Capitulo 38 - Maria Clara

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Os dias se passavam lentamente. E eu podia jurar que ainda estava naquele dia. O dia, a noite passavam por mim como grandes amigas. Eu conseguia ver o nascer do Sol, e nascer da Lua. As janelas nunca ficavam fechadas, na verdade, não me lembro da última vez que levantei dessa cama, a não ser para ir ao banheiro.
- Vamos, minha querida, coma só um pouquinho -  dona Rosa pede. As semanas, meses, anos, nem sem mais, estão assim, tentando-me fazer comer, nem que seja o mínimo possível – Vamos, meu amor, ele não gostaria de lhe ver assim -  ela diz, passando suas mãos por meus cabelos.
- Ele não está aqui -  digo, apertando meus joelhos contra o meu peito.
- Então, podemos ir tomar um banho, e depois iremos passear um pouco, que tal? -  ela diz, com um sorriso preocupado. Dona Rosa me acolheu em sua casa, quando percebeu que eu não sobreviveria dois dias sozinha.
- Não... ele pode voltar -  digo, pegando a carta e, lendo novamente.
- Tudo bem -  ela diz, acariciando meus cabelos. Ela finalmente desiste, e sai do quarto, mas deixa a comida na mesinha ao lado.
Nada era como antes, os dias nublados, as noites eram geladas em sem o calor de seu corpo. Era tudo muito difícil sem ele. Sua carta já estava gravada em minha mente, cada palavra, cada virgula, cada acento, tudo gravado por mim. O estrogonofe não tinha o mesmo gosto, pelo menos da última vez que comi, mas vomitei tudo para fora algumas horas depois. Todos os dias eu penso se ele conseguiu alguém, que o faça feliz. Alguém que faço-o se sentir inteiro, do jeito que eu não consegui. Mas ele disse que voltaria, ele voltaria e, eu o esperaria. Meu corpo cria forças para sair da cama, e ir até a janela.
Eu sempre ficava na janela, ela era meus olhos e meus ouvidos para o mundo a fora. Todos os carros que passavam pelo fundo, eu imaginava ser Mikael. E quando um carro preto estacionou, meu coração disparou. Mas, quando Lina sai do carro, tudo se quebra novamente. Depois de alguns instantes, a porta do quarto se abre e, já sabia quem era.
- Você não comeu nada, esta manhã -  ela diz, batendo a porta atrás de si – Então, resolvei lhe trazer brigadeiro e pipoca, Marcos fez a pipoca, então não sei se ficou boa -  ela diz, e sinto que ela deu um sorriso. O que mais queria era retribui-la, mas, não tinha porque, não era isso que me fazia feliz – Podemos ver filmes e séries, o escritório está uma loucura -  ela diz, deixando as coisas em cima da mesinha.
- Não posso, ele pode voltar, preciso estar aqui quando isso acontecer, ele precisa que eu fique aqui -  digo com a voz baixa.
- Maria... você está magra, não come direito -  Lina diz isso, e vem até mim com um cobertor. Eu odiava o frio de Nova York, ele era mais lindo quando Mikael me aquecia. Mas falando assim, parece que já faz anos que não o vejo, não sinto se cheiro, seu toque. Eu nem sei quantos dias se passaram – Seja forte.
- Eu não sou nada sem ele, do mesmo jeito que não tem água sem fogo, livro sem escritor -  digo, com lágrimas caindo em minhas bochechas.
- Vamos sair então! Podemos ir na sua casa, ela já está pronta ou... no parque -  Lina diz, sentando ao meu lado. Mikael disse que voltaria, mas não disse para onde. Ele pode estar em nossa casa.
- Eu irei! Mais quero ir agora! -  digo, olhando para ela. 

- Para casa? -  concordo – Então iremos -  ela diz, sorrindo.

A última vez que pisei naquela casa. Nossa casa. Eu pedira para os pintores pintarem tudo de cinza e branco, nada de amarelo, nada de vida, porque era assim que eu me sentia, vazia. Alguns perfumes haviam ficado em nosso banheiro, e no mesmo dia em que fui lá, joguei-os em cima da cama, pelos lençóis, travesseiro, para que seu cheiro nunca saísse. A partir deste dia, dona Rosa e Lina perceberam que eu não conseguiria ficar sozinha, ou até mesmo comer sozinha. Havia uma foto nossa, ao lado em que ele dormia na cama, não sabia se ainda estariam lá, e não sei se queria descobrir. Mas, minha memória era muito clara, a foto era nós dois na piscina da antiga casa, estávamos sorrindo, rindo, e... felizes. Seus olhos sempre foram minha parte favorita, já que me sempre me lembravam jabuticabas. 

Porque ir... Se Pode FicarWhere stories live. Discover now