31| Equipa

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C A P Í T U L O 31

EQUIPA

Tirei algumas peças de roupa do armário e depois atirei-as à Ava que as apanhou rapidamente. Logo ela se afastou, indo até à casa de banho. Aproveitei para me despir e vestir algo básico para dormir. Não estava propriamente cansado e não sabia como ia conseguir dormir. Mas precisava de descansar, e talvez não tivesse sido uma boa ideia tê-la trazido para a minha beira, uma vez que ela me desconcentrava de qualquer coisa. Porém a realidade era que eu a queria à minha beira, independentemente daquilo que pudesse ou não acontecer.

Quando ela apareceu no quarto ficou a olhar para mim. Eu estava sem camisola e os olhos dela ficaram colados à minha pele. Deixei escapar um leve sorriso, ao qual ela desviou a cara e depois deslizei a peça de algodão pelo meu tronco, ouvindo de seguida a voz dela ecoar pelo espaço.

- Onde posso dormir? – fiquei uns minutos, reais minutos a olhar para ela de modo a tentar encontrar uma resposta para lhe dar.

- Dorme aqui. – disse depois de um longo suspiro. – Comigo. – sussurrei.

Ela ficou a olhar para mim. Talvez estivesse com dúvidas sobre se eu tinha realmente dito aquilo. Até eu estava. Eu nunca o tinha dito a alguém daquela maneira onde a única coisa que iríamos fazer era dormir. E porque razão eu o estava a dizer a ela? Era uma incógnita muito grande e talvez eu nunca soubesse o seu significado. Todo eu ficava baralhado na presença dela. Seria isso normal? Não seria um aviso para eu seguir outro caminho?

- Eu... – ela mexeu os braços apontando as mãos para a porta do quarto. – Não sei se é uma boa ideia.

Eu também não sabia, mas para isso só tínhamos de experimentar. E quem era aquele? Quem era eu? Quem era aquela pessoa que dizia uma coisa e a seguir já estava com outra completamente oposta?

- Fica. Só vamos dormir. – a cara dela ganhou um tom rosado que me fez rir, mas que eu controlei.

O corpo dela acabou por ceder quando ela caminhou para a cama e se deitou do lado direito.

Podia aproveitar-me do momento. Era uma boa ideia, mas seria uma péssima tentativa. Então deixei-me estar quieto no meu lado, deslizando apenas para debaixo dos cobertores. Precisava de descansar, mas sabia que se tivesse a presença dela as coisas seriam um pouco mais fáceis. Ao menos era o que eu pensava. Porque eu queria acreditar nisso. Mas na realidade nós só fazíamos mal um ao outro.

***

Na realidade eu não tinha dormido praticamente nada. Acabei por ficar parte da noite a olhar para o escuro e a tentar esconder-me em algum canto vazio para poder redimir-me aos meus atos. Enquanto ouvia a respiração suave dela pude aperceber-me que estava no pior caminho possível, que por acaso não tinha saída e não permitia um retorno. Então eu tinha de continuar, até abrirem alguma saída, que possivelmente me levaria a um abismo de tortura. E se fosse só para mim...

O colchão cedeu quando o peso da rapariga ao meu lado passou para outra parte do seu corpo. Eram dez e meia da manhã e provavelmente ela estaria prestes a acordar. Tecnicamente ela deveria de estar no trabalho. Mas já passava algum tempo e eu tinha outros planos.

- Hmm. – o corpo dela aproximou-se mais do meu depois de deixar escapar um suave gemido.

Os seus lábios estavam comprimidos numa linha reta e os seus olhos estavam fechados suavemente. Parecia que estava a sonhar, porém, quando abriu os olhos lentamente, fechando-os repetidamente fez-me perceber que estava a acordar.

Eu estava sentado e os meus olhos não saiam dos movimentos dela, até que quando a rapariga se apercebeu da nossa proximidade excessiva se afastou num impulso para o lado. Continuei a olhar para ela. Não era um bom momento para falar. Aliás, nunca era, especialmente se fosse de manhã. Mas à beira dela falar era perder tempo. O essencial era passar para os gestos, especialmente os tocáveis.

Callous | h.sWhere stories live. Discover now