27| Confissões

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C A P Í T U L O 27

CONFISSÕES

Abri a porta do meu apartamento. Precisava de descansar e repor as ideias. Precisava também de dormir umas boas horas e acordar quando o mundo estivesse menos hipócrita, começando por mim. No entanto, se eu pensava que ia encontrar a minha casa tranquila para poder abstrair-me um pouco dos meus pensamentos, eu encontrei a minha casa do avesso. Com tudo fora do sitio. Havia objetos no chão, alguns deles partidos. Havia uma confusão. Todo o espaço gritava a assalto. Porém não havia nada de maior que me pudessem tirar. O dinheiro estava guardado no banco, assim como algumas das coisas mais preciosas. Tudo o que me poderiam roubar eram os aparelhos eletrónicos.

Fechei a porta atrás de mim. Iria mentir se dissesse que não estava com receio, porque eu estava. Aquilo nunca me tinha acontecido e eu podia jurar que tinha alguma coisa a ver com o que estava a acontecer à Ava. Podia, porque também podia não ter nada a ver. Só que às vezes não sabia se aquilo era mesmo mão do Matt. Havia uma boa quantidade de pessoas que me queria ver debaixo da terra. Por isso se me vissem com ela podiam associar algo e usa-la como meio para me assustar. Mas mesmo assim alguma coisa não batia certo. Estavam a acontecer muitas coisas ao mesmo tempo. Pareciam idênticas, mas ao mesmo tempo não.

Avancei. Não havia nada, aparentemente, que tivesse sido roubado. Até que me lembrei da arma que tinha roubado ao Matt. Eu já não tinha posse de arma, por isso tive de a guardar em casa. Corri para o móvel da televisão e abri a gaveta que não estava fechada à chave. A arma estava lá, mas não estava sozinha.

"Usa-a bem antes que alguém o faça por ti."

Era o que estava escrito num pedaço de papel. Letras pretas e carregadas. Senti-me ficar tenso quando li aquilo. Alguém estava atrás de mim, alguém queria que eu provasse daquilo que anteriormente dei a provar.

Sentei-me no sofá e tapei a cara.

Nada estava a correr bem. Ou melhor, nunca nada tivera corrido bem. Eu estava a jogar com mentiras. Perigosas mentiras. Havia uma rapariga que me estava a controlar em todos os sentidos e que eu não queria acreditar em tal. Havia uma quantidade de coisas absurdas. Coisas essas que me levaram à loucura.

***

Caminhei pela estrada sozinho. Não estava a chover, mas estava um terrível frio. Muito mas muito frio que até fazia com que respirar fosse uma tarefa complicada.

Tinha de resolver o problema com o meu carro. Podia tê-lo feito logo de manhã, mas eu queria estar sozinho e poder colocar as ideias no sítio. O que não foi uma boa ideia, porque quando cheguei a casa deparei-me com algo bastante ameaçador. Porém deixei isso de lado um pouco e dormi o tempo necessário para poder ser transportado para outro local. Só que quando acordei a desarrumação ainda lá estava e aquela nota também.

Acabei por sair de casa e lá estava eu, a ir resolver um problema para me deparar logo com outro de seguida.

Quando alcancei o meu lado da floresta, avistei o meu carro e o esconderijo mesmo à beira. Só precisava de mudar o pneu. Podia fazer isso perfeitamente sozinho. E além disso, não era propriamente benéfico levar alguém para aquele lado. Ninguém era de confiança e quem me quisesse apanhar fá-lo-ia rapidamente.

Optei por ir primeiro até ao esconderijo. Tinha uma certa necessidade em fazê-lo. Todo eu tinha uma necessidade em reviver momentos anteriores. Era estranho, mas iria fazer-me sentir um pouco mais em paz. Ou talvez fossem os lábios dela que o fizessem.

Introduzi a chave na fechadura, mas a porta estava aberta. Senti pânico, um leve pânico. Eu tinha-a fechado. Não havia maneira de entrarem lá dentro.

Callous | h.sOnde as histórias ganham vida. Descobre agora