74| Vingança

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C A P Í T U L O 74

V I N G A N Ç A

Imagens do que tivera acontecido com o Niall surgiram na minha mente. O som do disparo. O corpo dele a cair para trás. O sangue no chão. Pisquei os olhos repetidas vezes. Por momentos eu só o via a ele caído no chão, mas os gritos de alguém trouxeram-me para a realidade. Os gritos da Ava. Ela esta a gritar porque eu a tivera... atingido.

Corri para a beira dela. Ao lado do Matt o seu corpo estava estendido enquanto que ela segurava o braço direito com a mão esquerda. Os gritos que ela deixava escapar eram demasiado audíveis. Quanto mais olhava para o braço dela, mais sangue parecia sair.

– Socorro Harry! – ela gritou ao ver a minha falta de reação. – Faz alguma coisa!

Quando naquele dia o Matt me mandou atirar na direção do Ryan, eu tivera feito tudo menos o que ele tivera pedido. O Niall acabou por ser dado como morto e eu tornei-me automaticamente num criminoso, mas não por muito tempo, pois na realidade ninguém tivera morrido, apesar de terem feito com que eu acreditasse em tal coisa. Ter atirado na direção do Matt e da Ava foi um ato de defesa. Se eu morresse a Ava não teria qualquer tipo de salvação. Eu só a queria proteger. Mas seria mesmo isso? Não quereria eu fazer vingança de tudo o que o Matt tivera feito comigo?

O meu instinto foi tirar a camisola. Depois de me ter baixado amarrei-a em volta do braço da Ava. Uma bala estava depositada lá dentro e se ela continuasse a perder sangue ela iria morrer numa questão de minutos. Mas se a outra bala não estava nela só podia estar noutra pessoa. Olhei então para o homem que estava no chão. O sangue que preenchia a camisola deu-me a entender uma coisa. O Matt estava morto, e tinha sido eu a mata-lo.

Depois de treze anos a viver com aquele monstro ele estava finalmente morto. Todo o ódio e desprezo que eu tivera ganho foi consumido aos poucos pela aquela bala. Ao fim de tanto tempo e de tantos planos a única maneira de o conseguir matar foi magoar a Ava.

– Eu matei-o. – disse baixinho, de maneira a que só eu ouvisse.

– E eu? – a voz da rapariga gritava desespero. O meu egoísmo era tão grande que eu nem me estava a lembrar do estado da Ava. – Chama uma ambulância antes que eu morra!

Foram as últimas palavras dela que me despertaram para a realidade. As minhas intenções eram matar o Matt e não a Ava. Se eu a mata-se, talvez eu fizesse o mesmo comigo a seguir. A Ava tinha toda a minha outra parte. Tudo o que eu não tinha ela tinha. Talvez fosse por isso que eu andava sempre junto dela com uma aproximação excessiva na maior parte das vezes.

Aproximei-me do corpo morto que estava junto de nós. Apalpei-o à procura de algo que me permitisse fazer uma chamada. Voltei a olhar para Ava. Foi então que comecei a despertar para a verdadeira situação. Se eu chamasse uma ambulância, iriam descobrir que o Matt tivera morrido por minha culpa e então eu iria preso.

– Temos de fugir daqui! – falei apressadamente, retirando logo de seguida as mãos daquele ser morto. – Se descobrem que eu matei o Matt eu vou preso.

Baixei-me ao encontro da rapariga, preparando-me para pegar nela ao colo. Foi inútil pois mal lhe toquei ela começou aos gritos.

– Se tu não chamares uma ambulância eu vou morrer. – a sua voz saia cada vez mais baixa e fraca. – Vais matar-me a mim também...

Não sei até que ponto as minhas decisões foram corretas. Tecnicamente nenhuma delas foi, mas para mim era o contrário. Claramente que matar aquele monstro resolveria muitos problemas, mas trouxe-me muitos mais. Enquanto ele esteve vivo eu ainda tinha algo. Depois dele morrer até a escassa dignidade que habitava em mim foi-se embora. Só não me matei fisicamente, pois interiormente já nada de mim restava.

Callous | h.sWhere stories live. Discover now