53| Dor

1.6K 201 56
                                    


C A P Í T U L O 53

D O R

Naquele momento tudo parou. Não havia maneira nem de raciocinar. Eu não tinha morrido. O Matt não me tinha morto. Não sei se aquele era um pretexto para respirar de alívio. Talvez fosse melhor ter morrido naquele exato momento do que continuar a viver e ter causado o pior castigo a mim próprio. Mas, talvez fosse mesmo necessário. Talvez eu tivesse mesmo de provar o sabor amargo que a vida tinha reservado para mim.

Quando o tiro foi disparado os meus sentidos ficaram todos baralhados, porém mais despertos do que anteriormente. Se o Matt não tinha disparado contra mim, alguém tinha de ter sido atingido. Foi então quando ouvi o Matt gritar e cair, que percebi que tinha sido contra ele.

Olhei para o chão. Ele estava a agarrar a perna e a gemer. Tentei soltar-me, mas foi em vão. Tentei então procurar o autor de tal acontecimento. Os meus olhos quase saltaram fora quando vi o Niall com uma arma na mão. Passei depressa o olhar para a Ava e já a Ambar estava à beira dela. Senti-me fraco. Fraco por não poder ser eu a ajuda-la.

- Mano, temos de sair daqui depressa. – o Niall começou a desapertar a fita que estava a amarrar as minhas mãos. Senti-me aliviado quando me vi solto e com capacidades para me movimentar, porém a minha fraqueza era demasiado evidente para ser rápido. Quando ia falar vi o loiro caminhar em direção ao Carl.

Ouvi os gemidos do Matt. Ele estava agarrado à perna, local onde tinha levado o tiro. Era impossível para ele fazer alguma coisa, porém para mim também não restavam grandes possibilidades. As dores no meu corpo eram maiores do que a minha vontade de o destruir, mesmo que ela residi-se em mim e ocupa-se uma grande parte da minha vontade.

- Harry vamos. – o Niall gritou. Estava a agarrar o Carl, que evidentemente já não tinha qualquer capacidade para andar sozinho.

- E ele? – apontei para o Matt. – Vamos deixa-lo vivo? Depois de tudo o que ele fez?

- Não há tempo para isso Harry. – senti-me frustrado com a resposta do Niall. – Não podes mata-lo. A polícia irá aparecer. Nós temos de ir. Nós estamos a ficar sem tempo.

Abanei a cabeça. Não era aquilo que eu queria. Se o Matt minutos antes ia matar-me, naquele momento em que ele já não tinha qualquer controlo, eu podia fazê-lo com as minhas próprias mãos. Fazer com que ele deixa-se de existir para interferir na minha vida.

- Harry. A Ava e o Carl não aguentam mais. Nós temos de ir. – o loiro acabou mesmo por gritar. Olhei para trás e uma vez mais para o Matt, mas acabei por não cumprir aquilo que mais queria, juntando-me então a eles.

- Vocês v-vão pa-paga-las! – foi a última coisa que ouvi vinda do Matt depois de seguir caminho para o exterior.

Passamos por dois homens do Matt caídos no chão, inconscientes. A Ava ia agarrada à Ambar e o Carl ao Niall. Eu estava sozinho, deixado para trás, como eu sempre deveria ter estado em toda a minha vida.

- Ambar, conduzes tu. Eu vou à beira do Carl. Ele pode precisar de alguma coisa. – a ruiva assentiu e entrou para dentro da carrinha. – Eu vou nos bancos do meio com o Carl. Ele precisa de se deitar. Ficas nos detrás com a Ava.

Depois da porta ser aberta, ajudei a Ava a subir e a seguis entrei eu. Logo a carrinha iniciou uma marcha. O corpo da rapariga ao meu lado estava próximo do meu. Senti-a tremer. O choro dela era silencioso. Eu não podia dizer nada, porque eu não sabia o que dizer. Então eu limitei-me a colocar um braço por cima dos ombros dela e puxei-a para mim. Eu sabia que naquele momento ela estava a odiar-me, mas também sabia que ela não conseguia dizer nada, então eu também mantive-me calado.

Callous | h.sOnde as histórias ganham vida. Descobre agora