20| Confirmação

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C A P Í T U L O 20

CONFIRMAÇÃO

Era dia 20 de dezembro. Podia ser um dia normal como todos os outros, mas não. Naquele dia eu estava destinado a ser um bem feitor, algo que eu nunca imaginei que pudesse acontecer. Eu tinha um rapaz com alguns dos sentidos apagados deitado numa cama em minha casa, como se eu o fosse curar de algo. Mas, mesmo que me tenha aborrecido um pouco ao início, depois foi um bom meio para eu atingir os meus fins. Foi bom porque permitiu-me ficar a saber de algo e criar um forte laço que me iria ajudar a descobrir os resultados das pistas.

Depois da Ava sair do carro ainda fiquei a vê-la entrar em casa e logo de seguida arranquei em direção a casa. Guardei o carro na garagem e subi até ao meu apartamento. Ainda pensei em ir ver o rapaz ao andar de cima, mas decidi fazê-lo mais tarde. Fui então para a cozinha. Estava cheio de fome e já tinha perdido a conta aos dias em que não me alimentava corretamente.

Preparei então algo rápido para comer. Sentei-me num dos bancos altos em frente à bancada e comi a minha massa num silêncio profundo, mas num intenso e revoltante frenesim na minha cabeça. Estava tudo muito errado, mas ao mesmo tempo parecia-me certo. Ainda para mais, com aquele rapaz eu poderia descobrir coisas que me levariam a destinos, que poderiam ser incertos, mas mesmo assim eu iria arriscar. Eu só não percebia porquê tanto interesse numa rapariga que eu mal conhecia. Era estranho e eu precisava de descobrir isso o mais rápido possível.

Levantei-me colocando o prato no lava loiça. Subi as escadas e abri a porta do quarto onde tinha colocado o irmão da morena. O rapaz estava aterrado num profundo sono, talvez algo muito mas muito inconsciente. Então, para o despertar do transe fui à casa de banho enchendo um copo com água e voltei ao quarto. Sentei-me na cama à sua beira. Eram parecidos e tinham muitos traços do Carl. Sem mais demoras despejei a pouca água na cara do rapaz. Logo reagiu, contorcendo-se todo. Levantou-se também, claramente assustado e depois olhou para mim. Mative a minha expressão normal, séria, e isso talvez o tivesse assustado, porque ele ficou com os olhos muito arregalados a olhar para mim.

- O que- - os seus olhos estavam arregalados. – Quem és tu? Onde é que eu estou?

Continuei a olhar para ele. Devia realmente de fazer alguma coisa de útil, como perguntar se ele precisava de algum comprimido para as dores, ou até mesmo perguntar o que se tinha passado. No entanto se o fizesse ele iria provavelmente responder incoerentemente. Então eu apenas fiquei a olhar para ele e a ver o medo descrito na sua cara.

Gostava de saber porque razão a Ava recorreu à minha ajuda, daquela e de todas as outras vezes. Eu era tão... Bem, eu era tão insolente e mesmo assim ela procurava-me sempre. Tinha de haver uma razão. Especialmente se ela me insultava tantas vezes. Era algo que eu não compreendia. Ela criticava mas vinha sempre procurar por mim, tentar que eu a ajudasse em situações mais perigosas. Ela não era tão corajosa como mostrava. Ela era tão medrosa, apenas tinha algo a esconder essa faceta que se tornava em algo apetecível para quem lhe queria mal.

- Drogas e álcool? – acabei por perguntar. Recebi um olhar confuso por parte do miúdo à minha frente. – Para estares assim deves ter ingerido algo desse género.

Ele baixou a cabeça, como se tivesse vergonha de dizer a verdade. Levantei-me e puxei as mangas da camisola para cima.

- Salta daí. – disse quando o silêncio começou a tomar medidas menos agradáveis. Ele parecia que estava com um enorme peso na consciência. Talvez estivesse, talvez tenha sido como a Ava realmente tenha dito. Talvez ele não fosse rapaz de se meter em confusões. Mas, eu sempre aprendi, que experimentar de tudo faz parte da adolescência, mesmo as coisas mais perigosas, porque são elas que nos ajudam a perceber o que é correto e errado, apesar de eu nunca ter aplicado essa teoria em mim. – Anda lá puto, não tenho a tua vida.

Callous | h.sWhere stories live. Discover now