Capitulo 54- Maria Clara

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Fizemos todos exames possíveis. E quando viram que não tinha nada de errado, pude doar sangue a Mikael. Ele foi para cirurgia, e acho que está dando tudo certo. Dona Rosa ficou na recepção e disse que Lina daqui a pouco estava aqui para ficar comigo. Ela é a advogada no caso de Henrique, está defendendo Marcos, Mikael e eu. E pelo visto, ele receberá prisão perpétua por sequestro, arma ilícita, entre outras coisas que só de pensar doem minha cabeça.

Ao meu lado tinha algumas coisas de higiene pessoal, e ao lado do estojo de maquiagens havia um espelho. Pego o mesmo, com um pouco de dificuldade, e quando me olho no mesmo, não consigo me enxergar. Eu estava... acabada, estava marcada por aquelas mãos nojentas. O inchaço de meu rosto havia sumido, só restava o roxo. O que eu fui fazer?

- Com licença - ouço uma voz, abrindo a porta. Lina.

- Oi, Lina - digo desanimada.

Lina entra em meu quarto fechando a porta. Quando vê o espelho em minha mão, ela relaxa os ombros e vem até mim.

- Não ache que está feia - Lina diz, pegando o espelho de minha mão e pondo na mesinha ao lado.

- Eu fiz isso com vocês, com todos vocês - digo, apertando as mãos na coberta sobre minhas pernas.

- Maria, não pense assim. Você não fez nada com ninguém, você ajudou a gente a ver o que... aquele, crápula era. Então pare de achar que ninguém aqui se importa com você, porque todos se importam. Você é a nossa família e, a gente é a sua família.

- Obrigada - digo, deixando lágrimas caírem – Mais Mikael está nesta situação, porque fez uma escolha baseada em mim. Eu estou assim - aponto para minhas pernas – Porque eu não sabia me defender.

- Mikael mereceu, Maria - Lina diz, olhando para mim – Ele deixou você, ele fugiu igual um covarde. Ele pagou o preço por cair nas lábias de Henrique. Mas vocês não, tem culpa, apenas ele. Então, você vai ficar boa, Mikael vai sair da cirurgia, se recuperar, e vocês terão todo o tempo do mundo.

Alguns dias se passaram, e minha perna finalmente foi desenfaixada. Ela estava magra pela tala, mais eu sabia que com a fisioterapia. Tudo ficaria bem. Mikael saiu da cirurgia naquele dia ainda desacordado, mas segundo o médico a cirurgia foi um sucesso. Ele ainda estava dormindo, pelos remédios que estava tomando davam muito sono, então até passar efeito... mas se hoje ocorrer tudo bem, ele acordará. Com a autorização da fisioterapeuta para andar até o quarto de Mikael, eu fui até lá, com calma.

Quando entro no quarto, Lina me ajuda a sentar na cadeira ao lado de Mikael, que estava deitado e desacordado. Ela disse que sairia para atender uma ligação e, que dona Rosa viria quando eu quisesse.

- Oi - digo, com a voz embargada – Lindo - digo conseguindo pronunciar as palavras – Estamos novamente em um hospital. E, acho melhor pararmos com isso - digo com um tom engraçado – Eu... depois que você foi embora, eu pensei que morreria, pensei que morreria com o coração partido. Porque o jeito que saiu com aquele carro, desesperado para ir embora, me partiu em milhões de pedaços minúsculos. E, demorou dois anos para eu poder viver sem querer morrer, ficava na janela esperando você. Mas você nunca mais voltou. Mas, quando cheguei naquela casa, linda, com uma... mulher e um anel de noivado em seu dedo, senti inveja dela, porque eu sei que não teria algo assim. E então você apareceu, e eu fiquei com raiva, raiva de tudo e todos, porque mentiu, ou pelo menos acho que mentiu - minhas mãos tremulas foram até as de Milael, que estavam pálidas e magras – Não sei como vai ser quando acordar, mas, quero ficar com você, e dessa vez sem tiros, separações e segredos.

