Capitulo 39 - Mikael

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Vazio. Meu peito gritava por vazio, e nada mais. Eu não sei se tivera feita a decisão certa, mas sabia que ela estava segura. Com a família, que me adotara, e me engara. Semanas haviam se passado desde que cheguei na Inglaterra, e está sendo difícil sem ela, sem sua alegria, sem a cor de seus olhos, sem o cheiro de seus shampoos. Os primeiros dias foram fáceis, já que a raiva ainda pairava minha mente, mas depois, senti o peso do que havia feito. Seus gritos de suplica me atormentavam a noite e, eu não sabia se voltava, ou apenas ignorava. Apesar de tudo, estou bem de vida aqui. Consegui montar uma pequena empresa, tenho uma casa, e estou, pouco a pouco esquecendo o que aconteceu, ou pelo menos tentando.

Minhas crises estão mais constantes, mais vivas. Os remédios não pareciam fazer efeito sem ela aqui, sem suas pequenas mãos acariciando meus cabelos. Todos os dias, todos os malditos dias eu me pergunto se ela já conseguiu se reerguer, se conseguiu seguir em frente, igual eu estou tentando. Me imagino vendo ela nas ruas, e seu marido com as mãos em volta de sua cintura. Mas logo depois, imagino ela me esperando, segurando-se em um fio muito fino de esperança de que irei voltar. A única pessoa que ainda converso é Marcos e Lina, apesar de tudo, eles não esconderam nada de mim. Mas, para poder ser outra pessoa, precisarei parar com essas conversas.

Meus pensamentos eram como um livro aberto em cima da mesa de meu pequeno escritório, sendo lido vagamente, até que minha secretaria entra na sala, pedindo licença, para falar as reuniões que eu teria hora. Para fazer minha empresa crescer, eu crescer como pessoa. Cida. Ela era uma senhora de mais ou menos sessenta anos, e fazia este trabalho muito bem.

- Está me ouvindo, senhor Mikael? - ela diz, me fazendo despertar de meus pensamentos.

- Ouvi sim, Cida. Obrigada - digo, me remexendo na cadeira e, bebendo um pouco de água.

- Sei que não está. E se precisar conversar, estou a ouvidos - ela diz, fechando a porta atrás de si, e vindo se sentar em minha frente. Cida era como uma avó, tia, mãe, que eu nunca tivera. Pelos menos, não de verdade.

- Ela, eu não consigo parar de pensar nela, como está, se está bem - eu havia contado de Maria para Cida, e toda a história por trás da minha vinda para cá.

- Hm, a famosa Maria, tens foto da moça? - ela pergunta, com entusiasmo. Cida apesar da idade, parecia jovem no seu jeito de falar, seus cabelos ruivos e os olhos pretos eram sua marca, assim como a marca de Maria era a felicidade, a vida que ela carregava.

- Tenho sim - digo, tirando uma foto da gaveta. A foto que tiramos na piscina da antiga casa, a casa que pegou fogo e, que a mesma quase se matou para me salvar. Estávamos na beira da piscina, sorrindo, suas bochechas estavam coradas pelo Sol, a felicidade era algo que ninguém podia tirar dela. Mas, o medo constante de eu, ter conseguido arranca-lo, era forte.

- Linda. Simplesmente magnifica. Vocês pareciam tão felizes - ela diz, e me olhar em reprovação.

- Acha que cometi um erro? - pergunto, com um aperto do coração.

- Este não é o assunto, mas sim. Vocês fizeram a escolha certa? - ela pergunta, passando seus dedos enrugados na foto, ela admirará aquela foto, igual a mim. 'Vocês fizeram a escolha certa'? Não. Não havíamos feito escolha nenhuma, porque eu havia escolhido o que era bom para ela, e não pensei em mais ninguém a não ser a mim mesma.

- Ela é linda - digo, enquanto penso em sua pergunta.

- Ás vezes, a vida faz a gente fazer coisas que não queremos fazer. E não precisamos ficar tristes, não quando o destino é a favor da felicidade - ela diz, e se levanta, indo embora.

As reuniões eram chatas e entediantes, e ficava imaginando como seria chegar em casa, e tê-la somente para mim. Brincaríamos de pega-pega pela casa, até cairmos no chão e, fazermos amor ali mesmo. As pequenas e inúteis brigas, para ver quem pagaria as contas, a comida, tudo. Éramos tudo e ao mesmo tempo nada. Éramos tão fortes juntos...

- Ah, me desculpe, senhor Mikael - ouço uma voz feminina dizer, ao trombar comigo.

- Tudo bem - digo, passando as mãos por minha gravata mal-ajeitada. Ela ajeitaria para mim e, riria da minha cara por ser tão chato – Desculpa, lhe conheço? - pergunto. Sei que era o único que havia contratado os funcionários, mas seu rosto não me era desconhecido.

- Leila, prazer - ela sorri, e estende sua mão.

- Mikael, prazer - digo, apertando suas mãos.

- Trabalho na parte de contas, é meio difícil me ver por aqui - ela diz, com um pouco de vergonha. Leila aparentava ter uns trinta e um anos, era alta, e sua pele era pálida sobre seus cabelos escuros e seus olhos castanhos claros.

- Eu sou seu chefe, e não me lembro de tê-la contratado - digo, com um pouco de diversão.

- É porque o senhor não me entrevistou, e sim, sua secretaria - ela diz, pressionando a pilha de papeis contra o corpo. Verdade, Cida havia contratado algumas pessoas.

Porque ir... Se Pode FicarWhere stories live. Discover now