Capitulo 44 - Maria Clara

231 22 2
                                    

- Está pronta? Marcos está lá fora esperando a gente para ir - Lina pergunta, enquanto arrumo meus cabelos.

- Estou sim - fiquei mais dias no hospital, melhorei um pouco e estou comendo mais que antes. Ainda tenho dificuldades para dormir e alguns alimentos e cheiros não descem, mas, estou tentando. Hoje está sendo um dia difícil para todos nós. O enterro de dona Bela. Saio do banheiro, ainda com uma aparência ruim, mas, acho que isso agora não importa.

- Vamos? - ela pergunta, com um sorriso no rosto e eu concordo. Lina foi minha salvação nesses anos, literalmente cuidou de mim, conversou quando eu estava prestes a sufocar, e não me deixou afundar em nenhum momento. No momento em que as maquinas foram desligadas, eu pensei se Mikael estaria triste, ou pelo menos viria ao enterro da avó que ele tanto amava.

- Lina... - chamo ela antes de sairmos do quarto.

- Você tem notícias de Mikael? Ou, se ele voltou para casa? - pergunto com a voz embargada. Lina fica pálida, e abre a boca para falar algo, mas acaba desistindo.

- Ele, ele não... não sei onde ele está ou se já chegou. Mas não se preocupe com isso - ela diz, pegando em minha mão.

Quando chegamos ao enterro, o silencio era horrível e tenso, Dona Rosa estava lá, olhando para sua mãe, que agora não estava mais entre nós. Meus olhos não conseguiam ficar parados, eles olhavam por todos os lugares para ver se o via mas nada.

Meus pés não conseguiam ficar parados, então decidi sair do local, eu não estava me sentindo bem, algo em mim dizia que ele estava aqui, mas, se ele me viu... porque não foi falar comigo? Ele disse que viria, eu esperei muito, muito tempo. Pego o primeiro táxi que vem, e dou o endereço de nossa casa.

Quando entrei em casa, procurei em todos os cômodos, mas nada, nada de que ele havia passado por aqui. A chuva começava a cair lá fora, como se fossem pequenas estrelas. Subo até nosso quarto, e vou até a grande janela que ficava de frente para cidade de Nova York. As memorias vinham com tudo em minha mente, como se não tivessem passado, dois anos, e sim alguns meses. A foto nunca saiu da cômoda, e o cheiro dos perfumes foi ficando cada vez mais fraco. Mas, o sorriso dele naquela foto, aquele sorriso conversava comigo todos os dias.

A Lua estava quase aparecendo, já que já eram seis e meia da tarde.

- Estamos vendo a mesma lua, lindo - digo, sorrindo. As lágrimas nunca pararam de rolar, nunca pararam de descer sobre meu rosto e gritar por socorro. Mas, eu nunca esquecia a noite que dormimos juntos, ou quando voltamos para casa correndo porque o carro tinha ficado sem gasolina e, então a chuva pegou a gente de surpresa, e como já estávamos molhados, resolvemos dançar na chuva. A aliança em meu dedo nunca saiu, mas me pergunto se ele estaria com a dele.

Meus fones foram aos meus ouvidos e, então corri para o meio da tempestade.

- I will fightI. will fight for you. I always do, until my heart. Is black and blue

A música apenas fluía em minha pele, minha alma, tudo. Eu podia sentir a vida dentro de mim, mas, eu precisava demais, mais dessa chuva, mais dessa música, mais de tudo.

- 'Cause I'm not givin' up. I'm not givin' up, givin' up. No not yet. Even when I'm down to my last breath. Even when they say there's nothin' left. So don't give up on.

Minha roupa já estava toda molhada, meus cabelos estavam enxercados, e eu já podia ver a gripe que pegaria. Mas do que isso importava. Acho que deixei de ser eu mesma a muito tempo. Cada gota de água, era um beijo dele sobre meu corpo. Tantas perguntas se passavam pela minha cabeça naquele momento, e a vontade de gritar era enorme. 

- Ahhhhhh!!! - grito em meio ao temporal.

O sorriso que saiu de meus lábios tinha tanto sentimento, que eu não podia guardar apenas para mim. Fazia tanto tempo que eu não me sentia viva, que por alguns instantes, pensei em não estar mesmo. As batidas em meu coração estavam tão fortes, que eu poderia jurar estar com ele em minha boca. Meus joelhos já estavam fracos, e acabo me jogando ao chão, as pessoas ao meu redor passavam correndo e algumas pegavam taxis desesperadas. Mas, meus pensamentos só pensavam em uma pessoa. A pessoa que fazia meu coração permanecer vivo, apesar de não estar aqui.

- Eu te amo - digo, começando a chorar – Eu te amo, e esperarei você até meu último suspiro... 

Porque ir... Se Pode FicarWhere stories live. Discover now