6- Abram as cortinas do teatro

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Quando acabou o intervalo eu me arrastei até um pequeno auditório onde teria aula de teatro, aquilo sempre era um verdadeiro suplício para mim. Não me levem a mal, eu admirava muito o teatro, mas as aulas da professora Alba geralmente envolviam a dramatização de algumas histórias escritas por ela, histórias essas que tinham tanto açúcar que deveriam ser proibidas para diabéticos. Escapar dessas dramatizações era desgastante e difícil, e eu e minha timidez não apreciávamos ter tanto destaque em cima de um palco. Aquelas aulas eram as preferidas de Ângela, minha irmã sempre fora a diva das apresentações organizadas pela professora Alba. Para completar eu sempre fazia aquela aula sem a Lívia, então não tinha ninguém para conversar, mas agora isso não importava mais, já que ela não falava mais comigo.

Entrei na sala da professora Alba sem entusiasmo. Logo ela começou a tagarelar sobre a beleza do teatro e suas facetas encantadoras. Ela nos colocou em um círculo, e para meu azar fiquei de frente para o Tyler. Os seus olhos me fulminavam, ele estava zangado, não restava dúvidas. Não podia retribuir nenhum olhar, aquelas pedras jade pareciam estar tentando me queimar! Fiquei de cabeça baixa escutando o sangue pulsar acelerado em minhas têmporas e queimar meu rosto, meu coração batia alto, será que alguém está escutando seu escândalo? Um, dois, três, quatro, acalme-se idiota, é só um garoto!

Eu foquei minha visão na Sr. Alba e seu vestido vermelho rodado, não olhar para o Tyler me ajudava a ficar mais calma. Depois de algum tempo notei que em algumas cadeiras de distância de mim estava a Ângela. Ela usava uma camiseta verde escuro que tinha um laço de amarrar na cintura, estava de calça jeans preta e seus cabelos estavam soltos, uma cascata de cachos muito bem arrumados. Minha irmã parecia mais calma, pelo menos não me olhava em momento algum e quando o fazia tinha a expressão um pouco mais neutra, isso era bom, talvez Luísa estivesse certa, tudo iria se ajeitar e ficar bem. A voz cantada da Sr. Alba me tirou dos meus pensamentos.

_Tyler, diante das características que expliquei que são fundamentais que uma cena de amor possua, e também das ações que o cavalheiro deve adotar para torna-la mais real, será que poderia fazer uma pequena encenação rápida diante da sala de aula?

Isso já era quase de praxe, a nossa professora de teatro parecia não ser cega diante da beleza do meu companheiro de classe. A verdade era que sempre que ela organizava um teatro tentava recrutar o Tyler como seu galã, este sempre se recusava, ajudava na organização da peça por vezes, ele parecia não amar muito os palcos assim como eu. As recusas dele não pareciam intimidar Sr. Alba, ela sempre fazia um novo convite, parecia se agarrar a ideia de ter sua estrela Ângela atuando ao lado dele.

_Não sou assim um exímio ator, mas se a senhora pede! _a voz potente do Tyler respondeu despreocupado.

Que estranho... ele nunca havia aceitado participar, na verdade o seu amigo Justin que as vezes aceitava fazer uma ou outra peça pela insistência da Sr. Alba, o Tyler nunca deu uma resposta que não fosse negativa. A Sra. Alba estava quase se balançando de um pé para o outro de entusiasmo, ela deve ter pensado que agora encontrara o galã máximo para suas direções.

_Esplêndido _os olhos da professora brilhavam _Ângela querida! _ela gesticulou para minha irmã que sorria de orelha a orelha _espero que você tenha decorado o texto da peça que mandei vocês lerem na última prova que fizemos. _ela piscou para Ângela de maneira cúmplice _hoje você e o Sr. Metz irão dar uma amostra de atuação para nossa pequena turma!

Ângela se levantou em um salto, ela passava as mãos nos cabelos como se quisesse os arrumar, mas a verdade era que eles já estavam perfeitos.

_Sr. Alba _Tyler tinha um sorriso travesso no rosto _a verdade é que eu acharia interessante dar a chance para outra pessoa fazer essa demonstração de atuação _ele disse com veemência _nada contra as atuações da Ângela, mas é sempre ela a única a se envolver como protagonista das peças, será que hoje, assim como eu, não há alguém que queira se arriscar pela primeira vez em uma atuação?

A Ordem Da LuaOnde as histórias ganham vida. Descobre agora