48| Fuga

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C A P Í T U L O 48

F U G A

Mal parei o carro em frente à casa da Ava saí e corri rapidamente para a porta de entrada. O meu dedo colidiu com a campainha, pressionando a mesma por uns breves segundos, repetindo a ação até alguém me ter aberto a porta. A mínima esperança que tinha ao pensar que era ela a fazê-lo, desapareceu assim que vi o Evan. 

– A tua irmã? – perguntei quando o seu olhar se dirigiu para mim.

– A minha irmã está contigo. – ele respondeu devagar. – Ao menos ontem ela enviou uma mensagem a dizer que estava contigo e que não vinha a casa.

Expulsei uma quantidade de ar que estava a guardar dentro de mim. Se a Ava não estava ali, as minhas suspeitas estavam então corretas. Se a Ava não estava ali estava tudo completamente destruido. Eu nunca a devia ter deixado sair de casa sozinha. Eu devia ter ido logo atrás dela. Eu nem devia ter respondido aquela estúpida pergunta dela, que criou uma discussão ainda mais estúpida. Eu devia sim ter mudado o assunto como era habitual fazer.

Ela gostava de mim e eu estava-me nas tintas para isso. Eu queria lá saber dos sentimentos dela para alguma coisa. Eu nem conseguia encontrar os meus, quanto mais lidar com os de outra pessoa, que por acaso dominava a minha mente noite e dia, me fazia ter reações estranhas e não me deixava encontrar explicações e soluções para tal.

– Ouve puto. Preciso que me dês uma lista com todas as amigas da Ava e amigos, se ela os tiver. Toda a gente. – o sangue estava a correr nas minhas veias de uma maneira que era praticamente audível. O meu coração batia descompassadamente e se eu ainda não tinha perdido a cabeça era por algo ainda me estava a segurar, mas que brevemente se iria desprender.

– Amigos? – o ar dele foi irónico. – A Ava não tem amigos. A Ava não fala com ninguém desde que o nosso pai desapareceu. Tu deves ser a única pessoa a quem ela dirigiu a palavra nos últimos anos.

Senti-me a ser engolido por uma bolha. Uma bolha que misturava a culpa com a vontade de desaparecer. A culpa de todos os acontecimentos residia em mim. Qualquer um deles. Eu passava por todos, e só havia uma pessoa a quem eu devia ódio por isso. O Matt.

Porém, o facto daquele nosso passado deixava muitas questões no ar. Seria aquele presente um pagamento em relação às minhas ações do passado? O Matt sempre me dizia que cada um tinha aquilo que merecia. E eu sempre concordei com isso, especialmente quando a pessoa em questão era algo de quem eu não gostava. Mas ali, naquele momento, eu só queria gritar bem alto. Porque eu não gostava nada de ser confrontado com algo que me deixava tão no fundo. Algo que me destruía. E eu já nem sabia se era por mim ou pela Ava. Mas era como se eu estivesse a ganhar consciência para perceber que ignorar o óbvio não é e nunca vai ser uma solução. Ele está lá, e ele estava lá.

Foda-se. – dei um murro na parede em sinal de frustração. Não era possível o que estava a acontecer.

– O que é que se passa Harry? – o Evan perguntou já sem nenhum traço de ironia. – O que é que se passa com a minha irmã?

Não lhe respondi. Não conseguia fazê-lo. Era praticamente impossível. No fundo eu estava a ser um cobarde, mas eu não conseguia fazer outra escolha.

Virei costas e caminhei em direção ao carro.

– O que é que se passa com a Ava? – ele repetiu, mas num tom mais elevado.

– Fica atento ao telemóvel. Só isso. – depois daquelas palavras arranquei em direção ao café do John.

Não queria tirar conclusões precipitadas, apesar de ser óbvio de mais. Porém precisava de ir a mais dois sítios, e a seguir eu poderia sim desejar todo o mal a mim mesmo.

Callous | h.sWhere stories live. Discover now