Capitulo 45 - Mikael

230 22 0
                                    

Quando recebi a notícia de que minha avó havia falecido, algo em mim foi embora, uma parte da família que eu passei minha vida, havia perdido o sentido. Mas, apesar disso, eu sabia que ela não sentiria mais dor, nada, ela estaria feliz para sempre. Eu queria muito ir, mas não podia. Ela poderia estar lá com alguém, e isso me fazia querer vomitar, mas, também diziam que não estavam. Eu sabia que a amava ainda, mas, eu não podia.

A chuva caia com tudo lá fora, a grande janela do meu quarto era minha coisa preferida, porque eu sabia que Maria tinha essa mesma visão em nossa... na casa dela. A Lua olhava por nós dois, e sempre a guardou para mim, e espero com todas as minhas forças, que ela não tenha perdido o brilho de seus olhos, ou a sua felicidade. Decido descer até a sala e, encontro Leila no sofá vendo TV. A maioria dos canais falava de meu noivado, e que Maria fora mais uma, mas eles estavam errados. Hoje de manhã fui procurar Marcos, e ele me falou sobre minha avó. Disse que estava feliz com a minha irmã, e quando perguntei sobre Maria, seus olhos apenas ficaram tristes e disse "Está bem", e nada mais.

Pego meu celular para ligar para Lina, mas acabo desistindo e, sem querer entro na galeria. Nossa foto. Maria e eu, felizes. Me pergunto todos os dias o que teria acontecido se eu não tivesse ido embora. A casa era toda de vidro, e eu poderia ver a cidade inteira.

- Sim, linda. Estamos vendo a mesma Lua - digo, olhando para nossa foto que nunca tive coragem de jogar fora. Ás vezes sinto que ela fala comigo, as vezes sinto que ela me beija, ela vive em mim, em casa centímetro e poros do meu corpo, ela está viva em mim. A chuva me lembra quando tomamos um banho de chuva. O carro havia quebrado e saímos correndo. Pego meus fones e vou andando até a porta para ir aproveitar a chuva.

- Onde vai? - ouço Leila perguntar.

- Aproveitar a chuva, quer ir? - Leila nunca gostou das coisas mais simples que a vida nos dá. Ela é diferente de Maria em tantos níveis, que eu poderia facilmente ficar falando.

- Eu não, pode ir - e se voltou para a televisão.

Quando a chuva toca meu rosto, lembro de suas lágrimas e em como ela ficava ao pensar em ser deixada por mim. Eu pedi tanto a ela para não me abandonar, que por fim acabei deixando-a. O vento que batia em meu rosto, era uma chicotada em minhas costas. Eu fui covarde, covarde, e ninguém poderia dizer o contrário. As lágrimas que caíram por ela, eram tantas que se misturaram com a chuva. E, por frações de segundos, senti um beijar do vento, e sua voz veio junto...

- Eu te amo - o vento diz, com delicadeza - Eu te amo, e esperarei você até meu último suspiro...

E assim, a chuva voltou a me bater, com toda a força, como se tivesse me castigando, me condenando.

- Me perdoa - digo, caindo de joelhos na calçada. A música em meus ouvidos, eram como anjos sussurrando. A música favorita dela, depois de outras três, que ela dizia ser parte da infância. Delicada. Esse era seu sobrenome, era tão pura e delicada, que eu sentira medo de machuca-la. E por anos, foi isso que eu fiz, a machuquei. Sua presença estava viva nessa cidade. Ela fazia parte dessa cidade, e eu conseguia senti-la. Mas, algo sempre me fazia crer que ela estava bem. E eu podia estar totalmente enganado.

Porque ir... Se Pode FicarWhere stories live. Discover now