Fiquei mais um tempo olhando Mikael, enquanto dormia. Eu pedi para dona Rosa me ajudar a levantar, e ela do jeito acolhedor, me trouxe uma cadeira de rodas. Quando saímos do quarto, Lina fala ao nos ver.

- Ele já está melhor? - Lina pergunta, com um olhar feliz.

- Sim, só não acordou, ainda. Marcos está bem? - pergunto.

- Tenho uma ótima notícia - ela diz, pegando um papel dentro de sua pasta – Ganhamos o processo. Henrique recebeu prisão perpétua, e Leila... bom, ela está no hospital para detentos, mas quando se recuperar será presa, cinquenta anos de cadeia - ela diz.

- Ah, que ótima notícia - dona Rosa diz, sorrindo para mim.

- Obrigada, Lina, obrigada, obrigada - digo, suspirando fundo.

- Eu que agradeço vocês - ela diz sorrindo, e devolvo o papel para a ela – Marcos está em casa, pedi para que ele descansasse.

Durante algum momento, me lembrei da arma que Marcos e Mikael tinham nas mãos. Mikael nunca me disse que tinha uma arma, e nunca me dissera que sabia manusear uma.

- Eu... porque eles, eles tinham armas? Mika, nunca me disse nada.

- Henrique, ele insistiu para que Mikael fizesse aulas de tiro quando era pequeno, e depois lutas. Quando Marcos soube, quis fazer também, então eles ganharam licença para ter armas, menos Henrique, a dele era ilícita - dona Rosa explica.

- E eles são bons - relembra Lina.

- Sim, eles são - digo sorrindo, ao lembrar de Mikael.

- Aquele desgraçado vai apodrecer na cadeia, junto com aquela pilantra - dona Rosa diz, com raiva

- Sim mamãe. Só queria que fossemos uma família novamente, mas, não sei se Mikael vai querer - Lina diz, com olhar triste.

- Ele ama vocês, no galpão... ele chamou a senhora de mãe, Lina, ele nunca a chamou de outra coisa a não ser de irmã. Ele nunca, esqueceu de vocês.

- Você é uma luz em...

Dona Rosa para de falar, quando ouvimos um grito vindo do quarto de Mikael. Abrimos a porta, e vemos Mikael acordado e seus olhos cheios de raiva.

- QUE PORRA! ME TIRA DAQUI AGORA! - ele grita, e me olhar com raiva. Mas ao olhar para mãe e a irmã ele se acalma.

- Querido, o que está acontecendo? - dona Rosa vai até ele.

- Quero ir embora, o que estou fazendo aqui? - ele pergunta, com o mesmo tom arrogante que tinha.

- Quero a porra de uma alta! - ele grita mais alto, e olha para mim – Está olhando o que?! - ele diz a mim.

- Mikael!! - Lina reprende o irmão.

- Vou chamar o médico - digo, saindo do quarto.

Saio do quarto, e volto a respirar novamente. Procuro o médico me hospital inteiro, e quando ele finalmente vem ao quarto, eu fico apreensiva.

- Como se sente, senhor Santiago? - o médico pergunta.

- Doutor, me desculpa. Mas Mikael foi atingido perto do peito, não no cérebro - Lina diz, com raiva. Ela não gostava de ver Mikael daquele jeito, arrogante e impiedoso. Mas, seria passageiro, precisava ser.

- Me deixe ver os remédios - o mesmo diz, pegando a prancheta. Seu olhar fica furioso e, fico olhando para Mikael – Deram o remédio errado! Esse remédio são para pacientes do trauma!

- Me desculpe, doutor - a enfermeira diz.

- Me desculpem, mas são internos de enfermagem.

- Manda essa, mulher para fora daqui! Ela fica me olhando, e isso está me deixando irritado! - ele grita comigo. E me retraio até a porta.

- Maria... - Lina tenta falar comigo, mas eu apenas abro a porta e saio.

Eu não queria ficar ali mesmo, não queria ver aqueles olhos sem brilho, ele sendo arrogante com as pessoas. Espero que passe logo, e, espero que ele fique bem logo. Para que possamos conversar, ou apenas decidir o que fazer de nossas vidas, de nós...

Porque ir... Se Pode FicarWhere stories live. Discover now