06| Efeitos

3.9K 400 23
                                    

C A P Í T U L O  06

EFEITOS

- O que é que isto era suposto causar? - Olhei para o Matt. Ele estava claramente zangado. Quase que partiu um tubo de ensaio quando lhe disse que a droga não tinha causado efeito nenhum no Carl. Ele só não o fez porque tinha perfeita noção de que iria destruir algo que lhe custou muito dinheiro. Não o tubo, mas sim o conteúdo.

Eu estava nervoso, as minhas mãos estavam a tremer e eu soube logo que o facto de ter injetado uma seringa cheia daquela merda que eu nem sabia o que era, ia causar algo mau em mim. Para além disso as minhas mãos começaram a suar e tudo o que eu queria era ir embora. No entanto precisava de saber o que é que aquilo poderia causar em mim. Eu já me tinha drogado, talvez por volta dos dezassete anos. Mas foram meia dúzia de vezes, ou nem isso. Aquilo sempre causou reações pouco agradáveis em mim. Eu tinha-o feito com o Niall, e, apesar de ele ter sido sempre um pouco mais atinado, ele experimentou também. No entanto apercebeu-se de que não poderia continuar com aquilo, ou iria acontecer-lhe coisas muito más. E aconteceu. Não foi diretamente dessa forma, mas aconteceu.

O homem à minha frente encarou-me com um olhar intenso. Olhos muito escuros. Ele suspirou, soltou várias palavras que foram incompreendidas por mim e depois falou.

- Alucinações, das piores que podem ser causadas pela droga. Euforia. No fundo era suposto controlar-te e fazer com que quisesses mais. - dei dois passos para trás. - Merda. Comprei duas doses e custou-me dez mil dólares. Sabes quanto são dez mil dólares? - ele estava furioso. Dava para ver. Mas eu iria ficar mais. - Era suposto fazer o dobro do dinheiro quando ela estivesse totalmente feita.

Olhei à minha volta. Eu estava a ver as coisas um pouco turvas. Pisquei os olhos várias vezes e tudo voltou ao lugar. No entanto as minhas mãos continuaram a tremer e a suar. Respirei fundo na tentativa de me manter calmo.

- Eu tenho de ir. - comecei a caminhar para trás. - Yah, eu tenho mesmo de ir.

Depois comecei a correr. Estava a chover, e na pequena viagem até ao carro acabei por molhar o meu cabelo. Sacudi-o e depois peguei no telemóvel e liguei para a pessoa que eu sabia que me ia ajudar, mesmo não tendo muita proximidade.

- Então mano. Saudades minhas? - o seu tom era de gozo, evidentemente. Eu não tive tempo de ser mal criado com ele, tinha de aproveitar cada minuto e até mesmo cada segundo como se fosse o último.

- Ouve. - a minha respiração estava alterada, mas não havia tempo para a tornar regular. - Preciso que vás ter a minha casa agora, tipo, já. - liguei o carro. - Eu vou abrir a porta e tu entras. Eu vou estar muito... - eu já estava a sentir os efeitos. O meu cérebro estava a andar à roda. Parecia que alguém o tinha esmagado e dado um pontapé com bastante força. - Merda, eu injetei, vem rápido. Eu não posso ficar sozinho muito tempo. Esta merda é forte.

- 'Tás passado? - ele quase que gritou. Tive de afastar o telemóvel do ouvido e depois pousei-o no suporte quando comecei a conduzir.

- Não comeces John! - abrandei a condução. Já estava a sentir aquela excitação e a vontade de rir. - Eu... - soltei uma gargalhada. - Foda-se. Vem, isto está quase a fazer efeito e eu não posso ficar sozinho ou faço alguma cena marada.

- Okay, Okay. - consegui ouvi-lo a mexer-se, o que me deu a indicação de que ele estaria provavelmente a ir para o carro. - Vamos... não importa. Amanhã faço isso. - ele falou para alguém, que claramente eu não sabia quem era. - Mano, tem calma. Estou a ir para aí.

Depois ele desligou a chamada e eu estacionei o carro no primeiro lugar vago que vi. Corri para a porta de entrada, estava a cambalear um pouco e a minha cabeça estava a começar a tornar o mundo numa confusão ainda mais confusa do que o que já era. Consegui abri-la e em vez de ir pelo elevador, porque eu sabia que podia carregar em todos os botões e ficar lá preso, subi as escadas, de duas em duas. Quando cheguei ao meu dúplex, abri a porta e corri para o quarto, deixando a da entrada aberta.

