12| Corrida

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C A P Í T U L O 12

CORRIDA

Um, dois, três, quatro, cinco... O saco de boxe à minha frente balançava furiosamente de cada vez que o socava. A minha raiva estava a ser deixada de lado, e se fosse para a extinguir toda de mim, precisava de cem anos para o fazer. Quantos mais socos dava, mais vontade de dar tinha. Era algo que não conseguia controlar, especialmente porque para mim cada um deles significava algo forte.

Um era para o Matt. Outro era para o que ele tinha feito comigo. Para aquilo que eu queria fazer com ele. Uma quantidade avultada para o Niall, mesmo que eu tivesse sido o culpado. Aquele idiota merecia, porque estava a fazer com que eu ficasse maluco por pensar coisas que nunca voltariam a acontecer. Também alguns para a Ava. Ela não saia da minha cabeça. Isso estava a levar-me à loucura, porque embora eu quisesse acreditar que isso não significava nada, estava claro, como a água, que havia alguma coisa que me fazia pensar nela.

- Foda-se. Merda. Raios. Morram todos. - dei um pontapé forte no saco e depois sentei-me no chão, encostando-me à parede. Coloquei a cabeça em cima dos braços que estavam apoiados nos joelhos e respirei fundo vezes sem conta. Estava alterado, mas não havia nada que me fizesse ficar melhor.

A vida é um ciclo vicioso. Há um dia. Começamos na madrugada, vem a manhã, depois descemos para a tarde e caímos na noite. Eu sou uma pessoa. Era um miúdo aparentemente normal. Depois fui dado à crueldade. Tornei-me insensível e depois caí. Era o que a vida tinha reservado para mim. No entanto eu podia mudar isso e hoje eu não estaria aqui a rever tudo aquilo que me aconteceu. Se mereci? Cada um tem aquilo que merece, não é assim mesmo? Por alguma razão as coisas acontecem.

- Levanta-te! - a voz dura do Matt furou a bolha que estava a tentar criar. - Estás a ouvir?

- O que é que queres? - levantei a cabeça.

O Matt era um homem assustador. Ele era alto, moreno e tinha uns olhos escuros. Era como se eles entrassem em qualquer fenda e atacassem. Ele não queria saber das pessoas. Apenas as usava para proveito próprio. Houve tempos em que eu me perguntei se havia alguma razão para ele ser assim. Mas ele tinha tudo. Para que é que tinha de ser tão desumano? O problema é que pessoas que têm tudo são umas infelizes. Ele era infeliz e então fazia aquelas coisas para se poder vingar. E eu também. Eu era uma cópia dele.

Estreitei os olhos na sua direção. Se queria mudar as coisas tinha de me começar a impor. Era necessário. Mais um mês e tal e eu ia fazer vinte e um anos. Isso significava que podia mexer-me à vontade. Ele não me podia controlar mais. Só que as coisas ali não eram assim. Ele ia controlar-me até eu dar cabo dele.

- Que seja a última vez que tratas a minha sobrinha daquela maneira. - tinha de ter a ver com a loira irritante. Soprei mentalmente e bufei.

Acabei por me levantar e depois tirei as luvas de boxe atirando-as para um canto qualquer. Não me ia deixar ser mais uma vez dominado pelo Matt. Ele não podia continuar a fazer o que quisesse. Eu tinha autonomia, mesmo que ela não tivesse muito peso eu tinha de me impor. E para além de eu estar completamente cansado das merdas dele, eu estava ainda mais cansado por causa da minha mente que me andava a atraiçoar com visões estranhas e confusas.

- Ela foi fazer queixinhas. - revirei os olhos. Estava a ser supervisionado de mais. Foi sempre assim durante aqueles anos. Eu dava um passo mas alguém estava dois à minha frente. No entanto eu consegui mudar isso, e depois tive de pagar por tal, da pior maneira possível. - Porque é que não me deixas em paz? A Savannah não é ninguém para entrar na minha vida, e tu não és nenhum comando para a mandar fazer estas merdas.

Callous | h.sWhere stories live. Discover now