17| Esconderijo

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C A P Í T U L O 17

ESCONDERIJO

You're too mean, I don't like you,
fuck you anyway
You make me wanna scream at the top of my lungs
It hurts but I won't fight you
You suck anyway
You make me wanna die, right when I?

Eu aprendi a usar todos os trunfos. E foi o que eu fiz. Não havia razão para duvidar. No entanto eu precisava mesmo de estar ciente daquilo tudo. Eu precisava mesmo de saber que ela era a filha do Carl. Aquela que ele me tinha pedido para encontrar, mas que eu já tinha encontrado há algum tempo. A mesma que despertava algo estranho e incompreensível em mim. A mesma que me fazia querer coisas estranhas. Que me fazia querer aproximar dela mesmo sabendo que isso era incorreto. O que é que se passava comigo? Porque é que estava tão interessado em alguém tão igual a mim? Talvez a resposta já estivesse na pergunta.

Ainda antes de arrancar, coloquei o cd dos The Neighbourhood. Poderia parecer absurdo. Mas isso ia confirmar aquela nota que eu tinha tirado da porta do frigorífico. A fotografia que estava no chão era ela, embora ela estivesse a sorrir e com uma expressão alegre. E isso era curioso, porque eu nunca a tinha visto sorrir genuinamente. Assim como nunca tinha acontecido comigo.

Ela estava a trautear a letra. A voz dela saia baixinho e ela estava mesmo distraída com a música. Quando parei nuns semáforos olhei para ela e deixei escapar uma leve gargalhada. Ela apercebeu-se e olhou para mim. Estava envergonhada e logo desviou o olhar.

- Podes continuar boneca. - voltei a arrancar depois do verde cair.

- Não me chames isso! - ela disse com os dentes cerrados. Mostrava irritação e deu-me vontade de rir.

- Porquê?

- Porque eu não sou do tipo que se pode brincar e encostar quando já não se gosta. - profundo.

O nosso meio caiu num silêncio. Ela cruzou os braços e olhou em frente claramente zangada.

Ela não o era, mas eu fiz dela uma. Não no seu sentido literal. Talvez eu só tivesse embrulhado os nossos sentimentos e os tivesse encostado. Mas esqueci-me que ela era insensível e eu também. E, como se pode magoar alguém que não tem sentimentos? Talvez eu lhe tivesse dado, assim como ela a mim. Mas podem-se criar sentimentos? Bem, eles podem nascer. Nascer é diferente de criar. Nascer aqui é espontâneo e criar é persistir, fazer com que apareça. Connosco tudo nasceu. Até aquilo que não era possível.

Aproximamo-nos da floresta. Desviei o carro para um caminho não muito usual e entrei por entre as árvores. Já não passava por ali há bastante tempo e iria ser uma incógnita ver como aquilo estava. Ninguém a poderia ter destruído. Ficava bastante retirada da zona que as pessoas costumavam andar. Foi por essa razão que eu e o Niall a montamos lá. Era o nosso refugio. Nunca ninguém a poderia descobrir. Usamo-la bastante, mas depois daquele dia, nunca mais apareci lá. E só apenas com o surgimento da Ava e passados dois anos eu ganhei coragem e reuni forças para ir a um local que me iria trazer memórias dolorosas e destruidoras.

Ela olhou através do vidro. Estava claramente assustada por eu a estar a arrastar para a floresta. Mas eu disse para ela não ter medo, que não lhe ia fazer mal. E eu podia ser um idiota, um fraco psicologicamente. Podia ser arrogante e muito mal criado. Mas uma coisa que eu nunca lhe iria fazer, era magoa-la. Sei que o fiz psicologicamente, mas nunca fisicamente eu o iria fazer. Eu até a estava a proteger de quem lhe podesse fazer tal coisa.

- Porque é que... - eu sei. Levar alguém para uma floresta não era normal. Mas não havia nada de normal no meu mundo. Por isso a normalidade era anormal para mim e o que era anormal para os outros era normal para mim. - O que é que me vais fazer?

Callous | h.sOnde as histórias ganham vida. Descobre agora