77| Decisão

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C A P Í T U L O 77

D E C I S Ã O

– Vocês não podem sair assim da sala! – a voz que surgiu atrás de mim não fez com que eu me distraí-se. Continuei a olhar para a Ava. Olhos fixos nos dela a tentar perceber o que ela queria dizer com "aquilo que tu sempre soubeste e que eu só agora descobri".

O quão burro eu poderia ser. Afinal de contas ela só me estava a fazer o favor que eu sempre quis e naquele momento eu não consegui perceber o que era. Não consegui porque eu estava tão dentro dela que nem me dava ao trabalho de perceber fosse o que fosse. Eu não era a única pessoa inteligente ali. Aliás, de inteligente eu não tinha muito. Inteligente era ela que se calava e depois aparecia com atos que me deixavam sem saber o que fazer.

A sua mão limpou violentamente as lágrimas que tiveram escorrido pela face. Ela parecia irrequieta, e se não fosse pela situação talvez ela já tivesse fugido dali para fora. Evitar qualquer situação parecia ser sempre a melhor coisa a fazer, especialmente quando no começávamos a ver entre a espada e a parede.

– O juiz deu-vos cinco minutos para voltarem ou então terão de esperar mais tempo até marcarem outra audiência.

Virei-me para trás. As palavras do homem ecoaram na minha cabeça. Quanto mais tarde fosse apresentada a minha sentença, mais tarde eu poderia livrar-me de tudo aquilo. Se a Ava não me ajudasse, o mais provável seria ficar o resto da minha vida atrás das grades. Parecia que era isso que ela queria que acontecesse. Seria aquele silêncio todo uma forma de vingança, para que eu pudesse pagar o que tivera feito à família dela?

– Ava por favor. – apertei os punhos numa forma de me controlar. – Tens de dizer a verdade.

Há medida que o ar ia passado à nossa volta, o tempo que ainda tínhamos para remediar a minha situação estava a chegar ao fim. Os seus olhos azuis não largavam os meus verdes. Era como se o mar estivesse a resistir a sua chegada e a floresta de tão desesperada que estava, nem de água salgada se importava, pois só queria sobreviver. Porém, quando eu pensava que ela ia fazer o caminho para o lado contrário, o seu corpo impulsionou-se para subir as escadas. Corri atrás dela, vendo-a entrar abruptamente dentro da sala de audiências. As pessoas ficaram todas a olhar para ela. Quando entrei no espaço já a voz dela estava a preencher o local.

– Eu confirmo. – ela disse com a respiração ofegante. – O Harry agiu em legítima defesa, com intenções em me proteger também. Ele só disparou contra o Matt porque ou eu ou o Harry podíamos morrer.

A verdade não era totalmente aquela. Na sua maioria eu disparei contra o Matt porque era vingança que eu queria. E a Ava sabia-o perfeitamente. Claro que eu também não queria que ela morresse ou ficasse entregue àquele monstro. Mas principalmente era a vingança que reinava ali.

– Se este senhor – ela apontou para o homem que nos tivera colocado naquela situação. – viu tudo, então pode perfeitamente dizer que eu me encontrava em perigo e que o Harry apenas agiu para me proteger. Essa é a verdadeira realidade.

Caminhei lentamente para o meu lugar. Vi a Ava sentar-se depois do seu pequeno discurso. Ela olhou para mim, o olhar carregado de angústia. Se eu fosse suficientemente perspicaz eu teria entendido naquele momento o porquê da reação dela em contar a verdade. O problema é que eu estava tão desesperado, que a única coisa que eu poderia querer era ver-me livre daquela situação. O pior foram os dias que se passaram a seguir àquele.

– O senhor Basil Wood confirma ter visto o que a testemunha Ava Carter acabou de confirmar?

– Sim.

Callous | h.sWhere stories live. Discover now