10| Arma

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C A P Í T U L O 10

ARMA

Eu fiquei alheio à verdade durante dois anos, mas quando vi aquele corpo a mover-se eu consegui reunir forças e acreditar que eu ia realmente descobrir o que se tinha passado. Eu sabia que estava perto. Aquilo não era nenhuma visão. Eu tinha visto com os meus próprios olhos. A mesma altura, as mesmas roupas e a mesma cor de cabelo. A mesma maneira atrofiada de o usar. Era a prova viva de que eu não tinha feito nada de mal. Eu sabia o que estava a ver. Ninguém podia dizer o contrário. Eu não estava louco. Todos os outros é que estavam.

Continuei a correr pelo corredor. Aquele corpo fez o mesmo, até que eu deixei de o ver. Como se aquilo fosse o resultado de piscar os olhos. Com eles abertos ele estava lá, mas depois fechei-os e quando voltei a abri-los já não estava nada naquele lugar. Não havia o mesmo casaco e calças pretas e a mesma cabeça loira. Não havia nada, e isso deixou-me confuso.

Praguejei baixinho e quando me virei dei de caras com a Savannah. O impacto foi forte, porque eu dei um salto quando a vi e quando o meu corpo chocou no dela. O meu coração acompanhou os movimentos, saltando do seu lugar instável para ver ainda mais instabilidade no meu sistema nervoso.

- O que é que aconteceu? - ela perguntou claramente assustada com as minhas ações.

Voltei a olhar para trás na esperança de ver aquilo que me podia alimentar a sanidade mental, mas não vi nada. - Era o Niall.

- O Niall? - ela arregalou os olhos e depois começou a rir-se. - Estás bem? - a sua mão fez vários movimentos à frente da minha cara. - Só podes andar a ver fantasmas. Ou estás a sonhar acordado. O Niall nunca poderia estar aqui, sabes perfeitamente isso.

- Merda. - passei uma mão pelo cabelo. - Foda-se eu vi-o! Era ele. Eu tenho a certeza. Eu não estou maluco.

- Pois, mas parece. - e depois eu fiquei sozinho no corredor.

Eu sabia o que tinha acontecido naquele dia e tecnicamente eu não podia ver o Niall em lado nenhum. Não depois do que aconteceu. Mas era ele no corredor e eu não podia negar. Eram os mesmos movimentos. Eu sabia disso. Eu conhecia-o melhor do que a mim mesmo. Ele era o meu melhor amigo, ou tinha sido, durante dez anos. Eu partilhei com ele o meu ódio pelo Matt e a minha vontade de vingar aquilo em que ele me tinha tornado.

O Niall tinha a mesma vontade e estava destinado que quando fizéssemos vinte e um anos eu e ele íamos montar um plano para extinguir o Matt e fazer com que ele tivesse o seu merecido fim. Mas nada disso podia acontecer. Não depois daquilo que aconteceu naquele dia. Por isso eu não podia ver o Niall. Só que eu tinha-o visto, e isso estava a dar cabo de mim. Primeiro tinha sido aquela visão no meu quarto e depois vê-lo a correr no corredor do hotel. Eu não tinha visto a cara, mas eu sabia que era ele. Eu sabia e tinha a certeza.

Acabei por voltar para trás, indo para o quarto. Abri a porta com o cartão e assim que entrei ouvi o som do chuveiro, o que me deu indicações de que a Savannah estava a tomar banho.

Sentei-me na cama e cobri a cara com as mãos. Tentei convencer-me de que não estava louco e de que não estava a ter visões. A Savannah podia não ter visto. Mas ela não era importante. Eu não precisava do testemunho dela para ter a certeza de algo que eu vi, com os meus próprios olhos. Eu ia resolver a situação e ia descobrir.

E ali já constavam três coisas na minha lista. A primeira era descobrir de onde conhecia a Ava, a segunda era encontrar a fotografia dos filhos do Carl e a terceira era descobrir o porquê de eu ver o Niall quando todos sabíamos que não o podíamos ver, a não ser em sonhos.

Callous | h.sOnde as histórias ganham vida. Descobre agora