61| Explicação

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C A P Í T U L O 61

E X P L I C A Ç Ã O

- Dou-te uma oportunidade de me explicares tudo agora. Caso contrário não terás mais nenhuma. – aquela era uma bela maneira de me ver encurralado, sem escapatória nenhuma.

A Ava sabia perfeitamente que eu queria falar com ela e estava à espera daquilo há demasiado tempo. Fazer um jogo psicológico era sempre a melhor opção, e eu sabia disso melhor do que ninguém. Estava constantemente a fazê-lo. Dia sim, dia sim. Fi-lo com ela em todas as circunstâncias. Joguei com a mente dela como se fosse um brinquedo. Ela não se apercebeu. Por baixo daquela aparência de rapariga forte, estava uma Ava que sozinha nunca se iria conseguir defender. Aquelas palavras eram o resultado de uma simples aparência. Na verdade, se eu quisesse podia fazer com que ela ficasse cheia de medo. Porém, eu estava tão despreocupado que nem do tempo eu queria saber. Tinha caído tudo sobre mim. Mas não era aquilo que me iria fazer admitir o que eu estava a sentir interiormente. Isso nunca aconteceu. O meu lado mais insensível e frio permaneceu sempre dentro de mim. A Ava era só a Ava. Poderia vir alguém que me obrigasse a dizer algo, que eu nunca iria abrir a boca para dizer o que quer que fosse. Ela podia gostar de mim, mas eu nunca o iria admitir. Eu não queria dar-lhe essa felicidade, porque eu detestava quando ela dizia que gostava de mim. Isso fazia com que interiormente as coisas piorassem. Eu não sabia o que era gostar.

Virei-me para trás. Tinha os punhos cerrados, resultado de uma ação inconsciente. Aliás, aquilo resultava em todas as vezes que me tiravam do sério, que faziam despertar o meu pior lado. Se minutos anteriores eu não queria saber de nada, depois do Niall me ter dado aquela notícia a minha maior vontade era explodir. Eu sentia-me revoltado e mais uma vez traído. Especialmente por ser a peça do jogo.

- Tudo bem, eu dou-te uma explicação. Mas é melhor sentares-te. Ela é longa. – disse-o num tom frio. Se ela queria jogar daquela maneira, era daquela maneira que iríamos jogar.

Havia tanta coisa para lhe contar que eu já nem sabia propriamente por onde começar. Se ela me tivesse deixado dizer-lhe tudo logo no momento em que quis, talvez não fosse preciso ter chegado àquele ponto. Mas uma vez que fui tão rejeitado, tudo na minha cabeça estava baralhado. As peças andavam soltas, mas eu sabia que uma coisa tinha de vir primeiro. O Matt. Afinal de contas ele era a peça principal de todo aquele cenário.

- Então muito bem. O Matt já tu conheces, não preciso de estar com muitas cerimónias. Nós somos uma cópia um do outro, só que eu saí com menos tinta no desenho. – mantive-me de pé. – Se te deves lembrar, eu trabalho para uma organização de tráfico de droga e tráfico humano, organização essa que é liderada pelo Matt. E não, ele não é meu pai. Mas ele comprou-me aos meus pais quando eu tinha oito anos, porque eles não tinham dinheiro para cuidar da minha irmã. – olhei rapidamente para a cara dela. Os olhos estavam arregalados e eu percebi que ela estava a começar a reagir a toda informação. – Aconteceu o mesmo com o Niall e foi aí que nos conhecemos, por isso como podes ver, vem daí a nossa amizade. – amizade aquela que já nunca mais poderia ser considerada como tal. – O teu pai entrou muito depois. O Matt sempre raptou homens para fazer experiências com eles, e o Carl parecia ser um bom resistente. Ele não só parecia como era. – acabei por me sentar na cama, ficando de frente para ela, que estava sentada na cadeira. – O Matt queria enriquecer, aliás, ele quer enriquecer e controlar os Estados Unidos. As experiências com a droga são só o início. Depois o Niall tinha a função de construir um aparelho que pudesse ser inserido dentro da pele das pessoas e aí o Matt podia controlar tudo e todos. Já eu fiquei sempre com o trabalho sujo. Matar pessoas ali e aqui, ir buscar a droga, ser o arruaceiro de serviço.

Callous | h.sOnde as histórias ganham vida. Descobre agora