33| Segredo

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C A P Í T U L O 33

S E G R E D O

Os olhos dela estavam gelados, completamente. Havia hostilidade neles e eu não conseguia compreender porque razão ela tivera mudado tão rápido de expressão. Quanto mais eu me tentava aproximar, mais ela se afastava, como se eu fosse algo tão prejudicial que só com um toque levava à fatalidade. E não era assim? Claro que era. Só não o queria admitir.

Ela virou-se, caminhando em direção à saída. Antes que a perdesse de vista andei apressado atrás dela até chegar ao carro, onde ela bateu a porta com demasiada força para me deixar a mim irritado. Queria explodir naquele momento. Aquela mudança repentina estava a fazer-me mal e eu não conseguia compreender nada. Teria sido a Savannah? Teria sido ela a espicaçar a Ava para ela me passar a odiar de um minuto para o outro? Claro que foi ela. O veneno naquela cobra era maior do que a água existente no maior oceano.

- Estás à espera de quê? Eu disse que quero ir embora. – a Ava estalou sem olhar para mim.

- Foda-se. – virei-me para ela. – O que é que se está a passar contigo Ava?

- O que se está a passar comigo? – desta vez ela virou-se para mim. Uma expressão zangada. – Tu passas-te da cabeça ou quê? Eu é que pergunto o que se está a passar contigo. És tão idiota, nem sei como é que... – cerrou os punhos depois de fechar os olhos. – Leva-me para casa.

Deixei escapar um suspiro de frustração e conduzi até casa dela com uma velocidade digna de uma multa pesada. Porém estava-me nas tintas para qualquer coisa relacionada com isso.

As reações da Ava estavam a deixar-me fora de mim. O que teria acontecido na casa de banho? O que lhe teria dito a Savannah? Certamente que não lhe disse que era minha namorada ou tinha ido para a cama comigo. Já tinha deixado bem claro à Ava que isso não tinha acontecido. Mas para que é que eu estava tão preocupado em relação a isso? A Ava não me era nada a mim nesse sentido. E se as coisas continuassem naquela linha, nunca seria. Se eu queria? Ela deixava-me maluco, isso sim.

Apertei o volante com força. Foi então que as palavras que tinha trocado com o Matt me vieram à memória. "Espero que estes dias sozinho com a tua namoradinha tenham sido agradáveis." "Agora a Savannah é que não achou muita piada." Eles estavam juntos em conseguirem com que a Ava se afasta-se de mim. De certeza absoluta. Só que a Ava não sabia quem era o Matt e então a Savannah era a peça de jogo dele. Só que o que ele não sabia era que a minha estava prestes a chegar.

Quando parei o carro a rapariga ao meu lado saiu imediatamente. Tirei o cinto de segurança e apressei-me também a fazer o mesmo caminho, trancando o carro com o comando à medida que ia correndo atrás dela.

- Vais explicar-me o que se passou. – agarrei-lhe no braço. Ela tentou fazer força para sair, mas isso não foi possível porque apertei com força, mas não a um nível onde a pudesse magoar.

- Não, não vou. – o seu olhar evitou contacto com o meu. – E agora larga-me. Eu preciso de ir dormir, amanhã tenho de me levantar cedo para ir trabalhar.

- Não saio daqui enquanto não me disseres o que se passou.

- Se não me largares eu vou gritar. – ela parecia com medo, de mim. Não queria que ela sentisse isso em relação a mim. Ela era a única pessoa em que eu, em certas circunstâncias, conseguia ser mais brando.

- Grita à vontade. Ninguém te vai ouvir, especialmente se eu tapar a tua boca e te levar de volta para o carro. – falei da maneira mais fria que consegui.

Pareceu ter resultado, porque ela revirou os olhos e ainda com a minha mão a segura-la abriu a porta e deixou-me passar. Larguei-lhe o braço e depois ela conduziu-me até uma porta que depois de aberta me fez perceber que era o quarto dela.

Encostei-me a um móvel e cruzei os braços à espera que ela falasse.

- O que é que se passou na casa de banho? – perguntei quando vi que ela apenas se ia redimir ao silêncio. – Foi a Savannah não foi?

- Tu sabes... – a boca dela abriu-se ligeiramente. – Oh meu Deus. Tu combinaste com ela não foi?

