75| Miséria

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C A P Í T U L O 75

M I S É R I A

O Matt, meu pai...

Olhei mais uma vez para o papel nas minhas mãos e não tardou a que o amassa-se e atira-se para um canto. Fúria cresceu dentro de mim. Queria destruir tudo o que me rodeava. Partir tudo o que sustentava aquele espaço e no fim destruir-me a mim próprio por ser tão burro ao ponto de nunca ter percebido nada do que se estava a passar ao meu redor. Toda a minha vida tivera sido enganado. A nadar numa profunda mentira de quem eu era e de quem eu me tornei.

Como? Como é que o Matt poderia ser o meu pai? Aquele monstro. Aquela pessoa horrível capaz de matar pessoas para pura diversão. Na realidade eu não era muito diferente. Eu também causava o mal ao próximo e era acima de tudo egoísta. Tal como ele. Mas eu não podia ser um Holman. Eu não podia. Só de pensar, que o sangue que corria dentro de mim era o mesmo que em tempos correu no corpo do Matt, a mina vontade em destruir-me aumentava fortemente.

Afinal de contas mesmo que sobrevivas vais querer morrer depois de descobrires que...

As palavras dele antes de eu ter disparado o tiro agora faziam sentido. Mas então... se o Matt me odiava por ser filho dele, será que ele sabia realmente do que tivera acontecido na outra vida? Será que ele sabia que tivéramos sido irmãos e que eu tivera morto a Ava por puro egoísmo? Talvez ele soubesse, principalmente por ter dito à Ava que ela iria fazer uma viagem ao passado. Mas afinal de que se queria ele vingar?

Zangado e sem conseguir descobrir absolutamente nada, a fúria dentro de mim passou para os meus atos. Rapidamente a minha mão já estava a colidir com as paredes e os armários à minha volta. Queria poder destruir tudo, e no fim destruir-me a mim também. Se eu era realmente filho do Matt, então tê-lo morto não serviu de nada. Comigo vivo era como se nada ainda tivesse acabado.

– Hey hey hey! – numa questão de segundos umas mãos estavam a agarrar os meus braços, impedindo-me de continuar com os meus atos de destruição. – Não acha que já causou estragos suficientes? Olhe que com isto só está a piorar a sua situação.

Fiz força para que o homem me largasse. Ele cedeu, mas o seu olhar continuou em mim. Soube logo pela forma que me olhava, que eu estava em maus lençóis. Mas eu sempre estive, só que daquela vez eu não iria ter ninguém que me pudesse socorrer.

– Venha comigo. – deu alguns passos para a frente, chamando-me de seguida. – Vamos ver o que você sabe.

Acabei por segui-lo, ainda que com a raiva a fervilhar em mim. A realidade é que se eu não cedesse poderia vir a ter grandes problemas. Mas eu também já estava metido neles, por isso que mal tinha prolongar um pouco? Uma vez que a minha vida estava toda virada do avesso, nada iria fazer sentido. O Niall tivera ido embora de vez. O Matt morto pelas minha próprias mãos. O Carl enterrado sem me poder dar qualquer informação sobre o que tivera descoberto. E a Ava... A Ava... Estaria ela bem? Estaria ela viva ou também morta pelas minhas mãos, num ato de fúria e raiva, com a minha sede em vingar os meus últimos anos de vida?

O inspetor abriu a porta de uma sala, mandando-me entrar. Na mesma apenas havia uma mesa e duas cadeiras. As paredes tinham um tom escuro. Sala de interrogatórios.

– Pode começar por me explicar isto. – depois de ter aberto uma pequena pasta, o homem estendeu várias folhas em cima da mesa. Peguei numa delas vendo todo um perfil de um dos homens que outrora servia de cobaia para o Matt. – Encontramos isto em sua casa, assim como muitas outras coisas interessantes.

Mantive-me calado. Nada daquilo estava em minha casa. Não podia ser. Todos aqueles papeis e tudo o que envolvesse o negócio do tráfico estava em casa do Matt. A menos que ele...

Callous | h.sOnde as histórias ganham vida. Descobre agora