70| Sobrevivência

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C A P Í T U L O 7 0

S O B R E V I V Ê N C I A

– O que é que tu queres? – os meus olhos estreitaram na direção daquele homem. O sangue que corria por mim pareceu deixar a sua principal função de lado. Todo eu fiquei gelado ao olhar para aquele homem.

– Nada. Vim em paz! – vim em paz. Aquela típica frase do Matt que anunciava que depois da mesma algo de muito mau viria. E eu sabia, com todas as minhas certezas, que por detrás do Ryan, o Matt estava a comanda-lo. – É bonita! – a sua cabeça apontou para a Ava e depois de o dizer ele soltou uma gargalhada. – Vêmo-nos por aí. – ele disse passando por mim e dando-me uma palmada nas costas.

Cerrei o punho da mão que estava para baixo. O Ryan era a prova viva de que o Matt estava próximo de nós, e se não nos acatássemos, em breve ele iria ter-nos nas mãos e fazer de nós aquilo que ele sempre quis, especialmente fazer de mim aquilo que ele mais quis ao longo de todos aqueles anos. Matar-me.

– Vais fazer tudo o que eu mandar a partir de agora. – disse-o firme para a Ava ouvir. Se quando estávamos no autocarro eu estava um pouco longe e desinteressado, depois de ter encontrado aquele homem, a minha fome de vingança e a minha autoridade subiu como uma flecha a acertar no seu alvo na hora exata. – E é bom que não dês um passo sem eu saber, senão estamos todos mortos.

Virei-me para trás, conseguindo ainda ver o Ryan caminhar. Depois daquele nosso encontro ele iria muito provavelmente contar ao Matt. Ele até podia nem estar ali, mas sabendo que nós estávamos, numa questão de horas ele vinha ao nosso encontro. O que ele talvez não sabia é que para além da polícia estar à minha procura, estava também à procura dele. E de certa forma isso era um pequeno ponto a meu favor.

– Quem era aquele? – foi depois da Ava ter falado que eu percebi que ainda tinha o meu braço direito por cima dela. Tirei-o e olhei-a nos olhos.

O Carl tinha razão quando disse que em breve seríamos só nós os dois. Nós os dois contra o Matt e todas as pessoas que trabalhavam com ele e esperavam algo em troca. Mas aquilo que ele lhes poderia dar em troca era única e exclusivamente a morte, e disso eu tinha a certeza que a maior parte não saberia.

Eu tinha esperado muitos anos para poder colocar o Matt no local onde ele nunca deveria ter saído. Mas ali, naquele momento eu só não tinha de dar cabo daquele monstro, como também eliminar quem se quisesse atravessar no meu caminho, como o Ryan. Sabia que ele estava com raiva de mim, especialmente depois de lhe ter atirado na perna.

– É um dos homens do Matt.

Os olhos dela arregalaram-se. A Ava não era tão corajosa como às vezes mostrava ser. Ela era fraca e tentava esconder isso com certas e determinadas ações, mas não servia de muito, porque quando eu precisei da verdadeira ajuda dela, ela limitou-se a ficar calada.

– Por isso agora o melhor mesmo é colaborares comigo, ou então eu te garanto que um de nós não sairá vivo. – independentemente de tudo o que tivera acontecido nos últimos dias, ela tinha de deixar o orgulho e a revolta que sentia por mim de lado. – Agora vamos. Temos de nos preparar para o que possa acontecer.

Entramos dentro do supermercado. Começamos por procurar alimentos que pudéssemos transportar de um lado para o outro e também que não se estragassem com facilidade. Compramos uma mochila para podermos transportar as coisas connosco, e eu ainda consegui encontrar uma faca e uma corda. Apesar da arma que tinha, para nós os dois aquilo poderia não ser o suficiente. Depois de termos reunido tudo, pagamos e saímos. Para onde iríamos a seguir era uma incógnita.

Callous | h.sWhere stories live. Discover now