ao mais ínfimo pormenor. E depois o que tornava a situação mais complicada ainda, era o facto de saber que já tinha estado com ela noutra vida, que já tinha convivido com ela noutras circunstâncias. E quando me lembrava que a tinha morto, sentia uma sensação estranha. O que iria acontecer daquela vez? Iria eu vingar-me ou iriam vingar-se de mim? Aquelas perguntas deixavam-me confuso. Talvez fosse melhor nem ter sabido daquilo. Porém iria saber de outra forma, eventualmente.

- Onde é que aquilo apareceu? – perguntei depois de uns longos minutos em silêncio apenas a observar o olhar dela.

- Estava colado na janela do meu quarto. – ela disse. – O que significa que ele esteve aqui Harry. Nós não estamos mais seguros.

Passei uma mão pelo cabelo afastando os caracóis para trás. Fechei os olhos por momentos a tentar encontrar algo para lhe dizer, porém não havia nada que lhe pudesse dizer. Aquilo era um facto. O Matt estava de novo no mesmo território que nós e daquela vez ele estava mesmo decidido do que queria, porém eu também, apesar de não ser tão meticuloso como ele.

- E agora, o que é que fazemos?

- Deixa-me pensar. – respondi com um certo tom autoritário na voz.

- E se ele vai atrás do meu pai? E se ele o mata? – brevemente ele irá morrer, pensei. E antes de pensar eu queria dizê-lo, mas mais valia poupar-lhe um pouco aquele sofrimento. Ela devia de estar ciente, mas ao mesmo tempo a acreditar que aquilo era uma realidade e que poucos dias de vida restavam ao pai dela. – E se ele aparecer de novo enquanto eu estiver a dormir e me leva?

- O Matt não quer mais o teu pai Ava. Entende isso. – sobrepus a minha voz à dela. – O teu pai já não pode dar nada ao Matt. Tudo o que podia ser feito já acabou. Ele só usa as pessoas por um curto período de tempo e depois não quer mais saber delas. Quem ele quer agora és tu e depois quer matar-me. – vi a cara dela mudar de expressão quando o disse, porém não demorei muito os meus olhos nos dela. Caminhei até ao guarda roupa, tirando a arma que tivera comprado dias atrás. – Mas eu não vou deixar com que isso aconteça.

- O que vais fazer com isso? – percebi o tom assustado na sua voz enquanto apontava para a arma na minha mão.

- Isto é para nos proteger, a ti especialmente. – o olhar dela continuava assustado. – Ava, não há mais nada a fazer. O Matt é perigoso, entendes? Ele sempre foi e quando ele quer mesmo uma coisa, ele consegue.

- Porque é que me queres tanto proteger? – a pergunta apanhou-me desprevenido.

Permaneci em silêncio durante uns longos minutos. Não estava à espera daquela pergunta, muito menos de imaginar uma possível resposta. A resposta eu já a tinha mostrado ao longo daqueles dias, mas sabia que a Ava era espera e algumas coisas das quais ela dizia era apenas para ver quem eu era na realidade. Porque se eu não me conhecia, ela muito menos.

- Porque eu tinha uma irmã e não queria que lhe fizessem o mesmo. – disse-o, embora não fosse aquilo que eu quisesse que ela ouvisse, porque era mentira, não era por aquelas razões que eu a estava a proteger tanto. Mas o meu orgulho não me deixava vencer.

- Então isso quer dizer que para ti eu não passo de uma simples figura fraterna. – a voz dela estava carregada de angústia. Eu não disse nada. Apenas olhei para ela, o que por si só já dizia muito, demasiado até.

***

A noite tinha chegado demasiado depressa. Para além da Ava mais ninguém sabia da nova aparição do Matt. Não era necessário que mais ninguém estivesse dentro do assunto, especialmente quando mais ninguém poderia ajudar. Ainda por cima se contasse tal coisa iria criar um clima ainda mais pesado do que aquele que já se estava a viver. Por enquanto o melhor era não contar a mais ninguém.

Abri devagar a porta do meu quarto. Um silêncio pesado percorria toda a casa. Caminhei devagar e silenciosamente até ao quarto da Ava. Pelo alto que vi na sua cama percebi que ela estava deitada. Tentei não fazer barulho caso ela estivesse a dormir, e sentei-me na cadeira. Não sabia o que podia acontecer uma vez que o Matt descobrira o local onde estávamos.

A cama chiou quando a Ava se virou. Depressa o quarto ficou iluminado. Vi a sua cara ficar com uma expressão aterrorizada depois de me ter visto.

- Oh meu Deus. – ela disse colocando ambas as mãos no peito. – Oh meu Deus. Assustaste-me. – a sua respiração estava demasiado descontrolada. – Eu p-pensei que f-fosse o Matt. – deixei que ela respirasse. – O que estás aqui a fazer?

- Vou passar aqui a noite. – disse simplesmente. – Vou passar aqui todas as noites até sabermos mais alguma coisa sobre o Matt. Podes voltar a dormir.

Ela não disse nada. Apenas respirou fundo e voltou a deitar-se. A luz permaneceu acesa. O corpo dela estava de costas para mim. Observei-a. O clima entre nós estava diferente e nunca mais iria voltar a ficar o mesmo. Não havia confiança, nem maneira de eu voltar a persuadi-la e fazer com que ela caísse na mina teia, de modo a manipula-la.

- Podes vir para aqui se quiseres. Não precisas de ficar aí sentado. – a voz dela pareceu soar sem grande confiança, mas ao mesmo tempo com vontade que aquilo acontecesse.

Não hesitei e depressa já estava a despir-me para me juntar a ela. O seu corpo virou-se para o meu lado. Antes de me deixar entrar no meio dos cobertores coloquei a arma debaixo da almofada.

- Por favor, não a ponhas aí. – encolhi os ombros e depois acabei por pousa-la na mesa ao lado da cama.

Puxei os cobertores para trás e deitei-me. Queria aproximar-me, mas sabia que se o fizesse algo iria correr mal, então apenas me deixei estar a olhar para ela e ela para mim. Aquele era um momento que provavelmente não se voltaria a repetir e mais forte que aquilo, era o que eu desejava fazer no momento. Aproximei-me um pouco mais dela, porém fui travado com palavras que fizeram com que a frustração tomasse conta de mim.

- Irmãos não beijam, lembras-te?


Callous | h.sOnde as histórias ganham vida. Descobre agora