55| Rejeição

1.6K 180 21
                                    


C A P Í T U L O 55

R E J E I Ç Ã O

Quando crescemos num determinado meio por um longo período de tempo, mudar é um processo muito complicado. Talvez seja praticamente impossível. Em alguns casos é impossível, porque dependendo da história de vida de cada um, as reações mudam. Ajuda é imprescindível se alguém quer mudar, mas, em todo o meu historial de vida, poucas pessoas vi com os meus próprios olhos a mudarem por vontade própria. Porém... porém eu estava a mudar. E não conseguia encontrar uma resposta aparente.

Estava a mudar num sentido. Estava a permanecer junto de alguém por demasiado tempo, a dar importância. Tal como aconteceu com os Carter.

No momento em que o Niall me soltou, tudo o que eu devia ter feito era ter morto o Matt e ter desaparecido de seguida. Ter dado ouvidos ao Niall só me deixou num estado pior. A Ava não queria saber de mim. O Carl parecia neutro em relação ao meu estado. O Niall estava a ser demasiado controlador. E o Matt ainda estava vivo e com sede de vingança.

Se ao menos a Ava não tivesse reagido daquela maneira, talvez eu ainda tivesse conseguido dar a volta por cima. Conseguia mantê-la como eu queria e assim podia trabalhar, ainda que com a mente cheia de monstros.

Eu era possessivo. Eu queria tudo à minha maneira. Tudo tinha até então corrido à minha maneira. Tinha controlado a Ava como queria. Mas quando me vi naquela situação deixei de saber o que fazer. Ela ia passar a controlar-me, porque eu tinha perdido os argumentos.

- Se der uma entrada de duzentos dólares agora, fazemos-lhe um desconto de vinte e cinco por cento no preço final. – a mulher no balcão falou e eu encolhi os ombros.

Tínhamos aterrado à cerca de três horas. Eram cinco da tarde e já tínhamos conseguido arranjar uma casa para ficarmos os cinco. Os Carter queriam ajudar a pagar, mas eu recusei. Com o dinheiro que tinha, conseguia pagar qualquer coisa e ao menos dava utilidade ao dinheiro sujo que tinha ganho nos negócios com o Matt, e que por vezes ainda continuava a receber por fazer pequenos trabalhos.

Porém, se havia uma casa para nós os cinco, o Carl era uma situação muito complicada. Que ninguém se convença de que a duração dele iria ser muito prolongada. Com tanta droga injetada ao longo daqueles anos, sem qualquer vigilância médica dos sintomas, o organismo dele estava destruído e de forma subentendida eu era o principal culpado.

Talvez numa maneira de tentar ter de novo a atenção da Ava, uma das primeiras coisas que fiz quando cheguei a Portland, foi procurar uma clínica de reabilitação. Apesar disso e embora o meu orgulho fosse maior, o Carl era a única pessoa boa naquele meio e ele não mereceu nada do que lhe aconteceu. Nem antes, nem depois.

- Tem meia hora para se despedir do paciente. – voltei para junto do grupo

O Carl e o Niall estavam a falar, enquanto que o primeiro ocupava uma cadeira de rodas com um aspeto demasiado devastador. Olhei para a Ava. Estava de olhos postos no chão. Queria tocar-lhe. Queria leva-la para longe. Queria poder hipnotiza-la e fazê-la acreditar que eu não era aquele que ela tinha visto e conhecido verdadeiramente. Mas porquê? Porque razão lhe dava eu tanta importância? Eu, que nem com a minha pessoa criava tantos pensamentos.

- Dentro de meia hora vão levar o Carl para dentro. – avisei, tendo por segundos o olhar de todo preso em mim.

- Posso falar c...contigo? – o homem olhou para mim. Assenti e logo todos dispersaram daquele pequeno meio.

Fiquei a olhar para ele com os braços cruzados. Fazia-me imensa impressão o facto dele não mostrar qualquer sentimento de raiva depois de tudo o que tinha feito.

Callous | h.sOnde as histórias ganham vida. Descobre agora