21| Ciúmes

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C A P Í T U L O 21

CIÚMES

Eu tinha sonhado com ela. Não me lembrava corretamente do sonho, mas eu tinha sonhado com ela e isso eu não me iria esquecer nunca. Ela escapava-me pelas mãos quando eu a tentava agarrar, mas depois era em vão, porque ela fugia sempre. Talvez na altura não tivesse compreendido muito bem a mensagem que isso me transmitia, mas depois com a ajuda de quem eu pensava que estava morto e de todas as minhas más ações, eu, compreendi mais tarde que afinal de contas aquilo era um prévio aviso de que eu não me devia envolver.

A nossa mente controla quem somos. Ou será que somos nós que controlamos a nossa mente? Ou será que a mente e nós somos a mesma coisa? Perguntas muito complicadas para eu algum dia ter uma perceção correta de que tudo o que fiz foi mal. Desde matar a tentar sobreviver. Talvez se eu tivesse cortado a minha respiração de uma vez por todas fosse mais fácil. Talvez.

Liguei o aquecimento. Já estava a ficar frio e começar a manhã no ar gélido que as janelas que eu me tivera esquecido de fechar transmitiam, não era algo que eu quisesse. Depois fui até ao quarto onde o Evan se encontrava. Ele estava sentado na cama a olhar para as mãos. Possivelmente estava com a consciência pesada das ações que tivera cometido. Não reparou em mim, até eu tossir forçadamente.

- Como é que vai isso? – eu não tinha realmente sentido algum de preocupação. Então era estranho para mim questionar alguém sobre o seu estado e as suas necessidades.

- Vai indo. – ele encolheu os ombros. No entanto, quando ele ia dizer alguma coisa, a respiração começou a falhar-lhe. Ele ficou branco e eu fiquei amarelo.

Lembrei-me então da bomba e dos ataques de asma que a Ava me tinha falado. Corri apressadamente até à sala e subi as escadas de dois em dois. O rapaz mostrava-se cada vez mais aflito e quando cheguei à beira dele passei-lhe o objeto. Ele utilizou-o e quando o vi mais calmo foi como se a onda que me fosse passar por cima abrandasse e toma-se outro rumo, fazendo com que eu liberta-se um grande suspiro de alívio.

- Que susto puto. – levei a mão ao peito. O meu coração estava a bater muito fortemente, como se me estivesse a dizer que queria sair para a liberdade insinuosa que é a vida. – Pensei que ias morrer.

Vi-lhe escapar um pequeno sorriso por entre os lábios, juntamente com uma suave gargalhada de troça, o que me permitiu esclarecer as suas parecenças com a irmã.

- A minha irmã? – ela estava sempre lá. Sempre. Começava a deixar-me sufocado.

- Possivelmente a trabalhar. – levantei-me e olhei pela janela vendo a neve cair. Merda de inverno irritante, pensei. – E tu, o que é que queres fazer?

- Comer parece-me bem. – ele também se levantou. Se havia coisa que me deixava tranquilo era o facto do Evan não revelar traços tão desconfiadores como a Ava. Mas talvez se devesse ao facto dele ser rapaz. – Olha, como é que te chamas mesmo?

- Harry. – respondi enquanto caminhava para fora do quarto.

Ouvi os seus passos atrás de mim. Desci as escadas com ele atrás e entrei na cozinha. Olhei em volta. Não havia grande coisa para comer, por isso ele iria de se aguentar com leite e cereais. Porque claramente que eu não ia comprar comida para um miúdo que eu mal conhecia. Se eu não comprava para mim, não ia fazê-lo para os outros.

- Então, como é que tu e a minha irmã se conheceram? – suspirei. Perguntas, só perguntas impertinentes.

Parei para pensar. Na realidade nós conhecemo-nos uma série de vezes, ou melhor, ela conheceu-me, porque bastou uma vez para eu a fixar no olhar.

Callous | h.sحيث تعيش القصص. اكتشف الآن