Sentei-me na cama e na minha cabeça começaram a passar imagens aleatórias, mas não imagens incompreendidas. Era tudo situações que já tinha vivido, especialmente aquela, que estava sempre a passar. Depois, quando olhei para a frente, eu vi o Niall. Aquilo deixou-me confuso, especialmente porque ele desaparecia e voltava a aparecer. Quando eu o voltei a ver fui em frente com o intuito de o agarrar, mas ele desapareceu. Era claramente uma visão. Ele nunca na vida ia voltar a aparecer.

- Harry. - eu ouvi alguém chamar por mim. Só me deu vontade de rir. E foi o que eu fiz. Ri, ri e ri. - O que é que...

Era o John, mas não estava sozinho, vinha acompanhado pela Ava. Eu olhei para eles e ri. Havia uma parte muito, mas muito pequena que não queria, mas a outra, grande e controlada pela droga estava a fazer-me agir inconscientemente.

- Olha, ali. - apontei para a porta e eles olharam. - É o Niall!

Eles voltaram a virar as caras para mim, expressões confusas.

- Olhem! - falei rude. - Merda. - levantei-me e quase que cai, mas ignorei isso e fui até à porta. - Aqui seus idiotas. Ele está aqui.

- Sim, ele está aí. - o John agarrou-me e falou com pouca convicção. Depois levou-me outra vez para a cama e sentou-me. Não tardou muito para que senti-se a sua mão a colidir com a minha cara, num estalo forte.

- 'Tás te a passar meu? - pressionei a minha mão na bochecha para aliviar a dor.

- Tu é que te estás a passar Harry. - ele baixou-se, ficando à minha frente. Olhei para o lado e a rapariga estava a olhar atentamente para nós, mas os seus olhos estavam mais concentrados em mim. Continuei a olhar também para ela. - Porque é que injetaste?

- Miúda sem medo. - apontei para ela. - Senta aqui.

- Eu tenho nome! - ela falou rudemente. - Idiota!

Depois eu não me lembro de mais nada. Eu cai para trás e adormeci. E isso foi o melhor, porque se eu tivesse continuado acordado eu tinha-me descaído e teria contado algo que me iria comprometer, e muito.

***

Acordei com dores de cabeça fortes. Parecia que estavam a martelar lá dentro. Levantei-me e coloquei as mãos na cabeça para tentar aliviar a dor. Mas foi em vão, porque eu continuei a sentir aquele desconforto elevado, que me dava vontade de desaparecer e nunca mais voltar.

Grunhi em frustração e quando olhei em volta fiquei confuso. Vi o John deitado, provavelmente a dormir e depois vi-a sentada numa cadeira, com o mesmo caderno que a tinha visto ontem. Estava com um lápis na mão e estava claramente a traçar alguma coisa na folha. Até que ela olhou para mim e os nossos olhos encontraram-se.

- O que é que se passa? - perguntei depois de esfregar os olhos.

- Boa pergunta! Porque tu é que deverias de saber. - ela atirou e depois levantou-se, guardando o caderno na mala. - Pega isto.

Olhei para a mão dela e vi um pequeno comprimido. No entanto não peguei nele.

- Merdas. Não vou tomar isso. - afastei a mão dela.

- E tomas drogas e porcarias que te deixam a alucinar. - franzi as sobrancelhas quando ela o disse. No entanto foi como se tivesse sido atingido pela realidade. A noite anterior. - Toma isto. - ela ordenou. Peguei no comprido e engoli-o, sem água ou sem qualquer outro líquido.

Ouvi uns sons. Virei-me, e ela também. Era o John. Ele estava a acordar e quando olhou para nós os dois e para as horas, quase que os olhos lhe saltaram da cara.

- Merda. - levantou-se. - Eu tenho de ir. O café, tenho de o abrir.

- Então vamos. - a Ava olhou para ele.

- Não, eu vou. - olhei para os dois, alternando o meu olhar. - Fica com ele, tens folga hoje.

- Mas só trabalho à três dias.

- Não interessa. Fica com ele. - o John olhou para mim com um olhar reprovador. - E tu. - apontou um dedo para mim. - Ganha juízo e depois leva-a a casa.

Ele saiu. Ouvi a porta bater e depois olhei para a rapariga que estava à minha frente. E estávamos os dois sozinhos, no mesmo espaço, fechado.




Callous | h.sOn viuen les histories. Descobreix ara