- 'Tás-te a passar? – as palavras dela ofenderam-me. – Eu já te disse o que penso da Savannah. Quanto mais distância dela melhor. Eu só a vi do outro lado do balcão quando nos estávamos a beijar.

Se naquele momento eu tivesse a Savannah à minha frente, não responderia pelos meus atos e o mais provável era mata-la com as minhas próprias mãos e desfazê-la em pedacinhos para que nunca mais na minha vida aparecesse à minha frente.

- Então como explicas o facto de ela me ter dito que sabe exatamente o que se passa comigo e que tu estás envolvido? – a voz dela elevou-se e temi que a mãe e o irmão dela aparecessem. – Melhor. Ela referiu o nome do meu pai. Do meu pai. E sabes onde o meu pai está? – começavam a ser visíveis lágrimas na face pálida. – Pois, eu também não. E agora a pergunta é. Como é que ela sabe? Como é que ela sabe o nome do meu pai? Quem é ela, quem és tu?

As lágrimas escorreram pela face dela de uma maneira continuada e agressiva. Naquele momento eu só queria ir ter com a Savannah e poder descarregar a minha raiva nela. Estava tudo tão bem. Quer dizer, aparentemente.

- Ava. – aproximei-me dela quando se sentou na cama.

- Deixa-me Harry. – o braço dela empurrou-me, mas sem sucesso. – Eu não estou a perceber nada.

Olhei em volta. Não a podia deixar com aquilo na cabeça. Tinha de tomar medidas. Tinha de fazer com que ela se esquecesse daquilo. Ela iria saber, um dia ela iria saber. Mas não podia ser naquele momento. Não podia. Era muito perigoso. Ia ser mais tarde. Só que eu não estava preparado para lidar com coisas daquele género. Eu precisava dela, como nunca me tinha apercebido. E se a deixasse naquela posição, ela nunca mais iria querer que eu falasse com ela e aí o Matt aparecia e levava-a.

- Olha para mim Ava. – ela mostrou resistência e eu fui obrigado a abana-la fortemente. – Olha para mim! – ela acabou por fazê-lo. – Acalma-te. Respira fundo. Eu vou contar-te o que se passa.

Eu não devia de fazer aquilo, mas se eu não fizesse...

- Respira fundo. Vai correr tudo bem. Tu estás calma e nada te vai acontecer. Relaxa. – ela cedeu, o que me deixou mais descansado. – Inspira profundamente e expira calmamente. Agora olha para mim. Olha diretamente nos meus olhos, pensa que estás no nosso esconderijo no meio da floresta. Lá nada te acontece.

E ali ela entrou num estado de transe. Os olhos dela não saiam dos meus. Era um pouco arrepiante, mas era o essencial.

- Quero que te esqueças de tudo o que ouviste na casa de banho. Quero que te esqueças daquela rapariga loira e que só te lembres de mim. Ela não é importante, muito menos aquilo que ela te disse, por isso apenas esquece e concentra-te em mim quando voltares ao teu estado ciente. – parei de falar e olhei-a nos olhos que ainda não tinham mexido. – Agora respira fundo e quando eu contar até dez vais acordar.

Contei até dez e não tardou a que os seus olhos piscassem e ela olhasse para mim com uma expressão confusa.

- O que é que se passa? – levou as mãos aos seus olhos e esfregou-os. – Sinto-me tonta.

- Adormeceste no carro. Foi isso. – levantei-me. – Amanhã passo por aqui para te levar ao trabalho.

Saí o mais depressa do quarto, porém dei de caras com o Evan que me olhou perplexo. Estava com a boca aberta e parecia que tinha o olhar carregado de medo. Eu estava no caminho mais perigoso que podia haver.

- Tu... – ele deu um passo atrás. – Oh meu... o que é que tu...

- Não podes contar a ninguém o que viste. – claro que as coisas iam correr mal. Estava tudo a correr-me mal e eu estava a ficar cheio de medo. – Não podes dizer-lhe especialmente a ela. Se não eu estou metido em sarilhos.

- Mas tu... – não sei se ele estava com medo, mas preferia que estivesse.

- Sim, eu. E daí? Espreitar atrás das portas é feio, por isso esquece o que viste e ouviste.

Saí rapidamente daquela casa e conduzi para um lugar incerto de modo a deixar os meus pensamentos menos bons de lado, se isso era possível.


Callous | h.sWhere stories live. Discover now