72- Julgamento

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Eu realmente queria poder dizer que aquele dia amanhecera da mesma forma que todos os outros, seria maravilhoso me dar a esse luxo, com toda certeza isso poderia de certa forma amenizar o bolo que se intensificava em minha garganta, pois se esse fosse apenas mais um dia comum não haveria motivos para temer, certo? Mais a verdade era que aquele não era um dia qualquer, penso que nem era preciso ser uma feiticeira, mística ou guardião para se dar conta disso, até os pequenos pássaros da floresta pareciam perceber que algo estava terrivelmente errado. Os pequenos seres alados que sempre pavoneavam e faziam festa nos galhos da floreta naquela manhã se calaram, pareciam reclusos em seus ninhos, se fossem um pouco mais racionais de certo fariam uma prece silenciosa, para que o mal que espreitava nosso mundo continuasse preso em sua prisão feita de sacrifícios e sofrimento de inocentes.

Os primeiros raios de sol brincavam no horizonte ameaçando romper a escuridão daquela noite, mas não foi aquela ameaça de raiar de sol que me acordou, desde muito cedo eu estava rolando na cama, eu não conseguia desligar meu corpo e me entregar a um sono profundo. Mestre Charlie havia nos dito que não havia necessidade de acordamos muito cedo, o melhor a se fazer era descansar o máximo possível, afinal de contas tudo que poderíamos fazer para nos preparar para o que estava por vir já havia sido feito. Meus amigos haviam conseguido dormir feito pedras, eu estava feliz por isso, pelo menos eles estavam conseguindo descansar.

A cada segundo que se passava o ar parecia ficar mais pesado, havia uma energia se formando pouco a pouco, ameaçando roubar a paz que reinava em nosso mundo, essa força se assomava a aura da lua azul que já deveria interferir na energia de todos os mundos. Era engraçado, eu nunca havia me sentindo inclusa no mundo humano ou em minha família, mas também nunca havia me sentindo muito atraída por contos de fadas onde havia monstros e princesas, não, essas histórias eram mais a cara da Ângela que sempre se sentira a própria princesa presa na torre. Mas agora, dentro daquele quarto, cercada de forças que mesmo com toda a instrução que consegui absorver neste ano ainda eram estranhas a mim, eu me sentia sufocada, uma princesa na torre, cercada por monstros, monstros esses que eu não poderia esperar que fossem eliminados por um príncipe errante, eu precisava ser uma algoz desses monstros, isso se eu quisesse sobreviver, isso que se eu quisesse que todos os meus amigos sobrevivessem.

De repente me senti mais paranoica do que já havia me sentido em toda a minha vida, me pus sentada em um movimento rápido, eu estava sufocando, não conseguia respirar. Minha mão por reflexo tocou o meu colo, mas o que a minha mão procurava não estava ali. Charlie havia feito nós devolvermos nossos medalhões junto com as fadas impostoras, os medalhões tinham uma força vibrante que poderia ser rastreada pela Ordem arruinando nosso disfarce, então Petúnia, Lia, Cora e Dolores haviam levado nossos medalhões, e só não precisaram levar nossas armas pois Peter havia dado a ideia de Charlie dizer a eles que Morgue havia as roubado, os guardas da cidadela haviam comprado a história, visto que contrabandistas não possuíam uma reputação muito boa. O medalhão não era apenas um suporte para canalizar meus poderes e estabelecer um vínculo com a Ordem, o medalhão era uma pequena fagulha da presença da minha mãe em minha vida, sem ele eu me sentia... desnuda. A minha garganta pareceu trancar ainda mais, eu fazia força para respirar mas o ar não tocava meus pulmões.

Quando mãos firmes apertaram meus ombros eu teria gritado de susto caso eu conseguisse, mas a única coisa que fiz foi virar meu rosto assustada e encarar quem havia se aproximado.

Ele me olhava com seus olhos verdes tingidos de preocupação, o seu cabelo estava bagunçado, em seu rosto haviam marcas profundas que o travesseiro havia deixado devido ao seu abandono ao dormir. Tyler pôs uma mão em minhas costas e passou a esfregá-la de maneira delicada, como que para ajudar o ar a correr pelos meus pulmões. Meu amigo olhou em meus olhos de maneira terna.

A Ordem Da LuaOnde as histórias ganham vida. Descobre agora