2- Minha Vida Extraordinária Sem Nada De Extraordinário

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1 ano de guardião antes.... 1 mês humano antes...

É realmente incrível como o ser humano tem a capacidade de se prender a uma rotina: estudar, trabalhar, comer e dormir. Quase sempre quando chega o fim de semana pensamos: "Bem hoje vou sair da rotina", mas o que ninguém parece se dar conta é que já estamos condicionados a pensar que no final de semana é dia de se fazer uma programação diferente, isso faz com que já seja de rotina que no final de semana nos comportemos de forma diferente, assim não fugimos da rotina, somente fazemos com que naquele dia ela seja mais interessante. O fato é que condicionadas ou não pela rotina a vida de algumas pessoas são bem mais interessantes que a de outras, não sei se isso tem a ver com algum tipo de mérito que essas pessoas possam ter tido para deixar a vida delas assim, e para falar a verdade não tenho como saber isso, somente uma pessoa que faça parte desse círculo de vidas interessantes pode nos contar os segredos de como conseguiu esse feito, e cá entre nós, meu nome não aparece de forma alguma nesse rol.

Como em todas as manhãs eu me levantei da cama sonolenta, contei os azulejos do banheiro enquanto tomava um banho e escovava os dentes, ao que parece havia a mesma quantidade deles, e após pentear os cabelos e me vestir para a escola fitei a mesma figura pálida no espelho. Ela me encarou de volta com grandes olhos azul marinhos, cabelos longos prateados estavam presos em um rabo de cavalo, mas alguns fios teimosos cismavam em permanecer fora do penteado. Ela não estava nada impressionante vestida com uma camiseta azul sem graça, calça jeans simples e tênis surrado. Torci o nariz para as olheiras escuras em volta dos meus olhos, pensei acusadoramente no exemplar de Orgulho e Preconceito no meu criado mudo... decididamente ler até quase de madrugada não era uma terapia de beleza.

Que se dane, pensei comigo mesma, não era como se aparência fosse algo em que eu me concentrasse. Eu deixava isso para Laura e Ângela... os ataques de histeria também. Peguei minha mochila e saí do quarto a passos largos em direção a sala de jantar para tomar café da manhã em família, exigência da nossa mãe.

Susan Halle, era uma mulher e tanto. Assumira os negócios do nosso pai em sua rede de móveis, e decididamente realizava um bom trabalho na Móveis Lux, a grande e confortável casa que tínhamos e nosso padrão de vida no mínimo privilegiado era prova disso. Deixando minha mochila aos pés da escada fui me sentar à mesa para o café.

Minha mãe já estava sentada junto a elegante mesa de mogno, estava muito bem vestida, usava um vestido social cinza, sapatos pretos, um relógio de correia fina de prata, um colar delicado em predaria negra e o cabelo preso em um coque no alto da cabeça. Me sentei ao mesmo tempo que a dei bom dia, ela em sua voz suave respondeu:

_ Bom dia querida, pelo menos você respeita os horários dessa casa, não posso dizer o mesmo das suas irmãs! _ ela desviou o olhar do jornal que estava lendo ao falar comigo. Eu simplesmente sorri, não era novidade que pontualidade não era o forte das minhas irmãs.

_Bom dia galerinha! Dormiram bem? _ Luísa se sentou à mesa, estava usando uma calça preta de couro, uma bota sem salto de cano curto, e uma blusa branca solta com uma boca enorme mostrando a língua, o cabelo castanho escuro liso estava solto, cortado no ombro em um corte totalmente repicado, e ela havia feito um uma maquiagem muito escura, com lápis de olho, delineador e rímel em excesso. Para completar o visual um batom lilás, Laura sempre dizia que em contraste com sua pele clara aquela maquiagem a fazia parecer uma defunta. Ela não ligava para isso, ela fazia o papel da menina rebelde da família, minha mãe não se cansava em dizer que aquilo era apenas uma fase. Fase ou não, Luísa era a mais agradável das minhas três irmãs.

_ Isso é jeito de se vestir para a aula? _Nossa mãe largou seu jornal e avaliou Luísa de lábios franzidos.

_E isso é jeito de responder um bom dia dona Susan? _ era isso o que eu mais gostava na Luísa, ela não se importava com o que pensavam dela.

A Ordem Da LuaOnde as histórias ganham vida. Descobre agora